Exposição

Todos sentados em volta de uma mesa retangular, com vozes embaraçadas que discutem sobre os trabalhos expostos. Petiscos distribuídos aos presentes, com aquele requinte de glutonaria burguesa. Olhares perdidos em meio a obras de arte espalhadas pelas paredes, que estão decoradas com intuito de atrair clientes. Nomes que passam a significar mais que o trabalho, tornando-se rótulo consumível. O inexperiente vendedor circula pelo rastro dos seus contratantes. O ar condicionado refresca poluindo o local pouco arejado. Damas da baixa elite, desfilam com seus modelitos extravagantes e olhares de flerte. Senhores robustos, com camisas apertadas pelo excesso de barriga, caminham resolutos, com ar de entendidos, dirigindo-se a área externa para consumir seus cigarros, podendo relaxar, longe das falsas aparências de peritos.

O garçom, distribuindo drinques, faz contornos ao redor das pessoas, procurando ser discreto o suficiente para quase nem ser percebido. Bocas e membros articulam um gestual longínquo, que faz relembrar marionetes bailando sobre um palco frágil. Objetos dizendo mais do que as pessoas, estáticas em sua representação mecânica. Uma música de fundo, dava um ar melancólico, deixando pairar aquela calmaria que é de profundo angústia. Um produtor ou outro, expunha as qualificações de seu atrativo comercial, com a intenção de persuadir os clientes e angariar alguma pecúnia.

Alguém chorou. Sempre alguém chora. Uma lágrima velada, já que procura-se disfarçar o pranto perante o público, mesmo que todos já estejam chorosos por dentro. O choro sem lágrima é ainda mais profundo, ressecando as entranhas dos chorosos reprimidos. Rostos formando um ridículo baile de máscaras. Vendidas algumas peças, era possível averiguar o sorriso malicioso que nascia na face dos comerciantes. Apenas uma senhora, parecia não desejar disfarçar sua insatisfação, sentada em uma poltrona, bocejando constantemente, fazendo gestos de repúdio aos garçons quando tentavam servir-lhe algo.

Já com o evento no término. Surge um cliente, formato de rosto árabe, nariz adunco, barba por fazer, apenas trajando uma camiseta, nu da cintura para baixo. Transitava por entre os vendedores, indiferente a seu estado pouco convencional. O inexperiente vendedor fora solicitado, mostrando-se tímido, pensando se o cliente não percebia o estado em que se encontrava, ou mesmo as outras pessoas. Mas no fundo, acreditava que aquela excentricidade deveria ser comum nesse meio, procurando manter a postura firme e os olhos sempre encarando o olhar do cliente, jamais se perdendo em suas regiões baixas. Foi quando o jovem vendedor percebera, que também se encontrava nu da cintura para baixo, o que fez surgir um tom de alívio em sua mente, ao mesmo tempo o repúdio pelo homem, que se imaginava original, sendo que já havia desde o início se portado muito mais atrevido do que esse sujeito extravagante.

Logo fora chamado pelos proprietários, conduzido aos salões mais profundos. Orientado para se servir da boa comida que ali era desfrutada. Um ambiente quase familiar, tendia a lhe adular o ego, causando certa conveniência ao seu estado de espírito. O mundo das aparências, mantinha-se intacto, circulando com sua reprodução improdutiva, angariando novos adeptos, ávidos pelo requinte da farsa, que seduz, por possuir essa mística, que só a mentira é capaz de proporcionar.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 19/10/2012
Código do texto: T3940947
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