UM SÃO JOÃO DE ANTIGAMENTE

UM SÃO JOÃO DE ANTIGAMENTE

LITERATURA DE CORDEL

Autor: Bob Motta

NATAL-RN

2008

Ai, ai, meu Deus, qui sodade,

daqueles São João de ôtróra,

daquelas festa animada,

qui num me sai da memóra.

Eu ainda mulecote,

iscundido atráis dum pote,

cum medo duis fuguetão;

vendo uis pôvo divirtido,

oiando o céu colorido,

infeitado de balão.

Só o tá do traque de chumbo,

era o fogo qui eu sortava.

Mode qui uis mais pirigoso,

minha mãe nunca dêxava.

Quando munto, era istrêlinha,

mais raramente cobrinha,

ô ispanta coió fraquíin;

rapaizíin eu fui ficando,

fui o pescoço, ingrossando,

sem querê mais chuvêríin.

Já era peido de véia,

qui à vontade eu sortava.

Buscapé, bomba, fuguête,

aí eu me deleitava.

Vurcão, bomba de parêde,

sortava perto dais rêde,

adonde uis pião drumia;

e quanto mais uis coitado,

ficava brabo, zangado,

aí era qui eu surria.

No páito da casa grande,

nóis sortava buscapé.

Era curriria e grito,

de minino, hôme e muié.

Uis cabra puros iscuro,

nais cêica ô canto de muro,

sarrando num puxa e incói;

imprensava ais cavalêra,

e aí; pegue madêra,

pru detráis duis avelói.

Era tiro de ronquêra,

bomba imbaixo de pinico,

quentão, cêiveja e cachaça,

era inóime, o agito.

O fole véio de oito baixo,

jamais sussegava o facho,

e uis vistido de xita;

amostrava a foimusura,

dais cabôca, a belezura,

cum uis lindo laço de fita.

Era pamonha e cangica,

a mesa era uma fartura.

Quaiáda, rapa de quêjo,

quentão, quêjo e rapadura.

Xerém, manguzá, quarenta,

chêro gostoso nais venta,

de tanta cumiduria;

e uis cabra inchia a pança,

da cumida ia prá dança,

inté o nascê do dia.

Tinha míi cunzinhado,

e nuis aipende dais casa,

ais lanterna, ais bandêrinha,

o quêjo assando na brasa.

A gente se divirtindo,

uma ruma de véio mintindo,

sobre o tempo qui era nôvo;

e no mêi da murtidão,

uis grito: Viva São João,

era a alegria duis pôvo.

Era só divertimento,

e hoje é só rescordação,

daquelas festa animada,

dais antiga tradição.

É dêsse São João de ôtróra,

qui a sodade me devora,

pois hoje na realidade;

a tá grobalização,

tá matando ais tradição,

e a nossa identidade...

Bob Motta

NATAL-RN

23.JUN.2008

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 27/06/2008
Código do texto: T1054226
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.