Apenas de minutos
É certo, daqui exatamente nove minutos e cinqüenta segundos enlouquecerei. Cronicamente cronometrado, certamente acertado ficarei louco. Uma relação tão certa para algo tão ilógico. Com isso, me guardo o direito de dizer o que uma pessoa antes de ficar louca diria. Acho que não houve tantos seres que sabiam exatamente quando ficariam loucos, que entrariam em seu universo de sorrisos sem motivos, dentro de um estágio inebriante, alucinógeno e livre. Estou livre! acalma-me, ainda não é uma permanência. O quero realmente dizer é que não mais satisfações terei que dar, talvez por isso ficarei louco, porém, por enquanto, por não ainda não estar neste transe atemporal, terei que inutilmente satisfazer meu desejo egoísta de dizer que preciso dizer a todos que precisam ouvir, o quanto enlouqueço antes de ficar realmente louco. Primeiro, antes de tudo, não sofram com minha transformação. Agora faltam oito minutos e quarenta e cinco segundos. Estarei bem quando estiver terminado este tempo. Não esquentem a cabeça ao me internarem, não diga que sempre fui um homem bom, responsável, vão me deixar mais louco ainda, se isso ainda for possível. Doida essa coisa de responsabilidade, dizer o quanto fui, o quanto fiz, fiz, fui, me tornei louco. Sim foi isso mesmo! De tanto ser, acabei na negação de não ser. Louco isso! Ocorreu um pensamento. Será que terei uma linguagem própria ao entrar pela porta que emana, se não cheiro de bananas fritas? Queria sim, bem que queria uma língua própria, com dizeres incodificáveis, talvez sonoramente primitivo. Imagine que legal, olharia no espelho e pronunciaria rade me ta si vem vem vem ica se me fa zi si si. Sílaba por sílaba, lentamente. Pode ser que esse exercício - se acontecer que fique bem claro - é para expulsar os últimos demônios que ainda insistem em ficarem presentes. Interessante, meus demônios são também primitivos, um som, o representaria, louco não é sofisticado, afinal nada o é, alguém o transforma em sofisticado. Um louco por aí, inventou este termo e os que querem, seguem a sofisticação iguais uns tontos, achando-se diferentes. Não são, se não os mais normais, querem sempre ser aceitos e inventam suas maneiras de sofisticar-se. Voltando ao assunto que nos interessa, me conhecendo bem, acho que vou falar palavras que todos estão cansados de ouvir, até mesmo por que meu vocabulário não é tão vasto assim e ninguém vai saber por que estou dizendo isso. Possível! vai ser bem dessa forma falatória, de palavras aleatórias e significados só meu. Poderiam gravar né, para eu assistir, mas não teria efeito algum, não saberia nem o que dizia, e nem o que faziam. Deixe quieto, não gravem, não filmem, e também não fiquem insistindo o que quer dizer com isso filho? O que está falando rapaz? tente dizer com mais calma? vou me irritar, sei que vou. Daí dirão que sou violento. Mas que vou falar muito vou. E se nada disso acontecer, ao invés de todos os sons eu me calar? Podem me internarem, realmente estarei louco. Quem sabe, no mínimo doente. É sinal de loucura não conseguir se calar? O que importa neste momento? Como posso prever tudo isto? Meu caro, minha cara, a tua pergunta não deveria ser esta acerca das minhas previsões, deveria ser: mas como sabe que irá enlouquecer? Sete minutos exatos. Estava sendo engraçado até agora. Se não me fiz perceber, me perdoem, mas me deu uma tristeza agora. Será que já sou louco, fico feliz e triste ao mesmo tempo? O tempo não estava certo? Sofro por antecipação? Será que estou fazendo isso agora, sofrendo por antecipação? E se estou é importante saber o que se faz antes de saber o que realmente está fazendo: sofrer. Ai MEU DEUS! ( leia pausadamente, por favor) AI... MEU DEUS Não posso ficar louco antes de enlouquecer, preciso deixar claramente escrito o procedimento a ser cumprindo depois de endoidar. Esse número mexe comigo. Me faz ver as coisas de forma mais séria, por isso a tristeza. Claro que sim, seriedade é tristeza. Não me venha com essa que ser sério não implica ser triste. O tempo me falta para explicar, se fosse antes, teria mais tempo. Gozado, sempre temos mais tempo antes, antes não chegará, pois é antes, nunca teremos tempo então. A tristeza aumentando, o sete martelando e a ideia que se tivesse mais tempo, poderia explicar. Explicação voltada de como fiquei sério em diversas situações justamente por estar triste e feliz por estar descontraído. Simples, nossa! Expliquei sem ter tempo, estou ficando bom com essa coisa de ficar louco no tempo. Até despontou uma felicidade. Mas sério, queria ter tempo. Olha novamente, a seriedade e a tristeza voltando.
Pararei de tentar enlouquecer seriamente, e quero abrir um adendo com você. O que estará lendo estas recomendações, atente bem, ao que será dito. Primeiro, tente ficar sério sem ficar triste. Tentem agora. FIQUE SERIO! Conseguiu? Ficou triste? Não... então terei que contar uma história triste para que fique sério? Olhe para ao teu redor. Essa é a história. Fiquei triste com ela, você conseguiu me emocionar, pois viu ao teu redor. Parabéns! Pois então, cronometre em algum relógio de pulso, deixe certo o tempo que irá levar para enlouquecer. Como assim? Ué, enxergou teu redor, vai enlouquecer, não há volta. Porém, se disse sim, mas não viu e disse que viu, não merece ser louco, pois é um mentiroso. Gastei muito tempo nisso, não valeu apena, tenho a alma pequena. Agora só me restam quatro minutos e vinte e três segundos. Vou aproveitar e ficar em silêncio, me irritei, não darei mais explicações, nem mais instruções. Por que disso? Olhe ao teu redor, só silêncio, quero pertencer a ele ......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... enjoei. Poucos minutos e quatorze segundos. Não tenho muito tempo, me deu um forte desejo de dizer como isso aconteceu. Quero dizer serenamente como a Loucura se instaurou no meu cronometro de pulso. Via TV tranquilo, não sei que canal ao certo. Não prestava muita atenção por isso fui atraído para lagartixa na parede verde da minha sala. Ela olha para mim e diz: amanhã, sentado aqui, você irá contar dez minutos a partir do momento que me vir. Amanhã, aqui, dez minutos e ao término desse tempo, ficarás louco. Meu, a única coisa que consegui pensar é como uma lagartixa pode dizer “ficarás”. Estamos numa era que não se usa mais esta terminação. Ficarás, essa é boa. Oh dona lagartixa, é ficará! Acreditou mesmo nesta história? Fala sério. Estou dizendo que estou prestes a enlouquecer e vai acreditar que foi dessa forma? Quem garante que meu tempo já se extinguira? Quem garante que o cronometro já não encerrou e já estou louco? Ainda mais, quem pode nos garantir que já se encerrou meus dez minutos a exatamente dez minutos atrás e todas essas considerações já fazem parte da minha essência louca? Ai, to confuso... isso poderia ter acontecido ontem. Poxa, já estou louco, já deu o tempo? Ou ainda estou ficando louco?
Alguém me responda! Estou ficando com as pernas bambas... lagartixa é você? É verdade essa história ou teria uma outra....