Sonho passado
Estou sentada, receosa do que posso criar com o movimento das minhas mãos.
Por favor, prestem atenção, pois meu desejo de relatar é maior do que a ânsia da criação.
Ontem, meus olhos pesados não cediam ao sono, eu preferi alimentar minha mente sucessiva a fantasias. Era meu momento ausente da realidade, afugentado nem senti o peso que pressiona de forma incansável meu peito.
Criei meu mundo, corri ao longe, ao pico mais alto, onde nem a culpa me alcançaria, traçando linhas e laços, aplacando mágoas e essa pejorativa saudade. Tudo estava perto demais, onde eu queria que estivessem. Eu não perderia nada, não esvairiam por minhas mãos, pois ali eu tinha o controle sem a presença do medo de errar. Perdoem-me se ainda hesito no meu alinhavar de palavras, nessa junção, que conta meu ocorrido. Ainda pretendo bater asas, só quero que compreendam que preciso me acostumar com as alturas.
Acompanhem-me se isso for o desejado, continuarei sem relutar...
Desenhei com lembranças e imagens gravadas tudo que por falta eu queria ter em meu conto imaginado. Tem coisas que por mais que eu relute, é tudo em vão tentar mentir, o fato se torna inalterável, eu somente me cortei durante o percurso de errôneo caminho. Nada mudou. Estive perto, no mesmo vento que arranhava... Isso me bastou, por aquele dia. Sou relutante e acabei dormindo, já não sei por que o faço... Dali por diante, nos sonhos, tudo se tornou vivo demais. Esse é o ponto, o motivo que me coloquei a escrever meu leve praguejar.
Ele veio até mim, chorando baixinho, amedrontado com algo que eu estava fazendo, levei uma bronca de minha mãe por isso - Sabemos que sonhos começam sem início, e acabam se fim. Eu nunca havia me questionado do motivo, até hoje - Porque foi em mim que ele se segurou? - Me atrapalho com o contar, e me perco no meio sem fazer disso algo compreensivo, perdão. Sonhei com um garotinho noite passada, mesmo não o conhecendo nessa “realidade”, rotulada como verdadeira, por ele eu possuía algo de indescritível sentimento. Juro que, por ser tão pequeno, de frágil estado, fiquei sem saber o que fazer, sem ação.
A porta se abriu e de dentro eu sair, não sei dá onde. Ele tinha lágrimas por todo seu rostinho, e de um canto encolhido ele me olhava. Não me lembro de suas palavras exatas, mas permaneço até agora com a mesma sensação.
- Não faça isso! Não vê quê está o assustando desse jeito?! – meu silencio, sem resposta, foi por tê-lo encontrado, e eu ainda não entendi...
- Desculpe... – se perguntarem o que eu estava fazendo, nem eu mesmo sei, porem o sofrimento dele era minha culpa. Abaixei-me até ele, e não posso descrever com essas palavras mortas, que não transmite com vivacidade o que me transbordava por dentro. Eu podia sentir ali, tudo de uma forma oposta nessa vida desperta – Não fique assim. Não chore... – o peguei no colo.
Seu cabelo quase louro e seus dedos pequenos... Podemos amar alguém de forma diferente, sem demarcações conhecidas ou relatadas, de uma forma atada como predeterminada? Eu o queria perto de mim... E a imagem das vezes que passei a mão em sua cabeça, o acariciando, parece não se desfazer como meus outros sonhos voláteis. Já não tenho certeza onde esbarrei. A sua forma cuidadosa de falar e de se expressar, dengosamente, me conquistavam com o prolongar do tempo.
- Mãe... Como ele se chama? – eu o carregava em meus braços.
- Danielle... Ele se chama Danielle. – é estranho notar agora como a nada eu associei...
- Vou te chamar de Dan. Ta bom? – Sorrindo, mais uma vez passei a mão em seu cabelo...
Eu não queria perde-lo, como por mais de uma vez nessa vida lúcida eu perdi seres que eram mais do que importantes para mim. Era com ele que eu queria ficar, e o protegeria sem medir esforços. Já viu história mais louca que essa?
- Quero aquele... – me disse ele apontando para um brinquedo. Sua voz baixa, suave, quase inaudível, sensível e doce me completava de certa forma.
- Só aquele? – eu apontava para outros, o mostrando as outras opções.
Ele escolheu mais uns três brinquedos. E eu realmente queria dizer mais a vocês. Só não consigo criar algo que somente pode ser sentido. Frustrante barreira.
Eu ainda possuo cada sensação, sentimento, emoção, que tive noite passada. Mais eu acordei, meus olhos se abriram, e o dia estava claro, o sol brilhava com uma luz cegante. Tudo escapou de mim, e mais uma vez eu perdi... Eu perdi uma parte de mim no despertar. Encontrei-me, com o que ninguém nunca se deparou. E por breves horas eu conseguir me olhar, encostar, achar que eu pudesse estar completa. Eu realmente desejei que ele fosse real, ainda quero, ainda busco... Que fosse assim. Eu poderia dormi eternamente sem me preocupar...
E hoje, tendo somente o resquício... Tenho tanta coisa pra pensar. E o que ainda quero ser.
-Mãe... Com ele podemos ficar?