A DOR QUE A ALMA SENTE

Vem do êxodo rural

No campo a desestrutura

Tristeza, muita agrura,

Migração pra capital

E na sorte desigual

Vai virando indigente

Essa tão sofrida gente

Expulsa da sua mata

Todo olhar triste retrata,

A dor que a alma sente.

O Sindicato Rural

Defende o trabalhador

Do patrão explorador

Minimizando o mal

Na cidade, o maioral

É bruto e inclemente

Ninguém detém o indecente

Que ao pequeno maltrata

Todo olhar triste retrata,

A dor que a alma sente!

Como poderei sorrir

Quando vejo nosso irmão

Pobre e sem direção

Sem ter para onde ir

A família a desnutrir

De educação se ressente

Sua dor é procedente

E todo dia o maltrata

Todo olhar triste retrata,

A dor que a alma sente!

Ver criança abandonada

Meu coração não aguenta

A minha alma lamenta

O cenário da calçada

Sem lar, sem pão e sem nada

Assim vive o inocente

Enquanto maléfica gente

Tira proveito e destrata

Todo olhar triste retrata,

A dor que a alma sente!

Deus deixou foi com fartura

A terra pro ser vivente

Passarinho, gado e gente

Vivendo da agricultura

Todos com sua cultura

Comendo decentemente

Vem o grileiro inclemente

Rouba tudo, açoita e mata

Todo olhar triste retrata,

A dor que a alma sente!

Acredito no trabalho

E louvo a educação

Que dá orientação

Pra evitar o baralho

Que nos joga no borralho...

Mas afirmo veemente

Que tenho pena da gente

Que vive chutando lata

Todo olhar triste retrata,

A dor que a alma sente!

É triste ver o olhar

De quem vive excluído

E dos bens destituído

Sem ter nada para dar

A família pra almoçar...

Olhar sombrio, doente,

E a Nação incompetente

Corrobora a separata

Todo olhar triste retrata,

A dor que a alma sente

Hoje à noite irão dormir

Milhares de criaturas

Repletas de amarguras

Nas calçadas, sem sentir

Confiança no porvir

Sem ter quem lhes represente

Mas o burguês inclemente

Ter ar de aristocrata

Todo olhar triste retrata,

A dor que a alma sente

E não me venham dizer

Que o povo é preguiçoso

Quem pesquisa é cioso

Do cuidado e do dever

Que a nação deve ter

Com toda essa pobre gente

Expulsa do ambiente

Pela elite plutocrata

Todo olhar triste retrata,

A dor que a alma sente

Um indigente faz pena

Na porta dum hospital

Tratado como animal

E quase ninguém condena

Nem quer assistir à cena

De uma dor afligente

Lamentável, comovente

Que entristece e maltrata

Todo olhar triste retrata,

A dor que a alma sente!!!

Tema: Poeta Saulo

Glosa: Sander Lee