Dias Contados
Dias Contados Ou Instruções para a identificação do número de dias dos doze meses do ano utilizando o punho cerrado da mão esquerda e o dedo Indicador da mão direita como instrumentos aferidores. Versão para destros.(*1)
(Uma humilde homenagem ao grande mestre Julio Cortázar.)
Muitas vezes em nossas vidas corporativas precisamos saber quantos dias tem determinado mês e a informação não nos vem a memória. Este método foi formulado para acessar rapidamente estas informações. Exposto numa linguagem simples e detalhada para que não haja nenhuma dúvida e indesejáveis dúbias interpretações e confusões que só agravariam ainda mais a situação de quem já está complicado o suficiente por não saber a data correta do preenchimento do cheque prédatado.
O cálculo, por assim dizer, se inicia com a formatação do instrumento
de contagem obtido através da retração dos dedos da mão esquerda
configurados na postura popularmente conhecida como punho cerrado. Após, repousa-se a ponta do dedo Indicador da mão direita também conhecido como Fura Bolo (*2), sobre a proeminência que a postura manual acima descrita gera na articulação da falange do dedo Indicador da mão esquerda no ponto de junção deste mesmo dedo com a palma da mesma mão.
Este ponto é ortodoxamente convencionado representar o mês de Janeiro com os seus 31 dias.
A seguir desliza-se leve e suavemente para a esquerda a ponta do dedo Indicador da mão direita até que este estacione na depressão existente entre as proeminências articulatórias das junções das falanges do dedo Indicador da mão esquerda e do dedo Pai de Todos desta mesma mão. Este ponto é convencionado representar o mês subsequente a Janeiro, ou seja, Fevereiro, tento 28 dias, salvo anos bissextos quando terá 29 dias.
Observe o padrão lógico que se estabelece já a partir destas duas
posições, apresentando grandezas diretamente proporcionais: o mês com quantidade maior de dias fica relacionado com a convexidade da
protuberância e o mês com menor quantidade de dias fica referenciado com a concavidade da depressão. Observe também a ideologia machista vigente refletindo-se de maneira não muito subliminar ao relacionar os meses com mais dias a protuberâncias e os meses com menos dias a concavidades...
Encaminhando o nosso dedo orientador na direção do cume da
proeminência articulatória do dedo Pai de Todos da mão esquerda nos
será revelado a quantidade de dias do mês de Março: 31 dias.
Seguindo, sempre a esquerda, agora descendo a ladeira, logo estaremos com a nossa ponta de dedo leitor cursiva repousada na depressão situada entre o dedo Pai de Todos e o dedo Seu Vizinho. Este ponto definirá a quantidade de dias do quarto mês. Sendo assim Abril sempre terá 30 dias.
Continuando a jornada escalando a protuberância do dedo Seu Vizinho
alcançaremos o entendimento de que esta quinta posição é relacionada ao mês de Maio e que pelo simples fato de estar sobre uma protuberância terá o maior número de dias que um mês poderia ousar chegar a ter: 31 dias.
Descendo a inclinação subsequente que se apresenta à esquerda,
alcançamos outro vale. O vale do mês de Junho identificado com 30 dias pelo fato simples e reincidencial de estar situado numa depressão.
A seguir uma nova e pequena escalada nos levará a pequena
protuberância do dedo Mindinho que muito embora seja o menor de todos os dedos e, consequentemente, gere a menor das protuberâncias, reservará ao Hemisfério Sul longas 31 noites e curtos 31 dias para o mês de Julho.
Neste ponto da jornada acontece uma anomalia na trajetória lógíca da
contagem. Abruptamente os dedos se acabam antes do fim do ano,
deixando-nos ainda com 5 meses para contar! A tranquila e segura
sucessão de vales e montanhas desemboca num vazio abismal!
Neste momento de ruptura e perplexidade sempre convém manter a calma e algum vínculo com o padrão lógico anterior.
De nada adianta sair atabalhoadamente procurando significado nas
linhas da palma da mão! O desafio é sempre enriquecedor! E logo uma
inspiradora idéia nos chegará. A idéia do ciclo... Sim! O ciclo dos
eventos que se sucedem! O eterno reinício...
Neste momento damos o salto quântico rompendo com quase todos os padrões. O Salto no Inconcebível! Não mais com o pé (dedo Indicador da mão direita) no chão (serrilha das articulações dos dedos da mão esquerda) e sim voando na direção oposta ao abismo! Saltando direto do panorama niilista apresentado pela protuberância do dedo Mindinho à segurança do marco zero reinicial nos altos do dedo Indicador.(*3)
Observem que o nossa "solução quântica" nos apresentou um novo quadro. A linearidade se espiralando. O mesmo ponto relacionado no passado ao mês de Janeiro sendo utilizado multidimensionalmente ao identificar, agora, o mês de Agosto.
Reestruturados, seguimos a jornada...
Este ponto de retorno será identificado com o mês de Agosto, e, como já foi dito anteriormente, por estar situado nos píncaros de uma
protuberância, terá 31 dias.
Por entre flores descemos o vale que ilumina os 30 dias de um
primaveril Setembro.
Novamente subimos a montanha do Pai de Todos para nos ser revelado os 31 dias de todos os Outubros.
O último vale desta caminhada apresenta Novembro com 30 dias.
E finalmente, chegando ao 31 de Dezembro, culminamos o ano nas alturas da protuberância do dedo Seu Vizinho.
Definido o número de dias de cada mês do ano, encerra-se o cálculo neste exato momento.
Agora respirando fundo, e descontraindo as mãos deixamos todos os
dedos envolvidos no processo: atuantes, coadjuvantes e observadores, livres para furarem bolos e realizarem todas as demais atividades datilo-laborativas-lúdico-existenciais.
E por falar em observadores, não poderia deixar de tecer alguns
comentários em relação àqueles que sempre instigantemente me vêm à lembrança: Os polegares matadores de piolhos!
Estes são sem sombra de dúvidas os dedos mais "curtos e grossos" da
mão. Semiopondo-se aos demais. Me parece que se lhes fosse possível escolher onde se fixar, viveriam num eixo diferenciado dos demais dedos; crescendo nas palmas ou costas das mãos.
Ultra especializados em certas funções e totalmente inoperantes, (ou
seria não interessados?) em outras.
Exímios medidores espaciais, parecem poucos interessados em
procedimentos de medição temporal.
Os polegares são rebeldes radicais! Afirmam ou negam sem meio termos!
Os polegares são únicos e portanto insondáveis...
Steve Johnson de Almeida.
(*1) Não aconselhamos a tentativa de obtenção da versão para canhotos deste método atráves da leitura deste texto num espelho.
(*2) A expressão "Após repousa-se a ponta do dedo indicador da mão
direita, também conhecido como Fura Bolo" de maneira alguma afirma que tão somente o polegar da mão direita tem esta referência e habilidade.
Para não dar margem a interpretações precipitadas e futuramente
sermos acusados de estar sendo segregacionistas ao excluir o indicador da mão esquerda de suas capacidades perfurativo culinárias.
Disponibilizamos aqui uma versão alternativa desta frase para que não
haja nenhuma sombra de dúvida do nosso acurado senso de isonomia e de justiça:
"Após repousa-se a ponta do dedo indicador da mão direita, reconhecido tão igualmente quanto o seu nobre e valoroso companheiro análogo dedo Indicador da mão esquerda, como hábeis Furadores de Bolos".
Esta versão alternativa não foi publicada no texto original pelo simples fato de que se tornaria extremamente antididático, dispersivo
e contraproducente ficar ressaltando as habilidades "perfurativas de
guloseimas" destes dedos, na medida que de maneira alguma estas
habilidades estão relacionadas as funções necessárias ao desenvolvimento pleno do cálculo descrito nesta instrução. A saber: O dedo indicador da mão direita tão somente funcionando como cursor orientador de leitura e o dedo indicador da mão esquerda humildemente encolhido junto com seus companheiros de mão na tarefa básica de configurar o punho cerrado e concomitantemente exercendo uma multiplicidade de não menos nobres funções, tais quais servir de marco zero da contagem, suporte do ponto referencial para os meses de janeiro e agosto e ponto de restabelecimento da trajetória contábil pós salto quântico, entre outros... Retome a leitura lá em cima que em breve você entenderá o que foi aqui recentemente dito.
(*3)
"As in death you can climb
Higher thru the sky
Show your wings
Surely you can fly"
Fist of Fire - Jon Elroy Anderson