Uma História Cabeluda

Xana era uma menina do interior. Não pensem que o nome sugere algo relacionado a genitália, embora mais para frente venhamos a tratar disso. O fato é que não se sabe quando e nem porque, na realidade, a família devia saber, mas é uma informação que acabou se perdendo ao longo do tempo. Nossa pequena heroína mudou-se para a cidade grande, conheceu o mundo que vislumbrava na televisão modesta de sua casa. Mas voltemos ao passado para tratar do assunto já referido, ou seja, a genitália.

Desde quando nasceu, a menina foi abençoada com uma vasta pelagem.Não nos braços ou meso na fronte, como algumas senhores com um buço mais espesso do que bigode de muito marmanjo. Falamos da xana mesmo da Xana. Os médicos se surpreenderam ao realizar aquele parto e dizem que o chumaço atrapalho na saída, como se fosse um bolo de pelos preso num ralo. A analogia pode não ser das melhores, mas ajuda bem a elucidar a cena na mente dos mais curiosos. Não resolveram sujeitar a recém nascida a nada violento e cultivaram aquela pelagem fora do comum. Escura e vasta, era como mencionavam a obra da natureza. Diziam que não podiam contrariar os desígnios de deus. Desígnio de deus ou não, a medida que a guria foi crescendo, logo começaram críticas sérias. Precocemente conduzida a raspagens, conhecendo o poder de uma boa navalha afiada e posteriormente de giletes. O drama era que no outro dia, logo nas primeiras horas, era preciso repetir o ritual, extremamente cansativo.

Já nos primórdios da adolescência, uma vizinha prestativa, resolveu aplicar métodos de depilação, o que foi um choque, pelo pouco conhecimento de dor que a jovem possuía. O fenômeno no outro dia, apesar de métodos sofisticados á base linha, cera quente e outras tantas formas de cortar o mal pela raiz, bastava chegar o outro dia e a vasta cabeleira renascia, como se fosse uma benção ou maldição da aurora. Tentaram até modificar a hora da poda para ver se a coisa evoluía e nada. Na realidade desejam era fazer a coisa regredir, porque evoluía que era uma beleza. Muitas vezes o volume espantava as pessoas na rua, fazendo com que a família comprasse roupas largas para não denunciar o pufe. Me refiro a pufe, porque a própria menina descreveu assim ao deitar de bruços uma vez, ficando refestelada nos pelos pubianos, como se flutuasse no solo. Um verdadeiro milagre.

Drama maior foi quando os hormônios afloraram de vez. A busca por um namoradinho vinha acompanhada da sombra dessa revelação. A menina não era boba. Já sabia pelo que via nas novelas que a coisa progredia e que ia chegar a hora de ver as partes. O medo era ser largada justamente pelo namorado não conseguir ver as partes. Dito e feito. Ficou moça virgem. Na primeira tentativa, o sujeito metido a “comedor” e criador de poesias que ele decorava a partir do que imaginava serem versos, mas que não passavam de palavras empoladas que eram escritas em um jornaleco vagabundo que circulava em bancas de procedência duvidosa. A autoria era misteriosa e curiosamente, as matérias favoreciam diariamente a conduta do prefeito da cidade e desmentiam qualquer difamação proferida contra o suplente. Xana se encantou e liberou a mata. Mas o sujeito assustou com o volume e reza a lenda que até hoje anda de cabeça baixa nos lugares onde possa encontrar algum conhecido. Porque na cidade a moda é que macho que é macho derruba o que for. E aquele “frango”, como alguns relataram, fugiu da mata virgem, sem coragem de explorar aquelas paragens.

Certa vez, em uma reportagem feita pela emissora mais assistida no país, a jovem soube a respeito da depilação a laser, mas estava desiludida e pensou que seria mais um ato em vão, além de possivelmente fugir de suas capacidades pecuniárias. Namorado ia e vinha. Surgiu uma lenda, de que um cabra havia perdido o pinto no meio daquele moitão. Uns diziam que Cláudia Ohana não passava de historinha de criança, perto daquela vastidão. Outra mulher também tentou se aventurar, sentindo aquela mesma noção de pufe, desistindo de se embrenhar. Se com o cacete o povo recuava, imagina com a boca. Não existe língua que alcance. Tudo isso vinha ocorrendo até a aparição do milagroso Jurandir. Esse era daqueles que na fila do pau passou diversas vezes e ainda repetiu. Soube da coisa e disse que ia com tudo naquela floresta. O candidato a namorado não era muito delicado, o que explica sua aptidão para jumento. Mas o trauma fez com que Xana se sujeitasse, já que não desejava morrer sem saber o que é sentir um homem. Não era daqueles mais desejados, como os que via na televisão, mas olhando de pertinho, Jurandir tinha seus atrativos. A moça recuou uns dois passos quando viu a estrovenga mole, dura então, fez ela dar um grito e quase sair correndo, não fosse a mão firme lhe segurando e trazendo pra junto do amante. Fizeram cerimônia e tudo mais, como se fosse uma lua de mel que vem antes do casamento. Se desse certo com ele, não teria mais quem separasse os dois.

Santo de casa não faz milagre. Jurandir era amigo da família. Quando abaixou as calças da moça e se viu diante do problema, nem quis muita conversa, colocou logo seu machado para derrubar. E derrubou. Só que a mata era tão fechada, que ele meteu e gozou nos pelos, sem chegar a alcançar as partes íntimas. A mulher continuo a não sentir nada e o o homem saiu dizendo que cumpriu o prometido. Um fiasco. Porque a moça dizia que não sentiu nada do Jurandir, justo ele que deixava as moças andando de pernas abertas por um mês e pelo menos uma semana sentando de lado, devagarzinho, com a bunda de banda ou com a banda da bunda. Revoltada, Xana tomou uma atitude radical, que era desvirginar-se a si própria. Se sujeitou a uma depilação e logo após se armou com um consolo que havia comprado em uma loja de sex shop que conhecera em anúncio de classificados. Arrumou um instrumento que poderia até acender luz nele que ia passar como poste despercebido. Mas a coisa acabou degringolando. Mais uma vez não alcançou onde devia e os pelos pareciam ser rebeldes, fazendo uma verdadeira fortaleza entre suas pernas.

Andando em uma noite em que voltava do trabalho, fora atacada por Jurandir, que inconformado com a má fama, resolveu dar o troco na coitada. Estuprou a jovem, mas por trás. Aí sim ela soube como era o jumento. Foi estourada por dentro. Deu parte na polícia e ficou meses naquele situação de banda. Esse caso que fez com que se mudasse para a capital, já que a vida corrida das grandes cidades não tem tempo para cuidar da vidas dos outros como em sua cidade natal. Lá era apenas mais uma e mantinha seu anonimato, não voltando a contatar nem os familiares deixados para trás. Jurandir acabou solto um tempo depois e um dia acabou morto em uma discussão de bar. Traumatizara com o sexo anal e tinha decidido que morreria sem conhecer a penetração de um homem em suas partes. Xana acabou fazendo parte de uma comunidade evangélica em que as pessoas tem o hábito de não se depilarem e nem nada do tipo. Se sentia integrada ao grupo. Alguns “irmãos” queriam casar com ela e depois de passar por batismo e todos os rituais que a religião pedia, aceitou se casar e o futuro marido estava empolgado, já que recebeu a confissão de que a prometida era intacta.

Chegou o grande dia. Uma bela festa. Quer dizer, festa de evangélico, sem álcool, comida mais ou menos e aquela ladainha que faz o povo ir embora cedo. Meses juntos e o homem procurou o pastor, contando o caso e dizendo que não tinha como consumar o ato. Xana acabou descobrindo o adultério e ficou magoada. Saiu pelo mundo em peregrinação. As últimas notícias que souberam a respeito da mulher da mata virgem era que havia se abrigado em um convento. Morreu virgem. Embora tenha sido aceita como esposa de Jesus, não é possível crer que mesmo Cristo tenha conseguido esse milagre. O fato é que sua morte causou certo alvoroço, já que exumado o corpo por conta de uma série de crimes que assolaram aquele lugar santo, descobriram com espanto, que mesmo a cabeleira vasta daquele crânio já havia sido consumida, enquanto a floresta nas partes, mantinha-se como um oásis naquele mórbido deserto. Um pensamento passou na cabeça do investigador, que imaginara um xaxim e logo seus pudores fizeram esquecer a grosseira associação e retomar o seu trabalho, sabendo que ali não encontraria prova alguma a respeito do que precisava.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 06/02/2015
Código do texto: T5127420
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