Entre as Serpentes.

Ao sentir as gotas de chuva gelada, havia ainda na memória sensações rosadas que flutuavam na mente como melodia, em outras horas pareciam pássaros excitados esvoaçando de um lugar a outro e a outros, continuadamente.

As confusões de pensamentos eram como espinhos nas flores coradas das paisagens desordenadas.

Coisas saiam de sua visão rapidamente e fechava-se num mundo só seu. Ela parecia estar lidando com o mundo à sua maneira. Agora, o enorme globo girava para o lado que ela queria, e assim, conseguiria estreitar o espaço entre o céu e a terra, e realizar tudo o que pretendia.

Na melancolia do mundo externo, se desligada num vazio de pensamentos não concluídos, inconsistentes e permanentes, ela desejava caminhar sozinha pela chuva sem se preocupar com o ponteiro do relógio que continuava a andar. Não sentia o tempo passar. O silêncio perturbador, a perturbava e a deixava irritada, e sua ansiedade confundia-se com uma certa beleza.

Com olhar penetrante e sorriso leve, ela era bela mesmo assim. Tinha um jeito simpático de tratar as pessoas, mas, terrivelmente assustador. Seu temperamento a cercava de contradições. Algumas pessoas se esquivavam em falar com ela por receio ou até medo.

Continuava a andar ao longo de uma trilha que cercava um rio e resolveu sentar-se ali. Depois de ver que estava toda molhada, percebeu que tinha uma sombrinha na bolsa, e abriu feito, um guarda-sol e imaginando-se numa praia deitou-se de ventre para cima a olhar para o céu entre gotas espessas e geladas num mundo distante e quente. Só algum tempo depois, é que sentiu o desconforto de estar fria, e úmida. Nada mais sabia, não entendia o quê estava fazendo ali. Por que tinha se afastado tanto assim de sua vida? Não podia imaginá-la fazendo isso, o quê realmente tinha acontecido com ela? Teria ela tido um delírio momentâneo, um surto desmedido ou cometido uma loucura qualquer. Sua cabeça ardia, numa sensação estranha de desamparo, medo e solidão.

Tão longe ficara de tudo, que continuava a se perguntar onde estava. Algumas horas lhe pareciam anos e, os anos agora, ela sabia medir. Desagradava a idéia de saber do tempo novamente, e tudo lhe parecia intenso e nítido demais, odiava os ruídos do mundo comum e as trivialidades do final da tarde tinham-se desvendado diante dos seus olhos, e todos os acontecimentos aconteciam normalmente e sua instabilidade casualmente mantinha-se abalada por qualquer folha que pudesse cair e parecer cobra rastejando na umidade da noite. Ela então decidiu sair daquele lugar rapidamente e,

Voltar para o ninho, entre as serpentes...

Lila Garcia
Enviado por Lila Garcia em 28/07/2009
Reeditado em 28/07/2009
Código do texto: T1723011
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