A PRESENÇA DE UM ANJO
 
          A cidade era ainda pequena, o povo pacato e quase todo mundo se conhecia, as poucas lojas da cidade ofereciam o suficiente para atender todos os moradores, em uma esquina da rua principal da pequena cidade havia uma loja de ferragens, nela uma jovem vendedora de apenas dezessete anos, muito linda, andava sempre bem arrumada, era nativa da zona rural próxima.
          Em um dia de trabalho como todos os outros na calma cidadezinha a jovem Ângela viu quando passou um soldado ainda fardado em frente a loja, seu olhar cruzou automaticamente com o dele, naquele instante tinha nascido ali uma paixão.
           Esta paixão se transformou em namoro e esse namoro surgiu uma gravidez, desde então sua vida virou ao avesso, tudo que imagina estava trancado em uma caixa de sonhos, nada parecia verdade. Muito jovem para assumir e tomar uma decisão acabou ficando nas mãos de seu namorado e sua sogra, esta se revelou e tornou-se seu algoz.
          Por razões de princípio da região o soldado tinha que assumir a jovem Ângela levando-a para sua casa até providenciar o casamento, isso poderia ser a solução, mas não nesse caso, desde então seu sofrimento só aumentou. Sua sogra lhe maltratava todos os dias, seu ódio foi revelado enquanto o jovem soldado sem expressar qualquer reação deixava tudo ocorrer, sendo omisso em tudo que sua mãe fazia.
         Ângela não sabia o que fazer, tinha que aguentar todo aquele sofrimento enquanto estivesse na casa da malvada sogra. O casamento foi marcado e faltando uma semana para acontecer o jovem soldado, talvez orientado por sua mãe evadiu-se, desapareceu sem deixar vestígios ou um recado para a jovem que continuava sofrendo nas mãos de sua sogra nefária.
         O casamento não aconteceu, a jovem Ângela continuou sendo maltratada aguardando uma solução para sua vida, mesmo diante de tanta angustia não deixou seu trabalho o qual todos os dias ia trabalhar sem reclamar. Por razões de honra e respeito, coisas antigas, coisas da região seu cunhado foi à procura do irmão que a deixou esperando no dia de seu casamento e em uma discussão muito séria o jovem soldado resolveu voltar e cumprir sua obrigação casando-se com Ângela.
          Seu martírio não acabou o sofrimento era constante, sua sogra não a deixava em paz, mesmo durante sua gravidez não abandonou seu trabalho e seus estudos o qual concluiu. O sexto mês de gravidez lhe trouxe umas dores intensas, cada dia se tornava pior e em um dia que passou mal no trabalho foi levada com urgência ao hospital por razões de sua gravidez.
         Após uma avaliação os médicos constataram que o caso era muito grave, havia pedras em seus rins e isso iria complicar o processo da gravidez até o nascimento da criança. Essa crise se agravou em uma situação peculiar foi chamado sua família e seu marido para uma decisão crucial. Numa reunião os médicos fizeram uma proposta para toda a família: “Quem iria viver a criança ou a mãe, pois só havia possibilidade de uma sobreviver”, essa decisão tinha que ser tomada urgente, pois a vida dos dois estava em perigo e só uma poderá sair com vida daquele hospital.
          Essa confusão toda, essa decisão levou a família a refletir tudo, as reuniões entre as famílias foram constantes, deixando a jovem Ângela refletindo sozinha no leito do hospital, seu sofrimento parecia não ter fim, alem de sofrer durante toda sua gravidez ainda tinha que ficar dependendo de uma decisão, se viveria ou deixaria sua filha viver.
          Em um dia lindo, daqueles que dar vontade de sair pela rua, pelo campo abraçando as flores e sorrindo para o mundo Ângela acordou no leito do hospital, mas não podia curtir esse dia, estava ainda muito doente e sua vida não compartilhava com aquele dia. Sua saúde ainda era vital, seu olhar se tornou triste, perdeu-se no tempo, perdeu o brilho e seu sorriso foi-se com a brisa leve que lhe trouxe a imagem do dia lindo que via lá fora.
          Recolhida em seu canto e abraçado com seus pensamentos ficou aguardando a decisão. Mas o dia ainda não tinha acabado e num aspecto de luz que entrava pela porta do quarto do hospital surgiu uma mulher, esta lhe olhou, esboçou com um sorriso, parecendo desconhecer sua dor, sua vida infeliz. Numa reação incomum a mulher se dirigiu em sua direção e foi lhe falando:
     - Não se preocupe minha jovem, suas dores vão parar amanhã você não sentirá mais essas dores e sua filha vai nascer em breve para lhe trazer paz e sossego, vou rezar pro você e tudo vai sair bem.
          Depois de ter dito isso a mulher desapareceu assim com surgiu, ninguém tinha a visto pelos corredores do hospital ou sabia quem era, pois suas características eram desconhecidas dos funcionários do hospital e de outras pessoas da cidade, ninguém sabia de onde Ângela tinha tirado a imagem dessa pessoa. Ângela sabe que depois da visita dessa mulher suas dores e males começaram a desaparecer e sua saúde foi voltando ao normal, como se alguém tivesse lhe tirado o mau com as mãos.
         O dia seguinte seria crucial para Ângela, pois iria passar por uma nova bateria de exames e já com a decisão de sua família tudo iria ocorrer como já lhe tinham avisado.  A hora chegou, os médicos chegaram e começaram a refazer todos os exames, depois de algum tempo descobriram que tudo que tinha achando em dias anteriores não existiam mais, ficavam se questionando como isso poderia ter acontecido, em uma nova reunião com a família os agora teriam que dar uma nova notícia, mas agora seria uma notícia boa:
     - Bem, fizemos todos os exames e refizemos outros e por incrível que parece a jovem Ângela não tem mais nada, podem não acreditar, mas ela foi curada de uma hora para outra, isso é incrível, não sabemos como explicar. – Disse um dos médicos que a avaliaram.
     - Mas como doutor, estávamos angustiados com esse problema de Ângela e seu bebê, como pode isso acontecer, só milagre de Deus. – Disse a mãe de Ângela.
     - Realmente minha senhora, só milagre de Deus, quem sabe o que Ângela estar falando sobre essa mulher que lhe apareceu de repente e foi sem deixar vestígios não seja uma enviada dele. – Diz um dos médicos cabisbaixo.
     - Isso doutor, realmente só pode ter sido a presença de um anjo, pois já procuramos em todos os lugares e ninguém sabe ou viu essa senhora por estas bandas aqui da cidade.  – Diz o pai de Ângela fazendo um sinal da cruz.
         Três meses depois nasce a criança, após 8 horas de parto, mesmo passando por um sofrimento intenso, vendo sua filha com o cordão umbilical enrolando no pescoço sendo retirada por fórceps, roxa de tanto sofrer, Ângela não perde a esperança, sua batalha agora é tentar tirar os traumas que sua filha teve e sentiu durante toda sua gravidez.
         Novamente veio em sua mente a imagem daquela mulher e suportando toda dor ouviu o choro de sua filha ecoar pelo hospital enquanto um sorrateiro feixe de luz se evadia da sala de parto ganhando outro rumo.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 24/01/2014
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