Alucinação em Primeira Pessoa

“O detalhe mais sublime e traiçoeiramente enganoso no teatro cotidiano é encenar nos tablados da vida a peça/espetáculo de Viver; pois, assovios, aplausos e apupos se misturam na estreita saída de emergência, liberando os protagonistas à alameda dos sorrisos escandalosos e prantos copiosos”.

O sofá velho, o qual serve-me de cama está úmido e fétido; o que leva-me a imaginar que no dia anterior, enquanto fazia as minhas correrias em busca de algo para abastecer o cachimbo e nele tragar a paz dos anjos celestiais, entupiram o lixão de restos de comida, embriões vencidos, poemas escritos e não lidos, montões de roedores crus, tábuas forradas com tapete vermelho perfazendo alamedas por onde asquerosas moscas varejeiras; pernilongos vampiros, vermes ululantes, escaravelhos oferecem-me aquilo que não fiz por merecer.

Cacarecos. Lixas. Vidros em cacos.

Catatrecos. Espinhos. Cactos.

O homem do lixo.

Neste espaço amorfo, onde exponho à escuridão dos cegos os meus anseios, animais e bichos desfilam suas elucubrações e armam as investidas. Tento dormir quando uma fralda imunda, passa voando sobre minha cabeça; impregnando minhas narinas com o olor dos dejetos humanos. Quando tais cenas acontecem, insistentemente, cobro-me, repudio-me, pergunto-me o que fiz por merecer essa porcaria de lixo. Zika virótica de chikungunya, porque não vai achatar a inteligência de quem o trouxe para o Brasil!

Completo em: © obvious: http://obviousmag.org/ministerio_das_letras/2016/02/alucinacao-em-primeira-pessoa-1.html#ixzz4yBAAhOXG

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Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 12/11/2017
Reeditado em 12/11/2017
Código do texto: T6169321
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