PROFECIAS
02-02-2002: cumpre-se a 1º profecia
Introdução à TCA: Trágica Cultura do Absurdo inicia-se com o BBB brasileiro - plagio do BBB holandês, programa que não deu certo no país dos diques hidráulicos, pois os holandeses são seletos e exigem o melhor - começou nova série faz uns dias. Porém, aqui em terras tupiniquins, o nosso BBB puro sangue, autêntico e genuinamente brasileiro, já está em cartaz há muitos e muitos anos. O BBB – Big Bala Brasil que vai ao ar de quando em quando, encontra-se em qualquer comunidade, em qualquer loja, em qualquer casa, em ...
Numa reunião entre profetas matutos, um dos anciãos, relatou – e palavra de profeta matuto é como palavra de escoteiro que não se perde em serra nenhuma – que numa noite obscura no Rio de Janeiro, daquelas com trovão, raios, relâmpagos e balas perdidas, houve um rebuliço dos infernos no morro do Importuna Galo. Disse que a coisa foi feia e braba: “era estampido atrás de estampido. Balas zuniam e penas voavam para o ar”.
Observou o profeta, que quando o movimento dava indício que terminaria, uma das balas desgarrou-se das demais e disparou atrás de um bêbado. O infeliz, por sua vez, fincou pé debaixo de chuva intensa e deslizamento de terra. Zigue-zagueando e correndo, tentava fugir da ventania, da chuva e da bala, que a todo custo, procurava se encontrar. Um zigue-zague; dois tombos. Dois tombos; uma rolagem de 45,5m. O que, provavelmente, tenha sido a salvação do bêbado. Numa das rolagens, o bêbado foi parar no aeroporto do galeão. Tomou o primeiro avião que partia para São Paulo. Pura sorte, porque naquela época, eram somente dois vôos entre São Paulo-Rio de Janeiro.
A bala, que não conhecia a BR-116, preferiu acompanhar o ônibus que estava saindo da rodoviária do Rio com destino à Curitiba. Assim fez. Subiu a serra de Teresópolis-Petrópolis, cruzou a divisa entre os dois estados. Seguiu pela rodovia Presidente Dutra, passou por São José dos Campos, pesquisou o boletim metereológico no INPE: “chuva torrencial, seguida de ventos fortes de até 50 Km/h até divisa do Paraná’.
O ônibus estacionou na plataforma da rodoviária de São Paulo, que na época, ficava na estação da Luz. No momento do recebimento do bilhete de passagem, o motorista descobriu que faltava um passageiro. Minuciosamente, fez o levantamento: “quem está faltando é a Bala. Que tenha boa viagem e por favor, fique onde você estiver”.
A Bala já tinha passado pela marginal Tietê e aproximava-se de São Lourenço da Serra, prestes a descer a serra, sentido Juquiá. Perguntou para uns senhores que jogavam truco numa praça, como era mais fácil chegar em São Paulo. Os senhores, diligentemente disseram que ela já havia passado e que voltasse até encontrar o menor rio e mais poluído e as maiores favelas do mundo. Ela ficou em dúvida: “como eles avaliam o tamanho das coisas? Se com todo aquele estrago, o Tietê é pequeno, que mal faz o meu “furinho”?
Retornou na primeira rotatória e pegou a mão contrária da rodovia. Vendo-se daquele ponto em diante totalmente perdida, voltou sentido Curitiba. Viajou vários quilômetros até deparar-se com a placa: “Altos da Serra de Paranapiacaba-Sorocaba”. Novamente mudou o roteiro. “Tenho que encontrar aquele bêbado filho das unhas de qualquer jeito. Eu não vim de longe para me enganar. Posso estar perdida, mas jamais erro o alvo”.
Parou para tomar fôlego e abastecer-se em Juquiá. Serras são sempre serras. Haja fôlego, motivação e perseverança para transpô-las. – se a grafia estiver errada o leitor que me perdoe, fiz “Jornalismo e não Português” no IUB – Instituto Universal Brasileiro – Cruzou Tapiraí; bairros do Monos; Miguel Russo e quando chegou no trevo, acesso à Misericórdia da Serra-Sorocaba, errou o caminho e entrou em MS. Voando pelo centro, rezingou: “Onde há tumulto, é sinal de bagunça! Deve estar por aqui!”. De relance viu um maltrapilho comprando um notebook e falando no celular: “é ele”. Precipitou para dentro da loja. O ventou soprou forte, nisso o bêbado deu um passo para trás e dois para frente. Em seguida, o grito: “Socorro! Sangue, fui atingida”. O bêbado bradou consternado o verso do poema que acabara de fazer:
“Ohh vento amigo, porque não fez a bala parar!?
Mas esse ato embrutecido dos covardes párias sociais,
não pode de jeito nenhum,
sonhos de humildes trabalhadores apagar!”