QUANDO UMA PESSOA COMEÇA A MORRER
Encontrei-o, outro dia, sentado num banco da praça, só e triste. Pedi licença, sentei-me a seu lado e me conservei calado, impotente pata tomar uma iniciativa. A escura sombra da tristeza que o envolvia era visível, densa, dolorida, quase palpável; me atingia e me paralisava. Mesmo assim desejei fazer alguma coisa, iniciar uma conversa, mas não conseguia. Nenhuma palavra saía de minha boca. Indeciso, levantei-me. Dei um passo à frente, com a intenção de deixa-lo só com sua imensa tristeza. Mas voltei a olhar para ele com mais atenção. Então, percebi que tinha os olhos vermelhos e molhados. Chorara. Tornei a sentar-me e ele desandou a falar, sem que eu nada perguntasse:
- Meu amigo, não me lamente, não tenha pena. Acredito que, ou já terminei minha tarefa sobre a terra e nada mais tenho a fazer aqui, ou, quem sabe, por alguma razão que desconheço, mudei radicalmente de rota e me perdi. Não sei. O certo é que me sinto à deriva, impotente, no centro de um vácuo existencial. Não consigo retomar o caminho. Não consigo reencontrar o sentido da vida e quando um ser humano perde o sentido da vida, perde a alegria de viver, perde a fé, a faculdade de sonhar, as esperanças; perde tudo, enfim e começa, de fato, a morrer. Uma tristeza profunda, cada vez com maior frequência, tem me tomado de assalto e então, nesses momentos incertos e infelizes, não consigo pensar em outra coisa que não seja no final da grande viagem. Que faço, afinal? Você sabe? Pode ajudar-me?
Não soube e saí me culpando por não ter podido ajudá-lo e até por tê-lo ouvido.