O CÃO QUE NÃO ERA DE NENHUM ANJ

MIGUÉL,

O CÃO QUE NÃO ERA DE NENHUM ANJO

Na verdade nunca se soube porque todos os dias amanheciam 23 montes de bosta de cachorro no jardim, que não era de flores nem plantas, mas coberto de pedras calcarias na casa dos empresários Thiago e Christopher, dois jovens impenitentes que insistiam em negar a existência de visagens e coisas que tais, e nem se deram ao trabalho de comparar os acontecidos desde o dia em que encontraram um filhote de cão, preto, só com uma mancha branca bem no meio do peito, coisa que por si só já dava para levantar suspeitas.

Certo foi que numa sexta-feira, preparados para uma festança, em lugares de donzelas para trabalho de vadiagem pela cidade de Campo Largo,com final em Curitiba ficaram impedidos de sair por causa da catinga que era muita, que entrava pela casa inteira e impregnava qualquer roupa que vestiam, não se salvando nem mesmo com o derrame de mais de um litro de água de cheiro dentro do guarda-roupas.

Com medo de que as donzelas participantes chegassem resolveram desinfetar o jardim, munidos de pá e enxada para remover, bosta tanta. Literalmente puseram mãos à obra, concluindo ao final que mais de cinco quilos e meio de merda caninha já haviam sido retirados e outro tanto ainda se encontra a espalhada pelo jardim de pedras, enquanto o dito cão preto, tranquilamente ficava dentro do seu abrigo, uma casinha de tijolos, até bem feita, ficando apenas com o focinho e com os olhos para fora acompanhando o trabalho dos impenitentes.

Passadas tantas horas, sem que se desse conta de tanta merda, atinaram que alguma coisa não ia bem e que algo de anormal estava ou tinha acontecido, até porque, considerando a quantidade de ração que davam para o cão preto, dessas compradas em supermercado, se pesada antes do uso, não chegaria sequer a dois quilos, consumidos em quatro dias.

Anoitecia, baixava o frio e as luzes custavam a furar a grossa neblina que caia molhando o chão e os lombos dos rapazes, quando ouviram estranha gargalhada vindo de dentro da casinha do cão preto, coisa incomum, pois dali deveria sair, algum latido quando muito, nunca aquela gargalhada . Christopher, também chamado de Kiko,, achou por bem ir verificar o estranho acontecido, largou a pá de recolher a merda do cachorro, puxou Thiago pelo braço esquerdo e, sem qualquer comentário, marcharam para a casinha, escura por demais lá dentro, e, chegando perto, sentiram os cabelos da nunca arrepiarem e as pernas ficando bambas, enquanto arregalam os olhos notando que toda a casinha do cão preto estava totalmente ocupada pelo seu corpo, as suas patas pareciam garras e os olhos esbugalhados com duas brasas soltavam faíscas a cada gargalhada do que pensavam, até aquela hora, ser um cãozinho vagabundo que recolheram numa tarde de folgança em chácara de gente de suas amizades.

Dando a última risada, o cão preto, foi saindo da casa, ficando comprido e fino, até atravessar um dos buracos da grade do jardim e, quando todo o corpo já estava na rua, o animal virou a cabeçorra para trás, deu mais uma risada e duas cuspida que acertaram os dois, desaparecendo dentro da noite,.

Quando as donzelas chegaram, encontraram os dois sentados no chão, olhos arregalados e babando, situação em que ficaram durante três dias, quando conseguiram falar e contar o acontecido.

Nunca mais ouviram falar no cão que, estranhamente tinha sido batizado de Miguel.

SSPóvoa
Enviado por SSPóvoa em 30/08/2009
Reeditado em 01/12/2012
Código do texto: T1783534
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