Em Chamas
Foi no sertão, naquela terra dura e sofrida de seca. Embora a seca não seja mais exclusividade do sertão no Brasil. Justamente nesse lugar de sol que racha que nasceu Valquíria. Menina que cresceu em meio as privações, sendo educada com todo recato. Família evangélica. Saia longa, cabelo longo, falta de depilação. Enfim. Sua vida era da igreja para casa, depois incluiu a escola nessa rotina. Cabeça baixa e voz mansa. Alguns comentavam que era encruada feito a mãe. Povo simples e que evitava ver televisão e todo dia fazia sua leitura da bíblia, não deixando de comparecer com o sagrado dízimo. Tudo corria bem e foi assim até a primeira idade da fase adulta, quando a guria virara moça de estudos acadêmicos.
Numa daquelas segundas que dizem que a expectativa é miúda, Valquíria se engraçou com um rapaz que vira rondando o prédio da faculdade. O sentimento só ia crescendo e logo acabou deixando a prudência e os votos de lado. Se encontraram depois de muitos flertes em um matagal que ficava próximo a instituição de ensino. Nunca pensou que sentiria aquilo. Foi tomada de um fogo que parecia sair do peito e ir parar nas partes. A coisa fez com que quase perdesse os sentidos. O imenso susto do camarada, que se deparou com uma labareda saindo do baixo ventre da acadêmica. Foi algo que faria inveja a muito alto-forno. O rapaz deu logo um grito, “sai de reto Satanás!!”, abandonando a moça naquele estado. O fogo se alastrou pelo matagal seco pela escassez de chuvas, como um rastilho de pólvora, fazendo com que no outro dia saísse uma pequena nota no jornal local, onde moradores da área se indignavam ante a ignorância dos que colocam fogo em terreno num tempo seco desses.
Não havia jeito de abaixar o fogo dessa mulher. Foi apelidada por alguns que tentaram se engraçar, como xana em chamas ou poderoso vulcão. Uns caboclos bem que tentaram introduzir, saindo chamuscados. Ocorreu até queimadura de terceiro grau, já que muitos homens dizem que vão colocar só a cabeça ou tirar rapidinho e acabam esquecendo o prometido. O peru do cabra ferveu na chapa entre as pernas da cabocla, e olha que nem era véspera de natal. E o espanto maior veio por parte daqueles que tentam remediar o mal comendo pelas beiradas. Já que tentando pegar por trás, descobriram que o rabo da moça era uma fervura da mesma intensidade da xavasca. O populacho logo fez a festa, dizendo que grelhava na frente e assava atrás, já que apelidaram o cu da fulana de forninho. Alguns inclusive disseram que daí vinha a expressão “crente do cu quente”, já que a moça não deixara de cumprir suas obrigações religiosas. Ninguém sabia de seus deslize no matagal e mantinha a imagem de casta, embora tivesse queimado o filme e outras coisas mais com as visitas de homens constantes em seu domicílio.
A família havia desconfiado de algo errado. Quando a coisa realmente foi confirmada, um pastor tentou espantar o diabo dali. Já que é sabido desde tempo medievais, que o capeta é responsável por tudo que é fogo, seja debaixo ou de cima, embora debaixo seja ainda mais a cara de Satã. E essa história de dizer que o que vem de baixo não atinge é mesmo uma tolice, já que o fogo selvagem consumia com uma voracidade nunca antes presenciada. O curioso é que não sapecava a donzela. Como se fosse um dragão que guardava as partes pudendas e impedia o pecado. Uns católicos tentaram dar essa versão, comparando ao São Jorge, mas não colou, já que a religião da digníssima não acreditava nessa baboseira de imagens, santos e tudo mais. Apostas foram feitas sobre quem conseguiria aplacar aquele fogo selvagem. Um bombeiro marrento tentou se atrever, indo armado de extintor de incêndio. Acabou indo parar em um hospital público, com o pinto que era puro carvão. As enfermeiras diziam que ele só repetia, “aquela mulher é pura brasa”.
O fogo deixava Valquíria alucinada. Chegava a incendiar os colchões onde dormia. Acabou fazendo uma cama o chão puro, para evitar incendiar a comunidade inteira em que vivia. Até que um dia, apareceu um sujeito que caiu em suas graças e ela nas dele. Começaram com aquele namorico e logo a mulher já estava tostando a calcinha. Claro que havia se precavido e colocado um gelinho nas partes, para evitar o fogo rápido. Mas acaba escorrendo aquela água e a vergonha era maior ainda. Zé Pedro não se importava com isso e trabalhava no frigorífico. Arrumou um artifício depois que soube do caso da moça. Tentou algumas vezes a investida e viu que o fogo era potente. O gelo logo derretia e a coisa não andava. Começou então a treinar dentro da câmara frigorífica, ficando junto com as carnes. Entrava lá e fazia o pinto endurecer na munheca, depois ia passando o tempo e buscando formas de congelar o bicho naquela forma. Conseguiu se servir de uma geladeirinha menor, o que transformava o cacete dele em um picolé de carne. Marcava com a moça ali mesmo, logo após o expediente. Fechava tudo e desligava as câmeras de segurança. Aí era só pau na máquina, ou melhor, na moça. Dentro da câmara o fogo da mulher continuava, mas quando aquele picolé entrava na vagina, ela conseguia ver o paraíso ali mesmo, agarrada em um pernil de porco ou abraçada a uma costela bovina. O ritual ia se repetindo. Zé Pedro ficou tão atrevido que logo quis estrear também o forninho. Os votos da igreja já tinham ido para as cucuias. A penetração não podia ser demorada, porque o gelo derretia logo, mas ambos aproveitavam ao máximo. Muitas vezes quando o gelo já havia derretido, ele ainda aproveitava aquele estado de dormência do membro, que logo voltava a fazer o sangue fluir com aquele fogaréu de boceta.
Azar, sorte. Duas faces de uma mesma moeda chamada Fortuna. Um dia ocorreu um problema no pau do Zé. Dizem que foi por causa desses congelamentos. O que se sabe é que nunca mais teve serventia e o homem passou a viver de memórias. Valquíria, que não era personagem de nenhuma obra de Wagner, mas que também era uma parada, começou a ensinar a arte a outros homens, para ter garantido o seu tão sonhado refresco. Era um tal de por gelado e sair quente que não se podia contar. Alguns diziam que a mulher não mijava, mas fazia escorrer lava e que em vez de cagar, cuspia moquecas. Cada um com suas analogias. Inclusive a tal crente virou dona de uma zona, e ficou conhecida como Valquíria do Buraco Quente. Morreu com diversas homenagens, velório cheio e dizem que o caixão foi aberto na altura da cintura, já que nem depois de morta o fogo abaixava, o que fez com que economizassem com castiçais. Reza a lenda, que até hoje, se alguém se atrever a encontrar o seu túmulo, já que procuraram lacrar e não deixar rastro de nomes para evitar alvoroço post mortem. Mas aqui no Brasil, um comentário aqui e outro ali. O que se conta é que ocorreu muita andação no cemitério após esse enterro, com gente avistando uma certa claridade perdida no mundaréu de catacumbas. Há quem diga que para esconder a dita cuja, colocaram o corpo sem vida num alto-forno de verdade, fazendo com que Valquíria não parasse de levar ferro nem depois de morta. Mas isso é lenda que o povo conta e não se deve dar crédito. É o que dizem...