Pandemônio
Ele me olhou antes de cair. Os olhos estavam parados, petrificados, embaçados, e me olhando. Não entendi ao certo a cena, só sei que Pietro estava assustado quando me olhou.
Mas o que eu tinha de tão assustador? Eu estava normal!
Lembrei que fazia um tempo que ele estava estranho, escondendo algo de mim. Empenhei-me a tentar descobrir o que era. Fui ao apartamento de Pietro. As dobradiças estavam enferrujadas e tive dificuldade para abrir a porta. Ao entrar, o susto: em todas as paredes havia fotos, fotos minhas, fotos que eu nem lembrava, de todos os lugares que já fui e até dos que nem lembrava de ter estado lá.
Pietro estava investigando a minha vida! Mas por quê?
Resolvi olhar as gavetas. Havia certidões das mais diversas pessoas e em todas a data de nascimento era a mesma da minha. Abri outra gaveta, falava de acidentes. Nessa, vi fotos de incêndios, explosões, e também eram todas do mesmo dia.
Assustei-me.
Revirei tudo, transformei o local em um pandemônio! Pandemônio... Havia uma tímida gaveta com uma inscrição. Cheguei perto e li: Demônio. Minha vontade de descobrir tudo foi maior que o meu medo. Tentei abrir a gaveta, mas ela tinha um cadeado. Procurei uma maneira de abri-la e quando percebi que minhas tentativas foram inúteis, fiquei com raiva, bati na gaveta e puxei o cadeado. Tudo com uma força sobre-humana!
A gaveta, para o meu mal, abriu-se. Havia papéis com inscrições estranhas e o mais estranho é que eu entendia o que estava escrito. Falava algo sobre um demônio que viajava no tempo, espalhando o fogo do inferno em todos os cantos do mundo e sobre um anjo que deveria impedí-lo e prendê-lo. Mas porque Pietro tinha aquilo? Era macabro! Ele nunca havia me falado nada sobre aquilo.
Algo no canto da gaveta chamou minha atenção. Era um livro que brilhava e exalava um perfume. Abri-o e dentro havia palavras escritas em letras douradas. A primeira página falava sobre uma missão e o que não podia acontecer. Havia uma página marcada e fui direto a ela. Era a letra de Pietro, aquela linda letra que eu lia nas cartas de amor que ele me mandava. Estava escrito:
“Perdão, Senhor.
Falhei no meu propósito e fui fraco. É que a última forma em que ele veio foi forte demais até pra mim. Ele virou ela e me amou, tão inocentemente, muito diferente das outras formas que tentou se aproximar. Não quero acreditar que Luna seja o Mal. Leva-me de volta se ela o for, senão quererei ser humano. Perdão, Senhor, teu anjo falhou.”