A PORTA MAIS LAIGA DO MUNDO
A PORTA MAIS LAIGA DO MUNDO
LITERATURA DE CORDEL
Autor: Bob Motta
NATAL-RN
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Um hôme paro na porta,
de um pequenino bar.
Tirô do bolso uma iscala,
e se pois a istirá.
Cum a iscala istirada,
midiu a porta da entrada,
muntas vêiz, de lá prá cá.
Uis pôvo paro prá oiá,
aquela situação.
E o hôme, a midí a porta,
ripitia a operação.
Inté qui êle parando,
na certa, se contentando,
terminô a midição.
Se virando p’ro povão,
falô: Triste sina, a minha.
Essa porta tão istreita,
e assim, tão apertadinha;
num é a porta do céu,
mais d’um imbiente cruel,
qui levô tudo o qui eu tinha.
Aí passô meu dinhêro,
passô o pão duis meus fio,
minha casa cum o terreno,
passô todos uis meus brio.
Passô o meu artomóve,
passô todos uis meus móve,
e meus cubertô de frio.
Passô a minha saúde,
passô minha mocidade,
passô toda a isperança,
da minha ispôsa, in verdade.
Aqui, pru êsse portá,
tombém passo o meu lá,
e a minha felicidade.
Aqui uis farsos amigo,
ficaro vendo eu passá,
ficaro do lado de fora,
assistindo eu entrá.
Assistiro eu munto môço,
chegá no fundo do pôço,
e in sua lama, afundá.
Isso leva a cuncruí,
cum pesá munto profundo,
qui o qui se ganha numa vida,
se perde aqui, num sigundo.
O aiculirmo num cunforta,
pois êle pissui a porta,
qui é a mais láiga do mundo...
Poema escrito em 2002, quando completei 10 (dez) anos de sobriedade, no AA; após ter me libertado de um alcoolismo de 30 anos, seis meses e dezessete dias, bebendo prá dormir e acordando prá beber. Este ano, se Deus assim o permitir, dia 12 de dezembro próximo vindouro, estarei completando 16 (dezesseis) anos de sobriedade, sem ingerir uma única gota de álcool, sob qualquer forma. E gostaria de passar prá você, querido leitor (a), a minha experiência, para servir de exemplo...
Bob Motta
NATAL-RN
29 JUN 2008