EITA SAUDADE DANADA

No teatro de boneco

Eu ficava admirado

O bandido e o soldado

O ateu e o padreco

Tudo na voz de seu Neco

Um caboclo instruído

Sem entretanto ter lido

E sem ter cursado nada

Eita saudade danada

do lugar que fui nascido

Na rua do Carretel

Dedé corda fabricava

Dona Nevinha quengava

Era fabrico e bordel

E eu menino fiel

Nesse mundo colorido

Ficava todo influído

Com a corda e a manada

Eita saudade danada

do lugar que fui nascido

Comer um sarapatel

Na feira do bacurau

Sorver dindin com nescau

Na Rua do Carretel

Ver o fabrico de mel

Do abelhal confrangido

Fazer-me apetecido

Por uma grande noitada

Eita saudade danada

Do lugar que fui nascido

Buscar logo um formigueiro

Para pegar tanajura

À noite ouvir a jura

De um índio barraqueiro

Nossa farra sem dinheiro

Deixava o índio ofendido

Mas depois já distraído

Entrava na mentirada

Eita saudade danada

Do lugar que fui nascido

Ouvir Galego aboiar

Tangendo o boi na estrada

Tomar uma garrafada

Para o verme destronar

Ver Xudu improvisar

Depois de "abastecido"

Ouvir do povo o alarido

Na primeira invernada

Eita saudade danada

Do lugar que fui nascido

Mote: Poeta Hilário

Glosa: Sander Lee