Festa

Por corredores cheios de gente. Esbarrando em rosto desconhecidos que querem se fazer conhecer. Procura-se uma sala em especial, onde leva-se um papel e recebe-se outro. Todos fazem esse percurso, muitos perguntam aos que já foram, a direção. Aquela esperança de dizer um “oi” aos amigos, que podem ali estar envolvidos. Sobe e desce de escadas, em movimentação constante. Se perde, adentrando um salão, onde é realizado um casamento. Pessoas elegantes, reunidas, e eu de trajes simples, camisa puída, nu da cintura para baixo, embora o tecido alongado, consiga cobrir minhas genitálias flácidas. Encontro a sala, as pessoas dentro dela, concentradas, diante de outro papel, que preenchem. Batemos cabeças. Andando em círculos, direcionados por funcionários, com tiras de papel voando, segura levemente pelas mãos. Somos formigas, em um trajeto rotineiro e de sobrevivência.

Chego próximo ao casebre. Disseram-me que o proprietário estava. Um homem de modos rudes. Nas margens do rio, vejo o sujeito, em uma espécie de jangada. Acena com a mão direita. Retribuo. Percebo que atira objetos em direção a parte rochosa. Grandes explosões, fazendo vez ou outra uma pedra se mover. Segue com sua embarcação, enquanto espero ansioso. Resolvo caminhar pelo terreno rústico. Encontro sua filha. Rosto deformado, com traços de debilidade mental. Ela pede que eu me retire, pois afirma que o homem, ao descer do barco será cruel comigo, como é com ela. Sua pele escura e a boca torta quando fala. Sua fala é enrolada, mas consigo compreender. Sinto vontade de chorar, ao ver o estado daquela criatura. Mais maltrata do que tudo. Sua roupa, tão surrada, as mãozinhas calejadas. Ainda encontro uma doçura naquele olhar lânguido. Caminho mais depressa, seguindo o conselho e me afastando daquele terror.

É a festa que acontece. Bebo com os amigos, todos vão ficando alucinados. Reunidos em frente à moradia de dois andares. O som alto, as garotas dançando. Um baile a céu aberto. Os pais fora de casa, embora todos tenham aparência de adulto. Era possível ver aqueles seios saltando, a cada pulo dado. Até que a camiseta não aguentou e fez saltar um mamilo para fora. Abraços e beijos. Bebida derramada sobre o tapete. Dois grupos, um de homens e outro de mulheres. Uma das meninas, alterada pelo álcool, começa a berrar. Arma-se com uma faca e faz cortes nas palmas de suas mãos. Xinga e se descabela, derrubando objetos. Começam a atirar copos e garrafas na rua, espatifando os vidros. Alguém tenta conter um excesso. Só que o casal anfitrião, faz sexo no chão do banheiro, próximos a privada, enquanto a mulher lança jatos de vômito para dentro do vaso, salpicando no peito do seu amante, que é cavalgado. Derrubam o aparelho de som, restando apenas a algazarra como música. Alguém pode ter chamado a polícia, embora a vizinhança esteja silenciosa e afastada.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 16/01/2013
Código do texto: T4087604
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