Alucinação em Primeira Pessoa
“O detalhe mais sublime e traiçoeiramente enganoso no teatro cotidiano é encenar nos tablados da vida a peça/espetáculo de Viver; pois, assovios, aplausos e apupos se misturam na estreita saída de emergência, liberando os protagonistas à alameda dos sorrisos escandalosos e prantos copiosos”.
O sofá velho, o qual serve-me de cama está úmido e fétido; o que leva-me a imaginar que no dia anterior, enquanto fazia as minhas correrias em busca de algo para abastecer o cachimbo e nele tragar a paz dos anjos celestiais, entupiram o lixão de restos de comida, embriões vencidos, poemas escritos e não lidos, montões de roedores crus, tábuas forradas com tapete vermelho perfazendo alamedas por onde asquerosas moscas varejeiras; pernilongos vampiros, vermes ululantes, escaravelhos oferecem-me aquilo que não fiz por merecer.
Cacarecos. Lixas. Vidros em cacos.
Catatrecos. Espinhos. Cactos.
O homem do lixo.
Neste espaço amorfo, onde exponho à escuridão dos cegos os meus anseios, animais e bichos desfilam suas elucubrações e armam as investidas. Tento dormir quando uma fralda imunda, passa voando sobre minha cabeça; impregnando minhas narinas com o olor dos dejetos humanos. Quando tais cenas acontecem, insistentemente, cobro-me, repudio-me, pergunto-me o que fiz por merecer essa porcaria de lixo. Zika virótica de chikungunya, porque não vai achatar a inteligência de quem o trouxe para o Brasil!
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