" A CASA NOVA"

“A CASA NOVA...”.

Após fatigante viagem mãe e filha finalmente chegavam ao seu destino. Aos poucos o novo cenário ia se descortinando perante os rostos meigos, afáveis e resignados de ambas.

O céu de um puríssimo azul combinava perfeitamente com as montanhas verdejantes do lugar cobertas por majestosos pinheiros; eterna morada dos mais lindos pássaros multicores...

Ao longe se podia ouvir o doce murmurar das inúmeras fontes a cantarem em uníssono o poder curativo de suas cristalinas e puríssimas águas...

De repente tudo muda! Um alarido de crianças faz com que as mulheres rapidamente voltem suas cabeças à direção de uma majestosa escola construída aos pés de uma colina, onde fagueira descansa uma frondosa figueira.

No rosto de cada infante percebe-se a alegria imanente ao estudo oriunda da possibilidade concreta do real desenvolvimento das potencialidades intelectuais, emocionais e morais ínsitas à evolução do ser humano!

Passados alguns instantes Maria José e sua filha Laura decidem rumar para sua nova casa. Felizes ambas constatam ser a moradia ensolarada, arejada, simples em seu acolhimento quase interiorano... Cômodos grandes desfilam suas criativas e funcionais decorações... Em um mesmo ambiente convivem harmoniosamente a antiga penteadeira com o espelho bizotado, e um móvel próprio para acondicionar os “lap tops “, celulares”, tablets” e outras inovações tecnológicas.

Laura põe-se então a desfazer suas pesadas malas; e uma profusão de vestidos, saias, “tailleurs”, blusas de seda, “blazers” e suéteres forma uma inusitada e versátil ciranda em sua cama de solteira.

Cansada, a moça então desabafa à sua mãe Maria José:

_ Ah, mamãe... Não deveria ter trazido tantas roupas... Aqui neste lugar a vida flui de uma forma mais branda, suave, e a felicidade pouco ou nada custa...

Do outro lado, a mãe da jovem replica:

_ Laura, o que foi feito dos demais objetos que você possuía e pelos quais você detinha tanto apreço?

- Mamãe, eu tive a cautela de tomar as providências necessárias e deixar tudo documentado... Uma moça de minha inteira confiança cumprirá bem e fielmente as obrigações para quais foi designada... Tudo a seu tempo será entregue a quem de direito. Os anéis, brincos, pulseiras ficarão com as mocinhas, o alfinete de gravata de meu falecido avô Eduardo com o rapaz, e os imóveis serão divididos com todos.

- Laura, eu não pude conhecer os destinatários de suas liberalidades, mas sei que você nutria por eles uma grande afeição...

- Mamãe, eu jamais pude compartilhar com qualquer um deles um sorriso, um olhar ou uma palavra amiga... Mas, eram eles parte da vida do homem que eu mais amei e amo nesta vida! Ele ainda não está aqui, mas brevemente nos encontraremos.

Muito tempo então se passa.

Maria José está novamente lecionando para um grupo de crianças de tenra idade, e aos poucos lhes vai inculcando os ricos e imprescindíveis valores democráticos ao fazer uso de belas e escorreitas parábolas!

Mais algum tempo transcorre...

Laura e Paulo estão caminhando de mãos dadas por uma movimentadíssima avenida de uma grande cidade. De pronto avistam uma numerosa fila formada por homens e mulheres pré-aprovados para uma seleção com vistas ao preenchimento do cargo de engenheiro civil chefe de uma grande multinacional.

Raiva, insegurança, cobiça e uma frívola competitividade ganham as mentes de muitos concorrentes, que ansiosos esperam por suas chamadas à entrevista final.

No final da fila encontra-se José, simplesmente vestido, trajando um terno velho, e muito surrado. Envergonhado de suas poucas posses, ele aos poucos vai se distanciando da fila, para então asilar-se em sua permanente insegurança.

Notando os movimentos do moço, o casal então se dirige a ele. Laura toma a fala:

-Boa tarde, José! Como vai? Por favor, aceite este presente que Paulo lhe oferece. É um bonito terno, fino e bem cortado!

Ao que Paulo complementa:

_Neste País ainda tão atrasado onde os valores inumanos do capitalismo selvagem se sobrepujam sobre os altaneiros valores da Justiça e Cidadania, o hábito ainda faz o monge!

Aturdido, o rapaz apenas vocaliza baixinho:

_ Meu senhor, o terno não irá lhe fazer falta?

- De forma alguma, José. Onde estamos vestimo-nos simplesmente...

-Onde os senhores moram?

-Longe, muito longe daqui José. Mas, sabemos que de longe você é o candidato mais preparado... Em sua prova escrita, não foram encontrados erros substanciais. Basta agir com inteligência, justiça e humildade! Assim você colherá muitos êxitos em sua carreira profissional, explica Laura.

Como farei para encontrá-los?

Os dourados cabelos de Laura fulgem ao Sol e ela olha com infinito amor para o rosto de seu escolhido... Ela radiante em sua mocidade, ele majestoso no esplendor de seus anos...

-Quando procurarem por mim encontrarão Paulo responde Laura.

_E quando procurarem por mim encontrarão Laura responde Paulo...

E assim o casal se despede do jovem concursando... Sempre andando de mãos dadas, sorrindo um para outro, vivenciando todas as bênçãos de seu imortal amor em sua nova e eterna morada...

Ivone Maria Rocha Garcia
Enviado por Ivone Maria Rocha Garcia em 20/03/2013
Reeditado em 02/01/2017
Código do texto: T4199457
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