Vida
Ela entrou na casa; em cada canto, em cada cadeira, em cada
sofá jaziam os corpos trêmulos, espasmódicos, suspirosos.
Estavam todos drogados, extasiados de vida; tinham vida a
sair pelas narinas. E ela continuou andando através desses
seres com repugnância e horror na face. Via os rostos
contorcidos, as pálpebras tremulantes. Em um desses rostos
encontrou Álvaro. Estava igual a todos os outros; suspirava.
Quando percebeu os movimentos próximos, abriu os olhos e a
reconheceu. "É soberbo", disse com voz sumida. Uma lágrima
escorre pelo rosto dela, "eu sei", "já se passaram quantas
horas?", "dezessete. Já é o suficiente?", ele diz que sim
com a cabeça; Ela afasta-se.
Logo ele começa a acordar do torpor. Mexe-se lentamente,
como uma preguiça. Apóia-se na cadeira, senta mais ao fundo,
curva o tronco para a frente segurando a cabeça com as mãos.
Os lábios contraem-se, as bochechas caem; ele sente o gosto
amargo na boca. Ela volta, "vamos?", "sim", responde ele
levantando-se da cadeira lentamente. Ela vai à frente
martelando os tacos soltos com os saltos altos e ele, logo
atrás, os varre arrastando as sandálias.