A mulher do Açougueiro
Jorge, encontra-se no seu estabelecimento comercial, em cima é a sua casa, e abaixo o seu açougue, mora num sobrado se assim você permitir imaginar, a cidade de interior, bem pouquinhos habitantes, ele conhece todo mundo que mora por perto, e todos o tem como; o Buguinho do açougue, sempre foi assim e a vidinha pacata e monótona continuava como sempre foi.
Nunca que os vizinhos do Buguinho imaginavam como ele conseguiu conquistar aquele “pedaço de carne” que era a sua mulher Mercedez.
Provocante das ancas largas, um remelexo natural, e um olhar angelical, fruto daqueles olhos azuis-celestes que atraiam os homens para aquele estabelecimento de esquina.
Enquanto o Buguinho passava a faca, na chaila, para deste modo deixar bem afiadinha, e desta maneira ir cortando os bifes de coxão mole para mais um cliente.
Mercedez ficava na varanda da casa tomando uma fresca expondo a figura para quem quer que passasse por ali.
Ela tinha um olhar distante, parecia sempre a procura de alguém.
O seu homem, não era corpulento e sim pequeno, mas sabia coisas do trato que a fizeram cair na sua lábia.
Ela não gostava muito da carne, o cheiro de açougue não lhe agradava muito. Até tentou ficar no mercadinho no caixa. Não deu muito certo. Buguinho a tinha como um bibelozinho sempre assim. Não se importava.
A vidinha monótona era sempre a mesma. Era Buguinho desossando um traseiro, separando as partes pra freguesia.
Era coxão mole, era patinho a posta branca e a posta vermelha.
Cortava-se um contra-filé como ninguém. O povo gostava dele. Pois, o pequeno estava sempre atencioso com a freguesia.
E lhe perguntavam.
— Como vai à dona Mercedez?
Vai bem, esta meio resfriada estes dias, por isto agora se encontra-na em cima cuidando da casa.
— Ah! bão, me vê um quilo de carne moída.
E ia o Buguinho para a câmara fria pegar os pedaços de músculos para moer.
— Faz tempo que não vejo ela, disse uma senhora que todas as tardes, vinha buscar a carne pra sopa, família grande precisava daquele reforço no mantimento.
— Lhe garanto que esta bem.
Buguinho sentia uma paz no ar, lá em cima estava silencioso. Certo que a Mercedez estava bem.
Esqueci de lhe contar, na frente do estabelecimento tinha um bar, daqueles botequins de fim de tarde. A visão que os grotescos pedreiros e peões tinham era a bela morena dos olhos azuis tinham. Naquelas bandas, homem que é homem olhava sempre pra cima. Ver a anja da varanda.
O Senhor da frente antes de fechar o estabelecimento, perguntou ao Buguinho.
— Boa tarde, como foram as vendas hoje?
— Muito bem! Obrigado. Parecia com pressa pra fechar e subir pra cima.
— A propósito num vejo a dona Mercedez estes dias, ela esta meia sumida. Disse o velho comerciante, escarrando no chão após ter terminado de varrer a sua fachada.
— Ela anda meio Gripada, daí não esta boa pra ficar vendo a vizinhança.
E fechava a cara, não era nada agradável ficar fazendo comercial da sua pequena.
+++
Terminado o expediente, Buguinho fechou as portas do estabelecimento. Guardou cada pedaço de carne do balcão, na câmara fria, ficou feliz que não sobrou muita coisa, enquanto o ajudante terminava de limpar com água e alvejante o chão, pra ficar limpinho e sair qualquer mau cheiro.
O ajudante era um rapazote meio estranho sempre quieto, tinha uns dezesseis anos, era prestativo, mas sempre quieto, era trabalhador isto que importava.
Buguinho tirou o avental e pediu pro moleque limpar. Fez a contabilidade do dia, tirou algum pra sair com Mercedez e dispensou o rapaz.
Subindo para cima de cara já achou estranho a Mercedez não vir recebe-lo.
— Será que estou fedendo a sangue?
— Será que ela nunca vai se acostumar?
Foi no quarto e ela estava sentada na cama fazendo crochê.
Ele fez um gesto que iria se limpar, ela fez uma carinha de repugnância com o cheiro.
Ele pegou um par de roupa limpa, caprichada da moda, e uma toalha de banho.
Foi pro banho, tirar a craca do corpo, se lavou, se lavou, no entanto, o cheiro ficava impregnado em cada poro do seu corpo, e isto era um problema.
Se secando, viu que cheirava ainda, e estava também preocupado com as roupas brancas que naquele dia estavam um pouco sujas de sangue. Pensou em ajudar a pequena, que parecia cri-cri com algo. Levou-as para o tanque e colocou-as de molho.
Lavando-as esfregando-as. Era evidente que não tinha jeito com aquele esfrega, esfrega.
Ela falou de longe:
— Deixa de molho, amanhã as ponho pra guará.
Buguinho pensou… Ela esta estranha mesmo…
Terminado, voltou ao banheiro fez a barba, e se encheu de loção.
Engraxou a botinha, e deixou um brilho só.
Entrou no quarto e disse.
— Muié, larga deste crochê, amanha termina. Ele falou assim pois, sabia que ela era meio que obcecada com começar e terminar suas intermináveis toalhinhas, era um hobby que o irritava porém, deixava era a sua felicidade fazer aquele artesanato.
Ela colocou a agulha no novelo e sorriu.
Agora sim o Buguinho ficou feliz pois, o sorriso da Mercedez era maravilhoso, ela mesmo gripada e chororó era um anjo lindo que o deixava feliz.
— Sim, vamos para uma Festa que tem na Praça, lá na rua da igreja. Quero passear e ver os amigos.
Levantou igual criança. Dizendo: — Claro, claro, em dois toques me troco, até me sinto melhorzinha. E correu pro baú buscar um vestido da moda do interior.
+++
Casais passeavam na praça da cidade, era uma bela noite, não estava muito frio, era uma temperatura agradável, as luzes amarelas de lâmpadas incandescentes dava um ar de conforto aconchegante àquele local.
Buguinho e Mercedez, de mãos dadas estavam agora passeando pela redondeza.
O açougueiro era sorrateiro com qualquer um que olhasse o seu pitel. Estufava o peito e tentava ficar ereto. De nada adiantava, Mercedez eram centímetros a mais que ele e isto o incomodava a sua virilidade.
— Por que tanto perfume?
Ela continuava como se não tivesse ouvido a questão. Ignorando por completo.
— Quero maçã do amor. Compra amor! Ele parou na barraca da maçã.
Ele continuava a cuidar da mulher com os olhos. Mas aquele vestido estava deslumbrante, Buguinho olhou e sentiu um certo incomodo, o decote demonstrava mais do que ele achava correto mostrar. Ele comprou a maçã deu para ela e perguntou.
— Trouxe a manta?
Ela disse: — Trouxe sim a minha manta de crochê, daqui a pouco eu coloco, estou um pouco com calor, o sereno não chegou ainda.
E veio a mordida na maçã. Buguinho ficou a olhar, os lábios da mulher sendo sujo com aquele caramelado, ela lambeu o caramelo com a língua umedecendo a boca, que parecia estar com batom e forte. Buguinho sentiu um certo desejo, olhou para o lado e viu um grupo de três rapazes olhando a sua mulher, pareciam comentar.
Ela veio e beijou o marido. Ele sentiu o gosto doce da maçã. Ela agora chegou perto da orelha dele. E cochichou. — Eu passei este perfume de lavanda para você meu gostoso. Mas o olhar dela foi para os três rapazes. Buguinho não observou isto. Estava mais atento com o cochicho que se tornou uma mordidinha provocante na orelha. Buguinho arrepiou. Era apelação.
Ele falou: — Pare aqui não é lugar, tem gente olhando.
A Dona parecia ter saído do seu estado de êxtase. Os olhos não eram mais vorazes, e os rapazes se dispersaram. Buguinho acariciou sua orelha, sentia o melado do doce.
Continuaram o passeio, algo inesperado iria acontecer.
+++
Quando chegou em casa, ela já foi preparando a janta, ele foi tirar as botinas, e ver algo na tv. Não era muito tarde. O passeio terminou de forma estranha, Ela se queixou de indisposição, Buguinho desconfiado logo lhe perguntou.
— Esta nos dias?
Ela respondeu.
— Acho que estou. Aquele marido era um relógio e compreendia que não era os dias das regras dela, e olhou novamente pra ela. Mercedez disse já compreendendo que o marido não tinha aceito as desculpas.
— Nós mulheres somos assim mesmo, as vezes vem antes, por vezes atrasa. E o Buguinho olhou para ela aceitando as desculpas, (tentando ser convincente) respondeu.
— Serei o homem mais feliz deste mundo. Quando o nosso Buguinho Junior chegar.
Enquanto a Dona assuntava com as panelas, Buguinho tentava se distrair, não dava, o filme daqueles rapazes, lhe voltava forte na mente.
Estou lhe preparando, um bifinho amor, com um belo suco de laranja dizia ela.
Buguinho não estava com fome porém, fingia estar faminto.
Servido a mesa, um belo prato e um copo de suco de laranja do jeito que o marido gostava.
Ela puxou a cadeira, estava prestativa. E o perfume continuava no corpo.
Quando ele sentou, chegou sedutora aos ouvidos de novo.
— Tenha paciência, logo passa meu mal-estar, e poderemos ser um do outro.
Ele sentou, deu um sorriso para ela. E lançou a pergunta pra esposa.
— Amor, busca aquele crochê que você esta fazendo, eu quero ver.
Ela achou estranho a pergunta, Buguinho nunca ligava pra isto.
— Qual?
Ele respondeu que era aquele que parecia uma blusa verde. Ela foi.
Buguinho precisava ser rápido, nunca que ela iria encontrar tal crochê precisava tirar uma dúvida que tinha. Pegou rapidamente a comida do prato e colocou numa sacola. Ela falava lá dentro.
— Engraçado, eu não encontro aqui onde deixei.
Buguinho pega o suco, vai à cozinha e joga pelo ralo da pia.
Volta com um restinho no copo, somente.
— Nossa! amor, eu não consegui encontrar! Ele raspava alguns grãos de arroz do prato fingindo come-los.
— Amor, tenho que te confessar algo. Disse Buguinho. Eu derrubei um pouco de sangue da roupa nele, e tive que deixar lá pra lavar. Me perdoa?
Ela olhou brava pro marido. E tentava entender a brincadeira sem graça dele.
— Calma amor, só lhe quis fazer uma graça. A propósito a comida estava ótima!
Ela juntava a louça e disse.
— Toma todo o suco amor.
Ele falou: — Claro. E colocou o restante na boca, ela ficou observando ele tomar.
Ao ir pra cozinha, ela disse: — Vamos dormir cedo amor pois, estou bastante cansada.
Buguinho fez tal como a Mercedez o ordenara.
Deitou na cama, e o sono veio rápido, logo roncava de modo leve.
Mercedez esperava. E ele roncava de modo normal.
Ela se levantava da cama, vestia uma roupa que Buguinho não conhecia, cobria bem a bela lingerie que vestia por baixo.
Buguinho esperou a porta fechar para parar o fingimento.
Foi e viu a esposa sair sorrateira, já era madrugada.
O carro na esquina estava os três jovens homens feitos que levavam a sua esposa para alguma noitada.
Buguinho saiu bravo para dentro da câmara fria do seu açougue. Iria adiantar o lado, para o próximo dia. Entrou e começou a desossar um traseiro, com uma (faca) tipo punhal.
Separava as partes do boi, com a destreza de um açougueiro. Coxão duro, Patinho, Coxão mole, e com todo o cuidado a Alcatra. Limpava o suor do nervo que passava de saber que a mulher estava se divertindo pela madrugada.
Ao terminar olhou no relógio, precisava ser rápido, trocar de roupa, se limpar, esquentar-se e aguardar Mercedez voltar.
+++
No outro dia, a mesma dissimulação de sempre. Ela com um olhar de felicidade, fazia o café sorrindo, mesmo tendo voltado tarde. Buguinho demorava mais um pouquinho na cama, olhando para o teto, pensando como proceder neste dia.
Ao abrir o açougue, olhava os olhares para cima, Mercedez olhava ao horizonte, outro rapaz, certamente, teria que roncar de modo mais simétrico, para ela não desconfiar?
A cada corte de bife pra algum cliente, várias sensações lhe passavam. Seria o seu ajudante, mais um da lista de Mercedez? Tinha uma desconfiança, dormia como um porco todas as noites e a boca seca. Entre a desconfiança e o saber era uma ponte que ele não gostaria de atravessar.
Afiou o seu punhal e subiu.
Fim
1900 palavras.
Conto de terror soft
Autor; Waldryano
Nunca que os vizinhos do Buguinho imaginavam como ele conseguiu conquistar aquele “pedaço de carne” que era a sua mulher Mercedez.
Provocante das ancas largas, um remelexo natural, e um olhar angelical, fruto daqueles olhos azuis-celestes que atraiam os homens para aquele estabelecimento de esquina.
Enquanto o Buguinho passava a faca, na chaila, para deste modo deixar bem afiadinha, e desta maneira ir cortando os bifes de coxão mole para mais um cliente.
Mercedez ficava na varanda da casa tomando uma fresca expondo a figura para quem quer que passasse por ali.
Ela tinha um olhar distante, parecia sempre a procura de alguém.
O seu homem, não era corpulento e sim pequeno, mas sabia coisas do trato que a fizeram cair na sua lábia.
Ela não gostava muito da carne, o cheiro de açougue não lhe agradava muito. Até tentou ficar no mercadinho no caixa. Não deu muito certo. Buguinho a tinha como um bibelozinho sempre assim. Não se importava.
A vidinha monótona era sempre a mesma. Era Buguinho desossando um traseiro, separando as partes pra freguesia.
Era coxão mole, era patinho a posta branca e a posta vermelha.
Cortava-se um contra-filé como ninguém. O povo gostava dele. Pois, o pequeno estava sempre atencioso com a freguesia.
E lhe perguntavam.
— Como vai à dona Mercedez?
Vai bem, esta meio resfriada estes dias, por isto agora se encontra-na em cima cuidando da casa.
— Ah! bão, me vê um quilo de carne moída.
E ia o Buguinho para a câmara fria pegar os pedaços de músculos para moer.
— Faz tempo que não vejo ela, disse uma senhora que todas as tardes, vinha buscar a carne pra sopa, família grande precisava daquele reforço no mantimento.
— Lhe garanto que esta bem.
Buguinho sentia uma paz no ar, lá em cima estava silencioso. Certo que a Mercedez estava bem.
Esqueci de lhe contar, na frente do estabelecimento tinha um bar, daqueles botequins de fim de tarde. A visão que os grotescos pedreiros e peões tinham era a bela morena dos olhos azuis tinham. Naquelas bandas, homem que é homem olhava sempre pra cima. Ver a anja da varanda.
O Senhor da frente antes de fechar o estabelecimento, perguntou ao Buguinho.
— Boa tarde, como foram as vendas hoje?
— Muito bem! Obrigado. Parecia com pressa pra fechar e subir pra cima.
— A propósito num vejo a dona Mercedez estes dias, ela esta meia sumida. Disse o velho comerciante, escarrando no chão após ter terminado de varrer a sua fachada.
— Ela anda meio Gripada, daí não esta boa pra ficar vendo a vizinhança.
E fechava a cara, não era nada agradável ficar fazendo comercial da sua pequena.
+++
Terminado o expediente, Buguinho fechou as portas do estabelecimento. Guardou cada pedaço de carne do balcão, na câmara fria, ficou feliz que não sobrou muita coisa, enquanto o ajudante terminava de limpar com água e alvejante o chão, pra ficar limpinho e sair qualquer mau cheiro.
O ajudante era um rapazote meio estranho sempre quieto, tinha uns dezesseis anos, era prestativo, mas sempre quieto, era trabalhador isto que importava.
Buguinho tirou o avental e pediu pro moleque limpar. Fez a contabilidade do dia, tirou algum pra sair com Mercedez e dispensou o rapaz.
Subindo para cima de cara já achou estranho a Mercedez não vir recebe-lo.
— Será que estou fedendo a sangue?
— Será que ela nunca vai se acostumar?
Foi no quarto e ela estava sentada na cama fazendo crochê.
Ele fez um gesto que iria se limpar, ela fez uma carinha de repugnância com o cheiro.
Ele pegou um par de roupa limpa, caprichada da moda, e uma toalha de banho.
Foi pro banho, tirar a craca do corpo, se lavou, se lavou, no entanto, o cheiro ficava impregnado em cada poro do seu corpo, e isto era um problema.
Se secando, viu que cheirava ainda, e estava também preocupado com as roupas brancas que naquele dia estavam um pouco sujas de sangue. Pensou em ajudar a pequena, que parecia cri-cri com algo. Levou-as para o tanque e colocou-as de molho.
Lavando-as esfregando-as. Era evidente que não tinha jeito com aquele esfrega, esfrega.
Ela falou de longe:
— Deixa de molho, amanhã as ponho pra guará.
Buguinho pensou… Ela esta estranha mesmo…
Terminado, voltou ao banheiro fez a barba, e se encheu de loção.
Engraxou a botinha, e deixou um brilho só.
Entrou no quarto e disse.
— Muié, larga deste crochê, amanha termina. Ele falou assim pois, sabia que ela era meio que obcecada com começar e terminar suas intermináveis toalhinhas, era um hobby que o irritava porém, deixava era a sua felicidade fazer aquele artesanato.
Ela colocou a agulha no novelo e sorriu.
Agora sim o Buguinho ficou feliz pois, o sorriso da Mercedez era maravilhoso, ela mesmo gripada e chororó era um anjo lindo que o deixava feliz.
— Sim, vamos para uma Festa que tem na Praça, lá na rua da igreja. Quero passear e ver os amigos.
Levantou igual criança. Dizendo: — Claro, claro, em dois toques me troco, até me sinto melhorzinha. E correu pro baú buscar um vestido da moda do interior.
+++
Casais passeavam na praça da cidade, era uma bela noite, não estava muito frio, era uma temperatura agradável, as luzes amarelas de lâmpadas incandescentes dava um ar de conforto aconchegante àquele local.
Buguinho e Mercedez, de mãos dadas estavam agora passeando pela redondeza.
O açougueiro era sorrateiro com qualquer um que olhasse o seu pitel. Estufava o peito e tentava ficar ereto. De nada adiantava, Mercedez eram centímetros a mais que ele e isto o incomodava a sua virilidade.
— Por que tanto perfume?
Ela continuava como se não tivesse ouvido a questão. Ignorando por completo.
— Quero maçã do amor. Compra amor! Ele parou na barraca da maçã.
Ele continuava a cuidar da mulher com os olhos. Mas aquele vestido estava deslumbrante, Buguinho olhou e sentiu um certo incomodo, o decote demonstrava mais do que ele achava correto mostrar. Ele comprou a maçã deu para ela e perguntou.
— Trouxe a manta?
Ela disse: — Trouxe sim a minha manta de crochê, daqui a pouco eu coloco, estou um pouco com calor, o sereno não chegou ainda.
E veio a mordida na maçã. Buguinho ficou a olhar, os lábios da mulher sendo sujo com aquele caramelado, ela lambeu o caramelo com a língua umedecendo a boca, que parecia estar com batom e forte. Buguinho sentiu um certo desejo, olhou para o lado e viu um grupo de três rapazes olhando a sua mulher, pareciam comentar.
Ela veio e beijou o marido. Ele sentiu o gosto doce da maçã. Ela agora chegou perto da orelha dele. E cochichou. — Eu passei este perfume de lavanda para você meu gostoso. Mas o olhar dela foi para os três rapazes. Buguinho não observou isto. Estava mais atento com o cochicho que se tornou uma mordidinha provocante na orelha. Buguinho arrepiou. Era apelação.
Ele falou: — Pare aqui não é lugar, tem gente olhando.
A Dona parecia ter saído do seu estado de êxtase. Os olhos não eram mais vorazes, e os rapazes se dispersaram. Buguinho acariciou sua orelha, sentia o melado do doce.
Continuaram o passeio, algo inesperado iria acontecer.
+++
Quando chegou em casa, ela já foi preparando a janta, ele foi tirar as botinas, e ver algo na tv. Não era muito tarde. O passeio terminou de forma estranha, Ela se queixou de indisposição, Buguinho desconfiado logo lhe perguntou.
— Esta nos dias?
Ela respondeu.
— Acho que estou. Aquele marido era um relógio e compreendia que não era os dias das regras dela, e olhou novamente pra ela. Mercedez disse já compreendendo que o marido não tinha aceito as desculpas.
— Nós mulheres somos assim mesmo, as vezes vem antes, por vezes atrasa. E o Buguinho olhou para ela aceitando as desculpas, (tentando ser convincente) respondeu.
— Serei o homem mais feliz deste mundo. Quando o nosso Buguinho Junior chegar.
Enquanto a Dona assuntava com as panelas, Buguinho tentava se distrair, não dava, o filme daqueles rapazes, lhe voltava forte na mente.
Estou lhe preparando, um bifinho amor, com um belo suco de laranja dizia ela.
Buguinho não estava com fome porém, fingia estar faminto.
Servido a mesa, um belo prato e um copo de suco de laranja do jeito que o marido gostava.
Ela puxou a cadeira, estava prestativa. E o perfume continuava no corpo.
Quando ele sentou, chegou sedutora aos ouvidos de novo.
— Tenha paciência, logo passa meu mal-estar, e poderemos ser um do outro.
Ele sentou, deu um sorriso para ela. E lançou a pergunta pra esposa.
— Amor, busca aquele crochê que você esta fazendo, eu quero ver.
Ela achou estranho a pergunta, Buguinho nunca ligava pra isto.
— Qual?
Ele respondeu que era aquele que parecia uma blusa verde. Ela foi.
Buguinho precisava ser rápido, nunca que ela iria encontrar tal crochê precisava tirar uma dúvida que tinha. Pegou rapidamente a comida do prato e colocou numa sacola. Ela falava lá dentro.
— Engraçado, eu não encontro aqui onde deixei.
Buguinho pega o suco, vai à cozinha e joga pelo ralo da pia.
Volta com um restinho no copo, somente.
— Nossa! amor, eu não consegui encontrar! Ele raspava alguns grãos de arroz do prato fingindo come-los.
— Amor, tenho que te confessar algo. Disse Buguinho. Eu derrubei um pouco de sangue da roupa nele, e tive que deixar lá pra lavar. Me perdoa?
Ela olhou brava pro marido. E tentava entender a brincadeira sem graça dele.
— Calma amor, só lhe quis fazer uma graça. A propósito a comida estava ótima!
Ela juntava a louça e disse.
— Toma todo o suco amor.
Ele falou: — Claro. E colocou o restante na boca, ela ficou observando ele tomar.
Ao ir pra cozinha, ela disse: — Vamos dormir cedo amor pois, estou bastante cansada.
Buguinho fez tal como a Mercedez o ordenara.
Deitou na cama, e o sono veio rápido, logo roncava de modo leve.
Mercedez esperava. E ele roncava de modo normal.
Ela se levantava da cama, vestia uma roupa que Buguinho não conhecia, cobria bem a bela lingerie que vestia por baixo.
Buguinho esperou a porta fechar para parar o fingimento.
Foi e viu a esposa sair sorrateira, já era madrugada.
O carro na esquina estava os três jovens homens feitos que levavam a sua esposa para alguma noitada.
Buguinho saiu bravo para dentro da câmara fria do seu açougue. Iria adiantar o lado, para o próximo dia. Entrou e começou a desossar um traseiro, com uma (faca) tipo punhal.
Separava as partes do boi, com a destreza de um açougueiro. Coxão duro, Patinho, Coxão mole, e com todo o cuidado a Alcatra. Limpava o suor do nervo que passava de saber que a mulher estava se divertindo pela madrugada.
Ao terminar olhou no relógio, precisava ser rápido, trocar de roupa, se limpar, esquentar-se e aguardar Mercedez voltar.
+++
No outro dia, a mesma dissimulação de sempre. Ela com um olhar de felicidade, fazia o café sorrindo, mesmo tendo voltado tarde. Buguinho demorava mais um pouquinho na cama, olhando para o teto, pensando como proceder neste dia.
Ao abrir o açougue, olhava os olhares para cima, Mercedez olhava ao horizonte, outro rapaz, certamente, teria que roncar de modo mais simétrico, para ela não desconfiar?
A cada corte de bife pra algum cliente, várias sensações lhe passavam. Seria o seu ajudante, mais um da lista de Mercedez? Tinha uma desconfiança, dormia como um porco todas as noites e a boca seca. Entre a desconfiança e o saber era uma ponte que ele não gostaria de atravessar.
Afiou o seu punhal e subiu.
Fim
1900 palavras.
Conto de terror soft
Autor; Waldryano