CHAPÉU DE PALHA

Betão e seu filho de uns dezessete anos, nome Jerry, nesta manhã tomaram o ruma da beira rio na intensão de uma boa pescaria nesse domingo, já começando de manhãzinha, depois de caminhares uns quinhentos metros ajudado por uma ladeira que logo dava bem na barranca desse rio de largas margens, chegando lá Betão se acomodou entre os arbustos plantado a beira d’água, essa pequena árvore deixava cair uns pequenos frutos aos quais os peixes desse lago tinham como alimento principal, logo que caía um frutinho desse n’água já podia se perceber o remanse na correnteza, via-se um cardume de peixes a fim de disputar essa tal comidinha de peixe.

Enquanto isso Betão as vezes de cocaras, sentando na pedra também, enquanto esses peixes faziam festas, outros se prendiam no anzol indo direto para o seu grande jarro cheio de águas, próprio para essa finalidade; conservar os peixes vivos até a hora do consumo, Betão, o pescador mais paciencioso do mundo, de pouco em pouco vai arrancando os peixes d’águas. Enquanto que seu filho depois que desatou a canoa e saiu lá para o meio do rio, buscar as moradas dos peixes grandes que ficam bem nas profundezas do rio, mesmo assim tens que admitir, não é muito fácil localizar os grandes exemplares, mas os já capturados, pelo tamanho dá pros gastos, consumo da família.

Bem!... a tarde já se aproxima, Jerry aporta a canoa às margens do rio, prende a uma pequena estaca a beira da água uns oitentas metros rio a cima. remove os peixes até onde seu pai está pescando, pronto para irem embora de regresso a suas moradias, mas porem algo o chamou atenção, Betão e seu filho Jerry ficaram atento para uma gritaria que vinha de uma das choupanas que existia por ali, parecia gritos de horrores, alguém matando alguém, der repente alguns cinquentas metros presenciaram um caboclo se lavando na correnteza desse rio, estava com um facão e as roupas banhadas de sangue, se lavava com insistência a fim de se livrar daquele flagrante, Betão e seu filho ainda percebeu quando esse suposto assassino sanguinário apinchou bem para o meio do rio uma ferramenta a qual deveria ser o tal facão, isso tudo foram testemunhados pelo pai e filho que no momento pescava, no instante que se arrumavam para ir em bora, terminando com a pescaria nesse domingo de final trágico.

Jerry ainda encostou nos ouvidos de seu pai Betão e disse com o máximo de certeza.

-- Pai, posso dizer com toda segurança, aquele é o tal vulgo Chapéu de Palha que mora naquela choupana bem aqui perto, foi ele, aposto que foi ele, pode chamar a polícia. Disse Jerry.

-- Não, nada de chamar a polícia, aguardaremos ser investigado, deixe que as autoridades sigam suas pistas, se precisar de testemunho, lógico que contribuiremos com nossa ajuda a desvendar os fatos, aliás nem temos certeza que isso se trata de um crime, apenas vimos uma pequena faceta dessa história.

Der repente quando pai e filho volta os olhares para as águas do rio, percebem o suposto criminoso com a canoa de Jerry, parece que estava fugindo de algo, gritou lá do meio do rio ao pai e filho pescador.

-- Depois eu te devolvo a canoa, não se preocupe, eu vou te recompensar, estou saindo aí meio de urgência, em uma outra oportunidade a gente se fala, me deseje boa sorte, por que eu cometi uma grande loucura.

Chapéu de Palha desceu a correnteza do rio, deixou as águas o levar, mesmo que essa viaje nessas águas doces dure dias, Chapéu de Palha não encontrará obstáculos, o rio está em cheia em fortes corredeiras, enquanto isso ele desce a todo vapor, os caboclos ribeirinhos perguntam se está tudo bem, se precisa de alguma ajuda, Chapéu de Palha ergue os dois braços e mostra o sinal de positivo dizendo para não se preocuparem está sobre o controle, tudo bem.

Passou a tarde, passou toda a noite, mas Chapéu de Palha ainda acordou bem na curva do rio, já estava amanhecendo, próximo dali uma pequena cidade, muito distante do ponto de partida desse vulgo chapéu, era bem isso que ele queria, se camuflar em meio de tantos outros trabalhadores no trato da terra, assim ele fez amigos e até conseguiu um cômodo para morar e trabalhar, só faltava combinar com o administrador daquele assentamento, pretendia mudar de vida, reconstruir o que no passado ele mesmo destruiu.

Chapéu de Palha um compatriota, de poucos recursos alfabéticos, assina seu nome apenas por sempre traçar as mesmas torturas nas linhas e traços, mostrando sua marca, suas psicopatias que reserva em mente, deu-se pelo fato de ser nascido e criado em meio a selva bravia, os costumes e brutalidade são adquiridos se espelhado nos instintos animalescos, matar em requinte de crueldade para Chapéu de Palha não passa de uma atitude das mais simples, a ele mesmo que um momento de lazer.    

 Tão rude, cheio de incapacidade para todas tarefas, por mais simples for, nativo nascido em uma pequena aldeia das mais pobres existentes por esses sertões, ele é um desalmado.

Sacou a ferramenta cortante, embotada de um grosso corte que ao desferir contra qualquer vida, aumentava ainda mais as dores e sofrimentos, o facão desse doentio zunia fazendo barulhos quando batiam nos osso humanos desses que por ele veio ao mundo, sua esposa não conseguiu nem gritar, já sofreu um estrangulamento fatal, aquele pequeno rancho de sapê serviu como uma cena de terror em alta escala, as palhas daquelas parede ficaram salpicadas de puro sangue humano, tudo esses feitos, praticava com a maior naturalidade, um verdadeiro esquizofrênico.  

Chapéu de palha agora está, como se estivesse entrando para a civilização, apesar de já casado, mulher e dois filhos, mas deixados para trás, apareceu naquela colônia trazendo as mãos quase sem nada, apenas um saco branco... Sim! Outrora branco, agora de uma cor um tanto encardida, visto de tecido grosso, se arrumou por ali por enquanto, ficou para depois os detalhes finais sobre a fixação desse desconhecido camarada vulgo vindo de terras distante, já trouxe com ele esse apelido de chapéu de palha, mas logo será seu nome de tratamento oficial.

No domingo de manhã, antes do treino no campinho, senhor administrador daquele assentamento reuniu aqueles homens pais de famílias responsáveis por aquele lote de plantio, viu a necessidade de aproximar todos esses trabalhadores   para uma palestra dando instrução de como deveram tratar a terra, manejo com ferramentas e muito cuidado com a aproximação aos agrotóxicos.

Administrador percebendo o vulgo Chapéu de Palha em meio aqueles aglomerados que ouvia o discurso, pediu para que aguardasse ali do lado, gostaria de ter um papo muito sério, assim fora feito, momento que terminou a palestra, senhor Jardel aproximou do Chapéu de Palha para algumas indagações e exigência a cumprir para morar naquele lugar, lavouras de todo tipo de agricultura, Jardel ainda insistiu para que ele adapte a esse trabalho, fez algumas perguntas, indagou.

-- Sobre sua família, por que não trouxe junto para morar com você. Perguntou Jardel exigindo uma resposta.

Chapéu de palha tremeu na base, sentiu-se acuado tendo que responder perguntas as quais não queria responder, não queria falar do passado com sua família, ainda mais, Jardel pensionou o camarada, prensou sobrea a parede.

-- Pois é seu Chapéu de palha, tenho que dizer que aqui temos disciplinas a cumprir, caso não venha contribuir com a paz e o sossego eu porei para fora daqui... Outra coisa, não quero bebedeira nem espetáculo de alcóolatra pela rua, nem envolvimentos com pessoas baixa classe, tão pouco passagem pela polícia, próxima folga, vá e trague sua família para morar com você, eu tenho receios de pessoas que mora sozinho, ainda mais você ninguém conhece por aqui.

-- Sim senhor, sim senhor, farei tudo que foi dito. Disse Chapéu de palha confirmando toda exigência, próxima semana estarei de viaje e retornarei com todas suas exigências, pode confiar em mim senhor Jardel. De cabeça baixa, evitando firmar nos olhos do administrador, desviar os olhares é um sinal dessa psicopatia, intimamente em segredo que havia se identificado.

-- Toda a estradinha que dá acesso a colônia terá que ser reformada, vamos aplanar toda quela extensão que passa frente as moradias, faremos tudo parecido com uma alameda, arborizar, plantar uma fileira de palmeira centenária, isso feito a pá enxadão e picaretas, preciso de vinte homens nesse serviço, quero todos reunidos na entrada desses assentamentos, você está convocado senhor Chapéu de Palha.

-- Pode ter certeza, estarei lá no eito, vou emprestar minhas forças, pegar no pesado é comigo mesmo senhor Jardel.

Chapéu de Palha está confirmado para essa frente de trabalho e com ajuda de todos rapidinhos daremos por completada.

No dia seguinte lá estavam todos apostos, apareceu quase o dobro de voluntários, ajuda não faltavam, enquanto senhor Jardel foi a busca das ferramentas de trabalho, foi servido um saboroso café com leite e pão com manteiga para todos.

Logo estaciona o caminhão cheio de ferramentas de todos os tipos e modelos, os rapazes mais novos esticavam a linhas fazendo as demarcações, os homens mais fortes escavavam com enxadas e picaretas, rastelos recolhendo os ciscos e assim seguindo em frente, olhando para traz já podiam perceber que a estrada estava se transformando em uma via de acesso.

Chapéu de Palha trabalhava duro exercendo os trabalhos mais pesados, em meio a tantos, difícil localizar um trabalhador em meio daquele batalhão todos de uniformes idênticos, calça cinza e casaco cor de laranja com faixa luminosa em meio ao abdome, a força desse povo voluntario impulsionava o andamento dessa obra até o final

Enquanto todos trabalhavam intensamente, pelo visto a obra já caminhava para o final, um acontecimento de surpresa, os policiais pararam a viatura em um local estratégico, de maneira que aqueles populares não percebessem esse veículo estacionado, desceram os agentes de polícias, delegado e seguiram a pé até próximo essa frente de trabalho, delegado parou, se destacou em frente daqueles trabalhadores, observou aqueles trintas e tantos todos de uniformes, sentiu a dificuldade de localizar o tal elemento, olhando para todos fez uma pergunta em alto e bom som.

-- Quem aí se chama CHAPÉU DE PALHA? Disse e pôs a observar o movimento daqueles ouvintes somente para perceber a reação do suposto assassino em meio aquela turma de trabalhadores.

Logo o delegado e o policial percebeu um daqueles homens saindo de mansinho, aos poucos se apressava a fim de distanciar, a intenção mesmo era se evadir do local, delegado percebeu que o vulgo estava aos poucos saindo disfarçadamente, logo os policiais fecharam o cerco e o capturou, colocaram gentilmente as algemas no pulso do meliante, agora terá que voltar mais duzentos e poucos quilômetros rio a cima, Chapéu de Palha estará sobre as ordens do governo federal, preso em um presídio de segurança máxima, crime hediondo, matou sua esposa e mais dois filhos em requinte de crueldade.

Felizmente a canoa de pesca do jovem Jerry foi recuperada, Betão ainda continua fazendo suas pescarias artesanais nessa localidade.

Dali dista a mais ou menos uns duzentos km rio a cima tudo transcorrem as mil maravilhas, toneladas de sementes chegam a todos os momentos, esses homens da lida se encarregam de sepultares essas sementes, para mais breve colher esses frutos.

Antherport/27/9/2.024.