*A guerra do futebol

A Guerra do futebol

De todas as estupidezes do homem, a guerra é, de sobra, a mais irracional. Dela brotam a fome, a instabilidade, a miséria, os saques, a peste e, obviamente a morte descontrolada. Os motivos das guerras, não raro advêm da ousadia das inconveniências e da invasão do direito do outro pelo argumento da força. Na guerra, quem primeiro morre é a verdade e daí em frente, vale tudo o que for ilícito.

A Guerra do Futebol foi um dos episódios mais heteróclitos que se possa imaginar. Se você não sabe o que diacho é heteróclito, avie-se, farei guerra contra você, pois as guerras são todas por motivos fúteis. Lembra-se da guerra USA x Iraque, originada de uma simples suposição irresponsável de George W. Bush?

Na verdade, o futebol foi apenas a centelha que detonou o estopim. Em 1969, já havia uma grande animosidade entre El Salvador e Honduras, dois países fronteiriços da América Central. El Salvador, país menor que o nosso estado de Sergipe, possuía uma população maior e potencial bélico superior a Honduras, que tinha um território cinco vezes maior, mas menos povoado.

Os fatos reais da guerra giravam em torno da invasão de trabalhadores rurais de El Salvador no território hondurenho, tudo por culpa da incerteza das linhas de fronteiras, mas com anuência de seu Presidente Gal. Fidel Sánchez Hernández, como também da elite latifundiária. Consta que outros três mil salvadorenhos trabalhavam em Honduras em empresas norte-americanas em plantações de frutos.

Os nervos estavam tremilicando, devido ao governo de Honduras, comandado por Oswaldo López Arellano, estar expulsando os intrusos, sob a alegação de que eles estavam tirando os empregos de seu povo. Para isso, empreendeu-se uma reforma agrária, que desapropriou invasores, muitos deles já com a vida refeita e casados com nativos. Voltaram com uma mão na frente e a outra tapando os fundos.

Ora, para azedar de vez a garapa, El Salvador e Honduras se encontraram frente a frente nas semifinais das eliminatórias da Copa do Mundo de 1970, no México, vencida pelo Brasil. No jogo de ida, realizado no dia 08 de junho/69, em Tegucigalpa, capital hondurenha, os donos da casa venceram de 1 x 0, numa partida tumultuada. Nas arquibancadas, torcedores rivais saíram no tapa, onde teve dedada no olho, rabo de arraia, chute na bunda e até assassinatos. Segundo foi largamente divulgado, a torcedora salvadorenha Amélia Bolaños, 18 anos, que assistia ao jogo em casa, angustiada com o resultado, cometeu suicídio com o revólver do pai. Esse fato exaltou sobremaneira a comoção nacional. A moça foi enterrada com honras de Estado no dia seguinte.

Sete dias depois (15/6/69), aconteceu o jogo de volta, em San Salvador. O clima era antropofágico, pior que entre filisteus e hebreus. Qualquer resultado em favor de El Salvador provocaria um jogo extra. Isso, por si só, já representava um perigo maior para os visitantes, acusados de insuflar a população no primeiro jogo e de serem os responsável direto pelos acontecimentos catastróficos. A concentração de baderneiros em frente ao hotel da seleção de Honduras transformou-se num inferno.

Curiosamente, os dois países têm bandeiras com o mesmo desenho e cores e as cores também são dispostas nas mesmas posições. Pois bem, as hostilidades chegaram ao ponto de hastearam um pano de chão sujo, em lugar da bandeira de Honduras no Estádio Cuscatlán. Tudo isso nas ventas dos delegados da FIFA e CONCACAF.

Em campo, El Salvador venceu por 3 x 0, provocando o terceiro jogo na Cidade do México, o qual El Salvador venceu novamente por 3 x 2, no dia 27 de junho.

Mesmo tendo se classificado para a Copa do Mundo, El Salvador não se deu por satisfeito. Sem saber o que fazer com o grande número de miseráveis repatriados, o governo ordenou que suas Forças Armadas invadissem, na manhã de 14 de julho, o território hondurenho, fato que ficou conhecido também como A Guerra Das Cem Horas. O cessar fogo aconteceu após quatro dias de escaramuças, com intermediação da OEA. Os números são contraditórios e, por isso, não confiáveis, mas se estima que 6.000 pessoas morreram, sendo a grande maioria de civis. Dizem também que não houve vencedor. Claro, todos perderam. Embora sem agressões formais, o estado beligerante durou por dez anos.

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Ato 2

Tem um jogo marcado entre Piauí E. Clube x Ceará S. Clube pela Copa do Nordeste. Este jogo nem poderia existir, pois foi armengado no tapetão. Sabe-se que será apenas uma brasa no estopim. Na outra ponta, existe um conflito de terras entre os dois estados que vem da época do Império.

A linha de limite na Serra da Ibiapaba, na região conhecida como Terra de Ninguém, vai de São Miguel do Tapuia a Cocal e mede 3.000 km2. Há, ainda, o fato suis generis de que políticos dos dois Estados disputam no tapa os votos dos moradores, que só são vistos a cada quatro anos. O Ceará diz que as terras nunca lhe pertenceram e o Piauí jura que se botaram pro seu lado foi fraude e que não está reivindicando direito algum. Cada estado empurra com a barriga ou como pode as terras para o lado do inimigo. Resumindo: brigam pra se livrar daquilo.

Entre os moradores, 27% não querem pertencer ao Piauí, 27% não desejam ficar com o Ceará, 6% dizem que quem ganhar, irá se arrepender pelo resta da vida; 2% não souberam responder, 3% querem comer mocó; 41% não querem pertencer a nenhum dos dois e desejam ser um país independente e 6% representam erro de pesquisa, que pode ser pra riba, pra baixo ou para o meio.

No meio dessa briga, surgiu como mediadora uma figura emblemática, didática carismática, pragmática, enfática e “embromática” que corre sérios riscos de ser interditada pela inconstância. Lena Lustosa, que se gaba de ser poetisa e escritora, nasceu em Goiás que virou Tocantins, que era Centro-Oeste e virou Norte, filiou-se ao Piauí na calada da noite e lá passou a pertencer ao corpo de magistrados.

De súbito e do nada, apareceu como Juíza de Direito de Chaval-CE. Trocou de um estado para o outro com a mesma facilidade com que ela troca de sapatos. Ninguém, até agora, sabe com quem ela falou para se meter onde não foi chamada.

Esse fato deixou embasbacados os mais ousados estrategistas de ficção e desagradou os dois lados litigantes. De insuspeita ela não tinha nada!

Dos torcedores, já se sabe que estão armados até os dentes. Vão sobrar cusparadas, dedo no olho e gritos de "tua mãe é pura" e que " teu pai é do forno".

Quero ver quem vai sobrar para contar a história.

São coisas da minha terra.

Ps. 

Por esses dias, o Estado do Piauí ganhou mais 200 hectares de terras na Chapada da Mantiqueira, nas nascentes do rio Parnaíba. Decisão do S.T.F. Produto de litígio com o Estado do Tocantins. Com isso, o mapa político-geográfico mudará em breve.

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Filosofia de botequim

Existem muitas formas de esconder a verdade e uma só de revelar