O Piru de Ouro
Fala-se de certo exibicionismo que fazem com que pessoas se tornem extravagantes. Talvez esse seja o adjetivo apropriado para esse pitoresco caso. O homem, contente demais com seu órgão. Pode ser que por alguma influência freudiana. O fato é que ostentava o falo. Ficava horas em frente o espelho, feito um Narciso das partes baixas. Venerava sua bengala, a ponto de nos vestuários, exibir com largo sorriso o seu badalo, que ia sacudindo entre as pernas, sendo minuciosamente enxugado e polvilhado com talco. Quando ia para a cama com uma mulher, existia todo um ritual, em que a “sortuda” precisava reverenciar o seu órgão com toda a pompa de uma súdita fiel e submissa. Para que depois recebesse a honra de ser invadida por aquela preciosidade. Aquele homem chegava a observar instantes antes do ato e depois do acontecido, para ver se ainda estava intacto.
Um dia, passou por sua mente uma ideia. Havia recebido uma herança. Resolveu ir além dos piercings. Conseguiu com intervenção médica, após uma volumosa quantia paga, para que o procedimento fosse feito independente da ética. Agora seu pinto era de ouro. Foi todo revestido. Com os canais preservados para não causar necrose e nem impedir o fluxo da urina. O que modificava é que não teria mais a ereção como antes. Acionava um mecanismo e o bicho ficava de pé, simples assim. Duro ficaria o tempo todo. Algumas vezes, quando alguém esbarra no sujeito, pensava ter encostado no cano de uma arma. Ele orgulhoso dizia se tratar do bilau, para a pessoa ficar sossegada. Agora mesmo é que se exibia. Era um mastro perfeito que erguido brilhava feito a luz do sol. Ouro puro. Gastou uma baba no processo. Mulheres começaram a aparecer para usufruir daquela fortuna. Algumas gostaram, já acostumadas a vibradores e coisas do tipo. As mais românticas rejeitaram, acharam que se tornara muito mecânico o ato e que era gelado e que demorava esquentar dentro delas. Além disso, umas diziam que poderia perfurá-las por dentro. Anal nem pensar, por causa do medo delas do estrago que causaria e dele com receio de que borrassem sua obra-prima.
Foi quando ocorreu a tragédia. Uma trama sórdida. Uma de suas amantes, desejando obter aquela riqueza, o drogou. Acordou castrado. O membro sumira. Fora vendido a preço de banana em uma feira onde existia uma placa que dizia: “compra-se ouro”. O homem, desolado, ficou sangrando. Foi amparado e levado até o hospital. Perda total. Agora usava uma sonda para urinar e todo dia se escondia nos vestiários e desviava o olhar dos conhecidos ao encontrá-los nas ruas. Pensou em se matar. Chegou a encontrar a mulher que destruiu sua vida. Mas nada havia mais a ser feito. Talvez matá-la. Só que isso não traria seu bem precioso novamente. Não conseguia mais trepar e começou a ser trepado. Dizem que para se punir. Mas o fato é que essa foi a forma que arrumou de conseguir seu piru de volta. Levava no rabo o coitado. Mas isso já era costume em sua vida. Trabalhador da indústria, que já tinha se habituado a receber salário mínimo. Dinheiro é mesmo coisa do capeta. Se não fosse aquela fortuna, não teria feito essa estripulia e podia ter mantido sua integridade fálica. Agora é apelidado de rabo de ouro pelos mais íntimos e dizem que vive bem. Até que se prove o contrário.