Caga Regras

Paulo era um cara comum. Tão comum que nem vale a pena descrever sua natureza. O Nome poderia ser Pedro, João, José, ou qualquer outro tirado do glossário bíblico. O que nos interessa ressaltar é que esta figura pouca expressiva, adquiriu o hábito do mandonismo. Adorava dizer, “faz isso”, “faz aquilo”, deixando todos ao seu redor P da vida, ou seja, Putos mesmo. Até mesmo casado, continuo sua peregrinação, importunando a coitada da esposa, que se não fosse o filho que tiveram, diriam que não aguentava ir para a cama com um sujeito tão enjoado. Imagina na hora H, quer dizer, na hora S, já que estamos falando de sexo. “Vira pra lá mulher”, “não geme alto”, “os vizinhos”, “não fale de boca cheia”.

Não sabemos se por alguma providência divina, quem sabe um castigo de Deus ou uma galhofa do Diabo. A verdade é que um dia, no banheiro, esforçando-se para colocar para fora as carnes que havia comido em um churrasco da firma no dia anterior, Paulo sentiu uma pressão que pensou que iria explodir. Estava sozinho em casa e não havia quem o socorresse. Segurou-se nos joelhos e começou a rezar. Pensou que ia perder o cu, mas aí seria outra história. De repente, aquela explosão. Em vez das fezes esperadas, apenas vitupérios. Não conseguia conter as pregas. Era uma dor de gás preso e logo vinham os sons, que não eram nada parecidos com aqueles dos peidos que a audição humana está acostumada. Mas o sujeito fazia frases com o rabo.

A curiosidade veio quando estava no jantar. A família com toda a pompa que o patriarca exigia. Veio a vontade que fez com que soltasse uma frase antes de ousar correr para o banheiro. Parecia não conseguir conter os esfincteres. E o filho, um guri muito sagaz, identificou que o pai soltava pelo traseiro as regras que utilizava para hostilizá-los. Por mais que Paulo não desejasse admitir, os fatos falaram por si só, ou melhor, o rabo. Ele passou a ser conhecido na vizinhança como o Senhor Caga Regras.

Na pastelaria com os amigos, faziam questão da presença do sujeito. Que constrangido, diante de tanta desordem, começava a remexer a bunda no banquinho e botava o tamborim para tocar. Saía uma regra atrás da outra, uma foi tão forte que um mais atrevido gritou, “manchou a cueca esse cabra”. Paulo vivia seu drama, a esposa ficava constrangida embaixo dos lençóis e isso fez com que se tornassem ainda mais distantes. O filho passou a sofrer bullying na escola. Mas o cu fenômeno ganhou fama, com seu dono sendo levado até o Congresso Nacional, onde quase rasgou as pregas diante de tanta falcatrua política.

E como um milagre. Um trovão retumbante estremeceu os glúteos de Paulo, como se tivesse anunciando os novos mandamentos sagrados ou algo parecido. Parecia ser a regra de ouro. Ouro de tolo, ainda assim, ouro. A pressão daquela máxima que havia sido guardada em tão frágil invólucro, fez o sujeito decolar, abrindo-lhe o corpo de fora a fora e fazendo cair uma chuva de pedaços de vísceras. O choque do público presente e a mensagem que se eternizou, sendo gravada em monumento que se tornaria símbolo nacional, guiando as gerações vindouras. A esposa, viúva, e o filho, órfão, foram ao enterro simbólico e deixaram uma placa dentro do caixão com os mesmos dizeres e outra no gramado, como magnífico epitáfio. O Caga Regras ainda serviu de mote para a campanha de um senador, que conhecendo este símbolo nacional, guardou o discurso e o marketing para o momento exato de sua reeleição, sendo eleito de forma unânime.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 24/11/2014
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