O Homem do Cu Riscado

Jonathan, era um cara descolado, desde cedo aprendera as artimanhas da malandragem. O sujeito conseguia dar nó em pingo d’água, e olha que era nó de marinheiro. Vivia dizendo que não estudaria, que isso era coisa de nerd sem pinto. Sua família era meio largada, dizem por isso, que o largaram ele pelo mundo. Mas isso será revelado mais para frente. comentava que quando nasceu, escorreu pelas partes da mãe e caiu na mão das enfermeiras. Embora os mais pragmáticos, afirmassem indiscutivelmente, que seu parto foi difícil e que o médico, um sujeito que fumava dentro da sala de parto, e o retirou na marra do meio das pernas da parturiente. Cresceu em um bairro pobre, brincando na rua com a molecada da vizinhança. Sempre se safava das surras, pois procurava agradar a todo mundo, com seu jeito brincalhão e seu gingado. A mãe dizia que se tornaria cafetão, o pai dizia que seria um belo vagabundo, a irmão dizia que era um filho da puta mesmo. viviam em uma pequena casa, dividindo um único e apertado banheiro, que vivia fedendo a merda e mijo.

Um dia estava brincando com os amigos, isso já na adolescência, quando os pais haviam deixado o guri de lado. Aquela coisa de garoto problema. Mais fácil deixar na rua para que o mundo eduque. Mas o fato é que disputavam um campeonato de peido e foi desafiado a abrir uma garrafinha de coca-cola com o brioco, ou seja, com o cu. Como não se rendia fácil, acabou aceitando o desafio. Fez força e contraiu as pregas. Para espanto de todos, Jonathan não só abriu, como rosqueou a tampinha com sua própria rosca. Virou atração naquela comunidade. Foi crescendo e com o hábito, abria cada garrafa de cerveja que fazia gosto. Uma vez, o tal de Camargo, que era seu conhecido, reclamou que a cerveja saiu com gosto de merda. Mas era intriga, nunca se borrou fazendo o riscado. Nunca tentaram estuprar ele, pois imaginavam que se fazia aquilo com a garrafa, o que não faria com a rola dos metedores de plantão. Era uma atração e gente pagava para ver o ato inusitado. Atraiu a atenção do mulheril, que dizia, “cu de rosca e rola cumprida”. Pensou que poderia viver disso, quem sabe aparecer em um programa de auditório ou ser atração em um circo e rodar pelo país.

Tudo ia bem, até que um fatídico episódio mudou o rumo de sua promissora odisséia. Em uma apresentação, estava já com a garrafa posicionada. E era uma senhora garrafa, resolveram fazer com que abrisse uma cerveja importada, daqueles que só magnata consegue provar e que pobre nunca nem ouviu falar ou sequer sentiu o cheiro. O nosso herói, Jonathan, empolgado com toda aquela pompa, não se sabe, porque motivo, talvez um nervosismo inesperado ou um jeito diferente de abrir a garrafa gringa. Naquela noite, todos ficaram horrorizados com o grito que o rosqueador deu. Viram o filete de sangue e o estrago que a garrafa fez. A tampa levantou uma aresta e riscou o cu do sujeito, deixando uma valeta aberta em suas partes secretas. Um galhofeiro disse que aquilo era uma xana no lugar errado. Houve correria e gente se prontificando a levar o sujeito para uma emergência pública. Nisso o magnata interveio, dizendo que a culpa foi dele e que levaria Jonathan para um hospital particular, pois se fosse para o SUS era morte certa.

Jonathan nunca mais foi o mesmo. Se recuperou e teve alta. Voltou para seu bairro, só que de cabeça baixa. Jamais conseguiu abrir outra garrafa e se tornou o “Jonathan do Cu Riscado”. A mãe ao saber, comentou que desde pequeno esse menino tinha o cu riscado e que isso era seu carma. Riscado da lista de prodígios anatômicos e engenhosidades da natureza humana, o desgraçado caiu na sarjeta, passando a viver de esmolas. Cometia pequenos furtos e em uma ocasião a casa caiu. Acabou em cana e na cadeia foi estuprado. Seu cu não era mais temido. Virou evangélico e saiu do xilindró regenerado. Dizem quem hoje prega em um pequena igreja, longe de sua antiga morada. Seus nomes de guerra ficaram para trás. Agora é conhecido como Irmão Jonathan. Faz suas orações diárias e está de casamento marcado. Nunca esteve tão feliz. Ajuda os familiares e cumpre suas obrigações religiosas com devoção. Às vezes, quando vai cagar, sente um pequeno incômodo, mas esfrega o papel e dá descarga sem olhar e tudo volta ao normal.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 26/02/2014
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