Herança

Dois irmãos vivendo em uma confraternização, daqueles convenientes aos meios familiares, seguiam a monotonia de cada dia. Um dia, foram abalados pela presença de um terceiro homem, que parecia uma espécie de agente amador. Esse novo personagem, investigava algo relacionado a herança de família, sendo muito bem recebido e tratado pelo segundo irmão, que se afeiçoou ao sujeito. O segundo irmão, em uma postura antipática, tratava algumas vezes com frieza e outras com ironia, esse outro que não lhe agradava. O agente, tomado de coragem, conseguiu convencer uma moça bem apessoada do serviço público, para que o ajudasse em relação a determinada documentação.

Em uma noite, o casal saiu de carro, observando a movimentação acanhada de pessoas em vielas sombrias e mal faladas. Chegando a escola, onde existia aquilo que buscavam, desceram do veículo com olhares que percorriam os arredores do lugar. A mulher, com cabelos loiros até os ombros, vestida de calça jeans, sapato de salto e blusa com alguns babados, que deveria ser moda na ocasião, possuía um rosto sério e ao mesmo tempo simpático, sem nenhum traço de maquiagem. Dentro do estabelecimento de ensino, se dirigiu ao setor de arquivo, após ter conseguido autorização com uma funcionária que era sua amiga. O homem aguardava em uma sala próxima a entrada, passando os olhos sobre as capas de revistas ali expostas, sem nada que lhe instigasse, fazendo com que se sentasse, cruzasse as pernas e aguardasse. Com a documentação em mãos, ambos saíram da escola.

Quando chegaram à escola, a mulher sentiu um frio na barriga ao perceber a resta de alguém, que se movia próximo a porta, quando entraram. Agora, parecia que a mesma pessoa estava ali fora, mas sentada, com um chapéu com um caimento que tampava-lhe o rosto. Comentara o fato ao que nós chamamos de agente, o que fez com que redobrassem a atenção até o veículo que deixaram estacionado. Ao chegar, o sujeito percebera que o rádio do carro estava ligado, o que estranhou, por não ter cometido essa distração quando chegaram ao local. Entraram no carro, com uma acelerada forte e um leve cantar de pneus. O homem de chapéu, manteve-se na mesma posição, feito uma estátua noturna, uma espécie de gárgola menos embrutecida. Naquela madrugada, a mulher foi entregue em casa, com um sincero agradecimento.

Um fato funesto ocorria na mesma noite dos relatos narrados acima. O primeiro irmão, ou seja, o que fora simpático com o agente e o mais velho daqueles dois mencionados, acabou sendo brutalmente assassinado. Apenas um disparo, sem tempo de reação, fazendo com que o irmão mais novo ficasse chocado e sensibilizado, buscando ajuda daquele que menosprezava. Uniu suas forças as do agente, para que ambos pudessem punir os que cometeram aquele crime. Já haviam identificado os suspeitos, a questão era como atacá-los. A princípio, com o objetivo de penetrar em uma espécie de esconderijo, para reunir as provas finais para a acusação de tais indivíduos, adentraram uma pequena fortaleza. Foi preciso percorrer trilhas que pareciam parapeitos, com cuidado para não despencarem de uma altura considerável. Diante de uma espécie de represa menor, viram a necessidade de penetrarem na queda d’água adiante. A visão conseguia identificar dutos que possuíam hélices violentas, que trabalham em uma espécie de processo de centrifugação.

Apesar do receio em seres despedaçados por aquela grande quantidade de hélices e da altura, que parecia colossal, após transporem a queda d’água, resolveram arriscar. O irmão, impulsionado pela vingança, fora o primeiro destemido. O agente, indo em seguida, caiu de uma altura pequena, algo em torno de dois metros. Viu que a cascata de água provocava uma ilusão, fazendo crer que a altura era maior, e os dutos, sugavam toda a água, o que significa que caíram secos do outro lado. as últimas provas foram reunidas, o local onde os criminosos se encontravam foi descoberto, o que fez com que decidissem optar pelo confronto direto. Mais algumas considerações sobre o ato que iriam cometer, mais palavras sobre a memória do irmão falecido, além do encaminhamento das provas, que não deixariam que o sacrifício fosse em vão.

Chegando ao local do confronto, observaram uma grande área aberta, com apenas três veículos no centro. Estacionaram próximo aos outros carros e saíram sem hesitar. O agente pode ver o primeiro disparo do irmão, que fez com que um sujeito magro, próximo a uma caminhonete, fosse ferido mortalmente. Em poucos segundos, outras pessoas começaram a revidar, sendo possível ao agente visualizar a trajetória dos projéteis que iam na direção deles. Mais carros começaram a aparecer naquele em meio a uma neblina de poeira que o vento produzia. Era sem dúvida uma emboscada. Estavam cientes desse ataque e preparados para ele. O mais surpreendente, era o olhar do agente, identificando os tipos de armas em conflito, desejando que alguma lhe fosse entregue.

Com as mãos limpas, apontava o dedo indicador e atirava, como se sua mão fosse a própria arma. Nas pessoas que mirava e atirava, conseguia ver claramente o tiro acertando, a mancha de sangue se formando e o sujeito tombando morto. Ao mesmo tempo, identificava a trajetória das balas e desviava delas, captando apenas restas luminosas da pólvora e o som do projétil rasgando o ar. Não sabia se o outro irmão ainda estava vivo, já que seu companheiro de combate estava escondido atrás dos carros, sem contato visual. A medida que iam chegando mais carros e sujeitos armados, o agente só se preocupava em abater o máximo de alvos possíveis. Os corpos se avolumavam pelo terreno, com um museu de carros sem quem os guiasse. Vidros estilhaçados, marcas de perfurações na lataria. O céu estava ensolarado, sem sinal algum de que fosse chover. Tudo estava tão agitado, que parecia calmo. O caos era a nova ordem. Nada de socos ou brigas de faca, apenas armas de fogo se combatiam. Talvez fosse feriado, o que justificaria não existir nenhuma movimentação ao redor do conflito. O agente passou a ser o centro, pois o seu olhar é a referência. Enquanto ele existir, essa história continuará.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 25/04/2013
Código do texto: T4258651
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