O Pica Doce
Genésio era um cabra desses bem machos.Daquele tipo que coça o saco e dá uma cusparada longe, que é homem até embaixo de outro homem. Embora não fosse do tipo que aceitasse essa coisa de homem com homem. O fato é que cresceu na roça, bebendo leite que tirava direto das tetas da vaca. Pegava mulher a força igual fazia com as cabras dos sítios vizinhos. Sempre começava falando, “homem que é homem”.
O tempo foi passando e Genésio aprendeu a ser manhoso. Falava manso no ouvido das gurias e passou a ser galanteador. Dizia “amorzinho” pra cá, “docinho de coco” pra lá, e assim ia aumentando o seu rebanho. Porque depois da conquista, era no chicote e rédea curta, voltava a falar grosso e resolvi as brigas com duas bofetadas bem dadas, uma em cada lado da face. Não era o que chamam de “cavalo” nos documentos, mas vamos dizer que na fila das rolas, passou mais de uma vez. Adorava um rabo de galo e bebia sem fazer cara feia.
Num dia desses em que a feira esta armada e tem gente acordando cedo para a lida, aconteceu uma espécie de milagre, apesar do sujeito há tempos não cumprir suas obrigações na missa. Genésio acordara sentindo uma coia meio molhada, pensou que tivesse se esporrado pela madrugada. Mas ao tocar no pinto, notou que o bicho estava com uma substância meio pegajosa e apesar dos pesares, o cheiro lhe era família e meteu o dedo e pôs a boca para provar. O pau do sujeito estava com gosto de mel. Nunca tinha visto falar algo parecido. Só parou de provar, porque imaginou que era coisa de fresco ficar provando o bilau, ainda que ele fosse de mel.
A novidade se espalhou. Até o pároco fez questão de esquecer a falta das obrigações e logo anunciou o milagre, com gente vindo do cu de judas ver a tal benção. O lance é que Genésio ficava avexado de mostrar a rola pra homens e quando eram as mulheres, a estrovenga ficava dura e aquilo causava um alvoroço daqueles. Teve muita mulher casada que quis se deliciar no que foi chamado de verdadeira “lua de mel”. O saco do abençoado era até grande, mas daí querer comparar com lua. Genésio que não negava fogo, começou a atender as solicitações e algo espantoso aconteceu. Mulheres começaram a aparecer com umas ziquiziras nas partes. O médico dizia que a flora vaginal não se dava com doce e pedia para as mulheres diminuírem com o leite condensado ou qualquer outro artefato que usavam na hora do coito. Todas iam em médico de fora, porque na cidade iam logo suspeitar que o pica doce atacara a sujeita.
Depois de muita ameaça de morte e divórcio com humilhação em praça pública, as mulheres acabaram não mais procurando Genésio. Sabiam que na primeira coceira o marido ia alegar traição e a coisa ficaria feia. Meninas também estavam assustadas e o boato que correu pelo lugar era de que o Pica Doce fazia mais mal do que bem. Nem aqueles camaradas que gostam de levar atrás, como se dizia por ali, aceitavam aquela condição e Genésio garantia que não iria oferecer a estrovenga para nenhum fresco. O tempo foi passando e a necessidade aumentado. Camisinha não dava para vestir porque o melado não deixava a bicha ficar direito e ainda escorria fora dela. Genésio acabou pegando uns frescos na miúda, e apesar da discrição, a fama espalhou e o Pica Doce, virou Pica Fresca e Doce.
Chateado. Ficava em casa descascando. Quer dizer, fazendo o mel escorrer. Até que um dia começou ocorrer algo perturbador. Não podia mais dormir ou pregar os olhos, porque era infestado de formigas e as picadas doíam pra caralho, quer dizer, doíam no caralho. Moscas rondavam ele todos os dias. Sentia-se sujo. Quando tomava banho, o ralo ficava cheio de formigas e seu rastro era assim. Marcava território feito um cão sarnento. O que fez com que saísse pelo mundo. Indo parar em uma região pra lá do cu de judas. E foi nesse dia que se deu a tragédia. Foi acolhido por um grupo que era meio radical. Um dia com o sujeito dormindo, cortaram-lhe fora o troço, pensando que poderiam usar aquilo da forma que conviesse. Mas o fluxo cortou a fonte e aquela nascente se tornou morrente. Nada mais de mel, apenas um pedaço de carne sem serventia. Genésio, agora capado, voltou pra sua cidade. Sem fama e sem pinto.
Alguns maldosos diziam que virara fresco. O fato é que sossegou o facho. Trabalhava no sítio, porque tinha pouco estudo e era o que tinha aprendido a fazer. Tinha o que comer e vendia o almoço pra pagar a janta ou vice-versa. Aprendeu a tratar bem todo mundo, embora agora eram as outras pessoas que não o tratavam com muita cordialidade. Acabou se engraçando cm uma sujeita que quando soube que ele não tinha o bilau, tratou de pular fora antes de pular a cerca. A notícia se espalhou e o pároco agora o chamava de “eunuco”, tentando se engraçar pro lado dele, dizendo que era bem apanhado e coisa e tal. Mas Genésio acabou envelhecendo sozinho, sem filhos e temente a deus. Já que voltara a cumprir as obrigações, não se sabe se por fé ou falta de ferro. Diziam que morreu e foi enterrado no cemitério público, cruz de madeira fincada no chão e enterro com pouca gente. Até hoje tem gente que ainda diz que se achar a cova e desenterrar o defunto, pode encontrar ainda a piroca doce, embora uma senhora tenha alertado, que se ainda tivesse a benção, as formigas já teriam se fartado sob os sete palmos.