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Em um dia qualquer, após o coito, com um gatinha ruiva de dezoito anos, Fausto foi questionado sobre sua religião. A menina, antes de qualquer coisa, se pronunciou católica apostólica romana, ia na igreja pelo menos uma vez. Mal ela sabia...

Fausto era ateu, e de uma certa forma, ainda se sentia mal ao falar isso no Brasil. Começava seu discurso de forma fria, factual.

“Você, sinceramente, acredita que a fé, em sentido lato e extenso, é uma coisa inerente ao homem?Pois bem, te olho me olhando. Calma. Vou te explicar. Escute. Me diga, acredita na evolução das espécies? Sim. Darwin. Ele mesmo. É uma adaptação natural bela que fez os homens. Polegares opositores. Sim. Aquilo que nos faz manipular objetos. Ferramentas para a agricultura, para nadar. Mas, estranhamente, nos, seres humanos, não evoluímos como predadores. Somos animais coletores, e por vezes, carniceiros. O canibalismo está aí para provar. Somos frutos da natureza, e dela somos filhos ingratos. O homem acredita em Deus, mas esse Deus é humano. Infelizmente, creio que no fundo, nos resta o agora. Esse agora”

Terminou abaixando a cabeça e se aninhou para dentro das coxas da ginger. Ela não entendeu nada. Mas ele era bonito e rico. Eu amo o Le Grand! Gostaria que ele o levasse até sua casa, longe, lá no Gama. Mas ele o levaria, tinha o melhor emprego do mundo, sempre livre. Só trabalhava quando recebia telefonemas. Devia mandar em todo mundo. Não que Fausto se permitisse compartilhar o segredo com ela. Eram só especulações de uma menina deslumbrada.

Rolaram no sofá a tarde inteira. Fazia um dia bonito, as nuvens pairavam sob o céu estático, as linhas retas se cruzavam no infinito. A esplanada contendo o nada ao lado do palácio; a alvorada, adorada, no fundo era o nada. Feudo burocrático, estático. Em um estalo dedo,a bandeira restava a meio mastro. A morte de alguém importante na capital federal. O clima desértico secava a boca, o tédio era pesado. Fausto estava perdido. Lembrava do pai, do tempo no Exercito do Brasil, cabo raso , pagadezflexoesagoraseufilhodaputa, e por fim, retornou ao quarto de hotel. E olhou profundamente aqueles olhos verdes.

“Eu te amo, sabia? Quero te levar para uma fazenda que eu tenho. Você iria comigo, ruivinha? Você á a mãe dos meus filhos? “ - E riu, como se tudo fosse uma piada. O telefone tocou, uma chamada não identificada.