Esquisito

Andava de carro em busca de uma festa infantil. Finalmente o local foi encontrado. Aquelas crianças reunidas e os adultos conversando com elas como se fossem retardados. Sentei e abri uma cerveja. Observando as pessoas, feito macacos se exibindo em um pequeno circo. Demorava para servirem as coisas de comer e beber. Tive que descobrir sozinho o caminho da geladeira e ir me servindo. Os homens olhando as pernas das mulheres dos outros homens presentes e as mulheres olhando a bunda dos homens das outras mulheres presentes e até dando uma conferida no pau por cima das calças e bermudas. Serviram churrasco e a molecada comia e ia para o pula-pula. Fiquei esperando uma vomitar daquele troço. Um garoto veio puxar conversa comigo. Falava normal, sem aquelas babaquices de criança, comentando que aquela festa estava um tédio. Logo descobrir que era o aniversariante. Se esse menino crescer com essa cabeça vai ser melhor que muito marmanjo que conheci por aí.

Resolvi ir embora. Deixei as pessoas que vieram comigo e fui tentar descobrir o caminho de volta. Me meti em cada beco. Indo parar em rua sem saída. Atravessei um túnel. Carros de polícia passando em alta velocidade. Nem uma pessoa naquelas ruas. Eram minhas. E o combustível indo embora. Ganhei uma avenida iluminada e fui embora, cruzando vez o outra com algum veículo em sentido contrário. Quase subi no canteiro central, distraído com meus pensamentos. Endireitei o carro e comecei a fumar, soltando fumaça pela janela. Me deparei com uma bela vista no acostamento, onde a cidade estava longe. Certas coisas ficam tão belas quando se distanciam. Estava com o gosto dos salgadinhos da festa e imaginando que os meus caronas me xingaram muito a esta altura do campeonato. Que se fodam. Acho que estava na direção certa. A cidade cada vez mais se aproximava, perdendo aquele encanto de quilômetros atrás.

Fui visitar um amigo que morava em um gueto. Entrei e ele veio me mostrar um animal de estimação estranho. Pelo menos não muito usual. Parecia um cachorro-do-mato ou algo do tipo. o bicho andava de um lado para o outro e emitia uns barulhos estranhos. Tive vontade de acertar aquele animal na cabeça para que ficasse quieto. Entrei e veio me mostrar um calango. Na verdade era um camaleão, o bicho mudava de cor. E ficou preto como a minha roupa. Ele disse que gostou de mim, pois foi logo subindo em minhas costas e eu brincando com ele. Tentando ser simpático. Fui brincar com o dedo e o bicho esticou as garras, prendendo as unhas por baixo das minhas. Dor filha da puta. Gritei meu amigo. Ele veio e disse que era um acidente. Com muito custo tirou uma das garras do bicho. A outra ele disse que só com cirurgia. Chamou um conhecido que morava ali perto e iam cortar um pedaço do meu dedo. Duvido que fizessem isso com o bicho.

Cortar o pedaço do dedo é o caralho. Consegui me desvencilhar da outra garra. O bicho veio pra cima de mim. Mordeu meu dedo com força. Chegou a sangrar. Não sabia que esse tipo de animal tinha tentes cortantes. Mais dor. Consegui arrancar o bicho da minha mão. Ele mordeu a lateral da mão. Ficaram dois furos, escorrendo sangue e um hematoma. Bicho maldito. Vai se foder. Arranquei ele e segurei pela cabeça. Com o cabo de uma faca dei cacetadas na cabeça dele, depois pisei em cima e arranquei a cabeça. Enrolei tudo em um papel e joguei no lixo. Logo vem meu amigo, perguntando o bicho. Mostro o estrago que fez na minha mão. Fica nervoso e vem pra cima de mim, querendo saber o que fiz com o bichinho. Bichinho o cacete. Quase comeu minha mão. Pensou que eu havia jogado no vaso e dado descarga. Agachou e ficou gritando o nome do bicho. Enfiando a mão dentro do vaso e tentando puxar. Conseguiu tirar um pedaço de sabonete com um cocô agarrado nele. Fui embora e nunca mais voltei na casa daquele cara. Sujeito esquisito.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 21/12/2013
Código do texto: T4620319
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