TERROR NUMA PEQUENA CIDADE DA AUSTRÁLIA

Muitos tiros, muita gente correndo, gritos, portas se fechando assustadas, rápidas e com muito estrondo, pode parecer um confronto diário em certas comunidades cariocas, o que não se podia imaginar é que isso aconteceria, numa pacata cidade da próspera Austrália. Policiais de todos os pontos da cidade e de outras próximas auxiliam na operação, helicópteros, trones, redes sociais, muita tecnologia sendo utilizada para a solução do impasse.

Vou contar como tudo começou.

Um pacato morador da cidade de nome Omar, pai de três filhas de dez, doze e quinze anos e um filho de seis anos, temente à Deus, bom cidadão, trabalhador, dono de três armazéns, tido como bom patrão, justo e incentivador, seus gerentes são escolhidos a sua semelhança, tato e dignos de sua confiança. Um comerciante próspero, que por sua atividade de vida profissional, amealhou em vinte anos, muitos admiradores e empregados agradecidos e fiéis.

Naquela manhã de segunda-feira, tudo corria normalmente, a família levantava cedo, costumavam rezar juntos, na capela construída no terreno do casarão onde moravam, sempre antes do café da manhã. Sua esposa só tinha duas faxineiras e um motorista, que atendiam às suas necessidades e as instruções à risca, eram como se fossem da família, já trabalhavam para eles há quase doze anos. A arrumação, decoração, refeições e cuidados com os filhos, eram todos de responsabilidade dela, Jasmine, esposa de Omar, não por mesquinharia ou sovinice e sim por opção da própria, adorava ser esposa e mãe dedicada, eram todos muito felizes.

Seu marido Omar, era filho de imigrantes judeus, há muitos anos naturalizados nos Estados Unidos e quando a Austrália se tornou um lugar em crescente prosperidade, migraram para lá. Seu marido deu continuidade aos negócios da família, gente simples e trabalhadora.

Depois de saírem todos, filhos para escola com o motorista, o marido para o trabalho, no horário normal e habitual, ela Jasmine, foi arrumar as camas, lavar a louça do café, passar as instruções para as faxineiras, também resolveu deixar a mesa já posta, para quando as crianças voltassem da escola e fossem almoçar. Depois disso foi preparar o almoço, as crianças estavam pedindo há dias, que ela fizesse sua carne assada especial com cúrcuma e batatas assadas com queijo, ervilhas e espigas de milho, ela decidiu, que hoje, ela iria atender aos seus desejos.

Nada poderia ser mais absurdo, do que Omar chegar uma hora depois, junto com o motorista, pois pegara as crianças mais cedo na escola, Jasmine estranhou demais, ele então, chamou os empregados, reuniu a família toda com eles na sala de estar, pediu que aguardassem, que iria pegar uma surpresa no próprio carro. Jasmine estava apreensiva, Omar não estava com a cara alegre, perguntou aos filhos, assim que ele saiu, se ele havia falado alguma coisa no caminho, eles responderam que não. Como era uma surpresa as crianças estavam todas sorridentes e curiosas, alertas e aguardando o retorno do pai. Omar retorna com alguma coisa escondida nas mãos atrás das costas, entra em casa, tira uma metralhadora e assassina toda a família e empregados e se mata com um tiro na boca.

Nas casas próximas, o tumulto e o desespero estava latente, diversas ligações foram feitas para a polícia, bombeiros e o quadro formado, já foi descrito anteriormente nessa narrativa insólita e inexplicável.

Com o corpo suado e tremendo Cinthya sentou na cama, como se alguma coisa a tivesse catapultado violentamente, andava vendo filmes de ação, terror e suspense demais, os jornais também não ajudavam muito, tanto terror espalhado pelo mundo, só podia dar nisso.

Foi até a cozinha pegou um copo d`agua e o sorveu lentamente, seu corpo ainda estremecia e aguardava o coração desacelerar. Cinthya era uma jovem serena, simpática, seus amigos adoravam sua companhia, ela era divertida, espontânea, simplesmente gente do bem demais, seu único lado negro, como ela mesma dizia, era adorar lutas de MMA, UFC, filmes de terror, vampiros, suspense, tragédias, catástrofes, o que não combinava em absoluto, com a doce pessoa que ela era. Dessa vez, o pesadelo pareceu tão real, que a assustou.

Voltou para o quarto, tentou dormir e não conseguiu, as imagens voltavam o tempo todo à sua mente. A manhã chegou e encontrou uma Cinthya cansada e insone, tinha faculdade logo cedo e uma prova importante, a qual não poderia faltar de maneira nenhuma. Procurou forças e foi tomar banho, se preparar para sair, tomou um suco de laranja rapidamente, pegou uma maçã e, saiu correndo. Chegou à faculdade em cima da hora e foi direto para sua sala, mal falou com os seus colegas, o professor já estava distribuindo as provas. Todos silenciaram, as horas foram passando, prova feita, foram todos para o intervalo de meia hora, antes das outras aulas.

Cinthya, não sabia se tinha se saído bem, o raio do pesadelo não saia da sua cabeça, comentou com os colegas, eles riram e disseram pra ela esquecer o assunto, logo a sensação iria passar, era só ela pensar em outras coisas e parar um pouco de ser tão fissurada em tantos filmes de terror, melhor arrumar um namorado bem tranquilo, zoaram um bocado com a cara dela, ela decidiu esfriar a cabeça, pegaram seus lanches na cantina e sentaram. Num repente absurdo, homens encapuzados invadiram o refeitório onde eles estavam, atirando para todos os lados, eles se jogaram no chão para se proteger, uma amiga de Cinthya, Lorna, caiu ferida gravemente aos seus, outras pessoas foram sendo atingidas, um terror total.

Cinthya e sua amiga Helene, se fingiram de mortas, ficaram deitadas com os rostos no chão, praticamente não respiravam, só rezando, implorando à Deus, para que ele ouvisse as suas preces e tudo aquilo acabasse logo. Minutos depois, não saberiam precisar quantos, olharam em volta, muitos corpos estendidos, muito sangue, gemidos roucos e o silêncio repentino de tiros. Aguardaram alguns instantes e saíram correndo pelos corredores, se esgueirando pelas paredes e pilastras, num corredor avistaram os quatro corpos dos encapuzados, com as metralhadoras caídas ao lado, que coisa louca pensaram, eles mataram e feriram tantas pessoas e se suicidaram, aquele pesadelo era real, Cinthya pensou, será que seu pesadelo da noite anterior fora um aviso!

Ela e Helene, correram como loucas em direção à porta de saída, gritando pedindo ajuda, alguns policiais já estavam próximos da entrada, avisaram que tinha muita gente ferida e mortos dentro da faculdade. Uma policial as acolheu e outros entraram correndo no prédio solicitando ambulâncias através de seus rádios. Que coisa mais doida, Cinthya chorava copiosamente, já Helene parecia em choque. Logo ambulâncias chegaram e um paramédico se aproximou delas, perguntou se estavam feridas, Cinthya respondeu que não, mas, Helene, precisava de cuidados, estava mesmo em choque, não conseguia expressar uma única palavra e seus olhos estavam, meio que vidrados, levaram-na para dentro de uma ambulância, a examinaram, sedaram e como iriam levá-la para um hospital, Cinthya resolveu ir junto, no caminho avisaria sua família, que morava em outra cidade e poderiam ver pela televisão e queria tranquiliza-los, aproveitaria também , para avisar a família de Helene e informar a situação. Eles as encontrariam depois, no hospital.

Na ambulância Cinthya percebeu que sua meia estava manchada de sangue próximo ao tornozelo e o local estava um pouco dolorido, falou com o paramédico, e com o ele havia sedado Helene, logo foi atendê-la, verificou que ela tomara um tiro de raspão, mas, um pequeno estilhaço estava cravado bem superficialmente no seu tornozelo, ele higienizou o ferimento, deu uma anestesia local, aguardou e o retirou, fazendo em seguida um curativo. Deu um comprimido para Cinthya para evitar infecção, quando chegassem ao hospital, um médico a atenderia e provavelmente lhe passaria mais algum medicamento para tomar em casa, a tranquilizou e ela ficou mais calma.

Sua mente só conseguia ver corpos e sangue, que coisa pavorosa, nem os filmes que ela já havia assistindo, e olha que foram muitos, muitos mesmo, lhe causaram aquela sensação de terror. Como iria seguir sua vida, daqui para adiante ela não sabia, precisava ouvir a opinião de seus pais, que estavam apavorados com toda aquela situação e já estavam viajando para encontrá-la. No momento ela só pensava no reencontro com eles.

Um toque alucinante do despertador, acordou Helene, que levantou da cama aos saltos completamente assustada e transpirando, com o coração acelerado, iria reclamar com Cinthya assim que chegasse à faculdade, ela fizera com que ela assistisse com ela, um filme de terror, apavorante, e só por muita amizade ela concordou, agora estava ali, despertando daquele pesadelo horrível,  sentada em sua cama, arrepiada até aos cabelos por causa dela.

Graças à Deus, fora só um pesadelo, tudo continuava calmo naquela pacata cidade na Austrália...

Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 01 de abril de 2015.
(me perdoem, não poderia deixar passsr em branco o 1º de abril - risos)
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 01/04/2015
Reeditado em 02/04/2015
Código do texto: T5191800
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