OS LAMENTOS DE UM VAQUEIRO VELHO...

OS LAMENTOS DE UM VAQUEIRO VELHO...

Sou um sertanejo nato

Criei-me dentro do mato

Meu pé nunca usou sapato

Minha roupa é de algodão

Quando estava arrumado

Para trabalhar com o gado

No meu cavalo selado

Chapéu de couro e gibão

Com espora luva e botina

Embrenhava-me na campina

Baixada morro e colina

Caatinga mata ou cerrado

Meu cavalo tinha trato

Comigo não era ingrato

Correndo atrás de um "boiato"

Trazia o bicho amarrado

Ferramentas de trabalho

Careta corda e chocalho

E pra cortar algum galho

Também levava o facão

Na poeira ou no sol quente

Jamais ficava doente

Nunca encontrei boi valente

Que eu não pegasse de mão

A doença e a idade

Trouxeram-me pra cidade

Vivo sentindo saudade

Na maior desolação

Hoje estou confinado

Sinto-me aprisionado

Nas lembranças do passado

Que vivi lá no sertão

A minha tristeza é tanta

Que dá um nó na garganta

E até me desencanta

Sem ter mais felicidade

Ninguém me dar mais apoio

Já fui trigo hoje sou joio

Mas, ainda dou um aboio

Pra matar minha saudade

Êêêêêêêêêêêê gado manso

Ê gado ôôôi.

CARLOS AIRES, 30/09/2008

Carlos Aires
Enviado por Carlos Aires em 30/09/2008
Reeditado em 30/09/2008
Código do texto: T1203716
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