Infância

-Entrem.

-Boa tarde doutora. Essa é Elisa, a menina de que falei ontem.

-Sim, sim, mas sentem. Olá Elisa, como vai?

-Oi Tia...

-Luiza, Tia Luiza. Completou a médica com um sorriso nos lábios. A sua Tia Ana me contou que você é a menina mais esperta do orfanato. E tem apenas cinco anos, é verdade?

-A Tia disse isso? Os olhos da menina brilharam. Eu sou sim. Minha mamãe sempre dizia isso.

-Como se chama sua mãe?

-Não me lembro, não senhora. Só lembro que ela gostava muito de mim. Um dia me deu uma boneca Xuxa enorme.

-Verdade? Então sua mãe devia gostar muito de você.

-Ah, gostava sim. Ela sempre disse que eu era a mocinha da casa.

-Você ajudava sua mãe nas tarefas?

-Claro. Eu cuidava da minha irmãzinha para a mamãe trabalhar.

-E sua irmãzinha dava muito trabalho?

-Não, era boazinha. Só quando tava doente. Aí ficava chorando no berço.

-Ela não dizia o que doía? A menina deu uma risada que ecoou pela sala.

-Ela não falava Tia, era bebe. Não andava, não falava e fazia coco na fralda.

-Ah, bom. E você trocava a fralda dela?

-Claro que sim. Eu aprendi com minha mamãe.

-Onde está sua irmãzinha agora?

-No céu. Ela morreu de doença.

-Que tipo de doença?

-Ninguém sabe Tia. Ela tava gripada. Minha mamãe deixou remedinho pra eu dar pra ela. Eu dei, mas não adiantou. Ela dormiu e não acordou mais.

-Assim? Morreu dormindo? Ninguém percebeu?

-Claro que percebi Tia, não sou boba. Ela chorou e eu dei remédio pra passar a dor. Mas não adiantou, ela chorou uma porção de vezes e eu dava o remédio pra ela parar de chorar, mas ela dormiu e não acordou mais. Depois aquela droga de juíza me trouxe pra cá. Acho que pensou que eu não cuidei dela.

-E você cuidou?

-Claro. Mas o remédio acabou...

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