O Garoto Que Cochichava
Cléber, era um garoto curioso. Diziam para ele que “a curiosidade matou o gato”, mas ele, matreiro que só, dizia que não era gato e continuava comentando sobre as outras pessoas. Comentava dos amigos de classe com os professores, dos professores com os pais, dos pais com os irmãos, dos irmãos com os pais, e assim ia. Na escola os garotos ameaçaram dar uma coça nele, e o apelidaram de “x-9”. Um dia, sentado em sua casa, vendo o noticiário, sentiu um incômodo no fiofó. Coçou e sentiu uma protuberância ao cutucar com a ponta do dedo indicador. Assustado, foi até a privada e tentou cagar. Pensou que poderia se rum pedaço de cocô que havia agarrado por não ter se limpado direito. A coisa não vinha exatamente do cu, mas parecia estar mais acima, no início da bunda. A mãe, uma mulher de vibra e com muita sapiência, sentenciou logo, “eu te falei para não falar dos outros , menino danado, pois quem cochicha, o rabo espicha”. O menino ficou desesperado, rolava na cama sem conseguir dormir.
Os dias iam passando e o rabo aumentando. Cléber deixou um tempo de cochichar sobre a visa alheia, o que fez seu rabo parar de crescer, mas logo vinha a vontade de falar dos outros e a coisa voltava a se desenvolver. Levado ao médico, deram um nome cientifico cabuloso e recomendaram entrar na faca, ou seja, cirurgia. O garoto ficou preocupado, mas antes isso do que ter um rabo maior do que o de seu cachorro. Logo ele estava recuperado, andando todo prosa. Mas os hábitos são mesmo um vício. Passou algum tempo e Cléber voltara falar dos outros, pelos cantinhos. A coisa desandou, ou melhor, andou, e bem. O rabo estava enorme e precisou furar a calça. Alguns vizinhos religiosos diziam que era filho do capeta e uns moleques da escola passaram a chamá-lo de Hellboy. Ficava feito um macaco, com o rabo em volta do corpo, sentado, pensando na vida. Os médicos disseram que cirurgia naquela região era algo arriscado e poderia comprometer suas funções motoras. A mãe, desesperada, dizia que iria grampear a boca do guri para ele parar de falar da vida alheia.
Certeza, lendo alguns livros. Já que agora passava muito tempo solitário. Se deparou com o livro do Pinóquio e achou que parecia com ele, só que em vez de nariz, seu volume era atrás e não era de madeira, mas sim peludo e bem versátil. Quando ia começar a falar, o rabo ia para a boca, como se fosse um instinto de fazer ele calar. Era algo útil, pois ajudava a limpar a bunda na hora de cagar e balançava quando estava feliz e a pessoa que conversava com ele se sentia queria pela demonstração de afeto, chegava a ganhar uns cafunés, feito cão pidão. O rabo continuava a crescer e precisou de uma carrocinha para ir puxando. Se tornou um fardo, a ponto de Cléber ficar em casa, sem sair e nem se mexer. Não conseguia lavar essa mangueira traseira e começou a ter feridas e assaduras. Apareceram peladuras e feridas que tiveram a necessidade de ir amputando umas partes. Vivia tão só que acabou ficando depressivo. Passou a tomar anti-depressivos e ingerir álcool e tabaco.
Foi quando, em um dia daqueles de sol quente. A mãe de Cléber voltara de mais um dia de trabalho, após dar faxina na casa de uma família. Encontrou o filho enforcado no próprio rabo e lamentou, como é comum das mães que lamentam diante da dor de perder um filho. Mas não sabia até onde aquilo poderia chegar e o sofrimento do sue menino se tornara algo terrível. Precisaram enterrar o garoto, que se tornara um rapaz, em uma cova e o rabo iria ocupar outro túmulo, bem mais fundo, se não fosse o pai, que disse para cortar aquilo de vez e jogar em algum lixão. Segundo a teoria do pai, agora, de boca fechada de vez, o filho não faria o rabo crescer novamente. Embora alguns místicos tenham alertado que ele poderia causa incômodo ao chegar do lado de lá, pois carregar esse rabo todo, seja no céu ou no inferno, seria algo penoso. Um engraçadinho, longe da família, comentou que se caísse no inferno, poderia usar o rabo para tentar escalar até o céu. Mas acharam de mal gosto o comentário e deixaram de comentar a respeito, ficando a lição aos que acompanharam o velório, de que é bom evitar falar dos outros, com ou sem rabo, é o que mandam os bons costumes.