Carlinhos

Carlinhos era um menino doce. Seus pais o classificavam como sendo um anjo que havia sido enviado para abençoar a Terra. Um garotinho encantador, que era admirado por todos que o conheciam, com aqueles olhos meigos e o ar carente, conquistava no primeiro encontro. A vida pode ter muitos acontecimentos inacreditáveis. Um desses tais acontecimentos, acabou despertando em Carlinhos, algo que viria a transformar sua imagem. Parece que o fenômeno ocorrera desde pequeno, sendo apenas percebido com idade mais avançada. Foi percebido pela primeira vez, em um aniversário, quando Carlinhos, como quase toda criança, se entupira com guloseimas, fazendo com sentisse fortes dores estomacais. Claro que uma diarréia, por mais incômoda que seja, é considerada normal, nessas condições proporcionadas por eventos infantis. Mas a surpresa, que todos os convidados tiveram, por mais engraçada que fosse, fez com que sentissem uma surpresa que os fez perder a fala. Exceto um tio bêbado, que comemorou o feito do garoto, erguendo o copo de cerveja. Carlinhos, aquele menino meigo, soltou um arroto. Vamos fazer aqui uma observação, não foi simplesmente, um arroto, já que o som produzido estava longe de ser o que estamos acostumados a ouvir. Pelo menos, não vindo daquele lugar.

Para espanto de todos, a partir daquela data, por mais que quisessem negar e inclusive fizeram experimentos para comprovar, certificaram-se de que Carlinhos peidava pela boca. O peido saía com som e odor de flatulência. Em um evento, alguém gritou que a boca do menino era um esgoto, que alguém precisava dar descarga naquilo. O constrangimento fez com que a família deixasse o local. O menino, quando estava com excesso de gases, sentia a barriga doer, como é de costume, mas na hora de soltar, era por cima que se aliviava. Uma vez, não resistindo, acabou soltando um peido bucal no rosto de uma professora. Acabou indo para a direção e a coisa se complicou. Por mais que tenha alegado ter saído de forma involuntária, aquela situação era repugnante para os respeitáveis membros daquela sociedade. Levado e analisado por especialistas, o menino foi vítima de muitas sátiras, fazendo com que se tornasse uma criança reclusa. Escovava os dentes com produtos fortíssimos para melhorar o hálito e repetia o ato por diversas vezes em um dia. Mas quando vinha o peido, o aroma de fezes se espalhava. Em uma ocasião, o pedido foi tão forte, que borrou os dentes de merda. Os meninos do bairro passaram a chamá-lo de “boca de bueiro”,”ralo sujo”, “hálito de esgoto”, “boca de merda”, “língua de privada” e tantos outros que conseguiram imaginar.

Suas amizades eram restritas. Ninguém gostava de ficar com uma pessoa, como diziam, “cagava pela boca”. Para espanto ainda maior, o garoto havia guardado outro segredo. O arroto, aquele fenômeno esperado e que fora substituído pelo peido, saí por baixo. Isso mesmo. Sim senhor. O garoto arrotava pelo cu, ou ânus, para os que ainda se chocam com essa palavrinha de uma sílaba só. Sentia arder as pregas quando arrotava algo mais gaseificado. No porre que tomara de cerveja, soltava cada arroto, que os amigos pediam que repetisse. Ele, bêbado, arriava as calças e ficava de cabeça para baixo, soltando um arroto maior que o outro. Os amigos, loucos de bebida, se mijavam, um chegou a cagar na roupa de tanto que riu. Descobriu que poderia sim ter convívio social. Mas os pais estavam desenganados. Aquele anjo, agora era uma aberração inferna. Um demônio com as funções invertidas. Levaram o garoto em um terreiro e com aquela comida forte que serviram, o garoto acabou peidando no rosto do pai de santo, que ficou irritado e expulsou todos do lugar santo. Um amigo, tentando consolar o garoto, disse que ele devia ter sido “cavalo” do caboclo peidorreiro. O fato é que o menino tentava evitar o que lhe causava esse tipo de constrangimento.

O tempo passou e chegou a primeira namorada. A situação foi triste. Era beijo com gosto de merda e no banheiro de casa, quando o apresentou aos pais, podia ouvir os arrotos no banheiro. Carlinhos tentou disfarçar indo no sanitário, mas segurar a potência quando vem por baixo parecia ser ainda mais difícil. Vários relacionamentos que não vingaram. Alguns contavam até uma história. Dizem que o menino, de tão revoltado, resolver dar o butão. Pensou que se não conseguiria se relacionar com mulheres, ia para um ato mais pragmático, já que teria relações visando um sexo diferente do que aquilo que estava acostumado. Isso porque, até na zona que freqüentou, a mulher riu de sua situação. Mas quando o cara foi lhe enfiar a piroca, ele soltou um arroto daqueles, fazendo o pau do sujeito encolher e sumir entre as bolas. Sua sina era ficar sozinho. Arrumou um emprego em cidade distante e procurou abafar o segredo, que só familiares e pessoas de sua cidade conheciam. Na empresa que trabalhava, conseguiu viajar para o exterior e entrou em contato com mestres indianos que ensinaram técnicas de manipular os gases, quer dizer, o corpo em geral. Com especialistas médicos, havia descoberto que seus canais eram invertidos, foi mais ou menos o que entendera da explicação. O risco de morte era certo, se tivesse que inverter os pólos.

Essa vida é mesmo um mistério. Em uma visita à Rússia, conheceu uma mulher que mudaria sua vida. uma pequena cidade, que nem constava no mapa, de nome impronunciável, onde fora residir por conta de uma obrigação de trabalho, conheceu Matriuska. Que mulher. Desde cedo ficaram encantados. Como contaria aquele seu segredo? Foi quando, em uma noite chuvosa, em prantos, revelou toda sua situação, misturando sua linguagem com a da moça. A mulher entendera sua situação e acabaram casando, deixando para se conhecerem nas noites de núpcias. Chegado o tão sonhado dia, o casal havia conseguido ir para uma ilha paradisíaca. Ficou combinado, que quando fosse peidar daria um sinal para que parassem de se beijar e se fosse algo que borrasse os dentes, ele faria a higiene bucal e só depois voltariam a oscular. Nunca a palavra oscular foi tão apropriada. Para espanto do rapaz, a moça também tinha seus segredos. Matriuska, por incrível que pareça, era a mulher ideal para Carlos. Ficou surpreso ao perceber, que sua esposa, quando sentia excitação, gozava pela boca, eliminando secreções e chegando a babar gozo. E mais, peidava pela vagina e arrotava pelo cu, como nosso herói. Um feito para o outro. Foram tão felizes, que logo tiveram um filho. Pasmem, mas o leite não saía das mamas e sim das narinas da coitada, que quase sufocava com os esguichos de leite que o garoto sugava. E quando espirrava, respingava leite nas pessoas. E eles, como manda a boa tradição, viveram felizes para sempre. Alguns os chamavam de anormais. Mas quem seria normal nesse mundo? — perguntava Carlos, com um sorriso de satisfação ao contemplar sua bela família.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 28/01/2014
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