Jesus
Nasceu o pequeno filho da pobreza. Seu pai, carpinteiro, sem ter como sustentar a família, devido ao trabalho artesão pouco valorizado, angustiava a pena de ter mais uma boca para alimentar. Sua esposa, Maria, mulher castigada, mas de corpo formoso, deitara-se com ele naquela noite estrelada. Quando engravidou, devido a pouca idade e a falta de conhecimento acerca do sexo, imaginara ainda estar virgem, já que o marido, homem experiente, assegurara que a virgindade se encontrava no coração e não no cabaço. A gestação foi velada, pois residiam longe do vilarejo, parindo sem amparo no curral, com a única vaca no pasto. O parto natural, não deixara sequelas no rebento, que nasceu saudável. As únicas testemunhas do nascimento, foram três viajantes, que pediram pousada e com isso perceberam a situação do casal, ajudando no que puderam. Ao retomarem a estrada, deixaram presentes, coisas simples, apenas como forma de agradecimento pela dormida.
O menino cresceu pelos campos, com todos tomando conhecimento acerca do nascimento. Era audacioso nas brincadeiras, fazendo com que liderasse o grupo de crianças dos arredores. Muitas vezes, durante o período de desenvolvimento moral, brigou com os pais, saindo pelas pastagens e retornando dias depois. Aprendera o ofício do pai e já auxiliava a mãe na limpeza doméstica. No meio de jovens estudados, aprendia de forma autodidata sobre a cultura do seu povo. A mente fértil, fez com que produzisse verdadeiras odisséias que animavam as rodas de amigos no ambiente pastoril. Com muito sacrifício, exploravam o leite da única e magra vaca que a família possuía.
Ao crescer, sem muito destaque, acabou presenciando uma revolução na região que habitava. Na tentativa de um novo regime político ser instituído, existia a necessidade de um símbolo, mais do que isso, uma espécie de avatar. Na tentativa de sensibilizar a população paupérrima, líderes decidiram eleger um cidadão do populacho para servir de estandarte a causa. Os olhos de um partidário voltaram-se para as ruas de terra, contemplando o jovem magro, que possuía proporções adequadas ao seu desejo de conquista. Naquela tarde, o pequeno Jesus esperava um amigo, que tinha o hábito de se encontrar com ele para fumarem cigarro de palha e beber vinho de safra duvidosa. O rapaz foi conduzido a casa dos pais, que espantados, acabaram cedendo ao desejo do demagogo, que exaltou o filho querido e prometeu que faria dele alguém que jamais seria esquecido, além de recompensar o casal faminto com comida e alguns bens para sua subsistência.
O rapaz, ainda sem entender o fato, fora conduzido por salões, onde era educado conforme um modelo de novo cidadão que era almejado. Vestia panos parecidos com os que usara a vida toda, só que o tecido era de boa qualidade. fazia visitas a famílias conhecidas, além de penetrar casas estranhas, onde um grupo de chamados discípulos, divulgavam aquilo que era dito como sua obra. Não se recordara de nenhum milagre. Conforme seu gosto, trocou a água dos poços artesianos por vinho, pois acreditava que o povo precisava de mais alegria. O pão escasso, era moído para que multiplicasse para os famintos. Um dos seus, chamado Pedro, sentia inveja da fama desse que chamavam de mestre. Vira os pés saltando sobre o caminho de pedras, que ficava sob as águas escuras. O que fez com que afastados espectadores, acreditassem que o sujeito caminhara sobre as águas. Jesus, por ironia, a partir daquele dia, o chamou de Pedro, aquele que sabe das rochas.
O jovem, agora homem, se aventurava por prostíbulos, sendo amante cativo de uma mulher com o mesmo nome de sua mãe, Maria. Muitas vezes fizera amor pensando naquela que lhe dera a luz. Mas Madalena era diferente, enfrentava a vida de forma mais despudorada, partindo para cima de clientes. Tratava Jesus com carinho especial, deixando de cobrar pelas noitadas, já que se afeiçoara ao rapaz de cabelos compridos e que a tratava não como os outros, mas valorizando mais que seus dotes corporais, elogiando sua inteligência e bravura. Judas seguira a risca os passos do mestre, inclusive perdendo sua virgindade para o mesmo. Jesus e Judas possuíam aquela relação dos filósofos gregos com seus alunos, além dos ensinamentos escolares, também aprendiam os prazeres do corpo.
Finalmente chegara o dia tão esperado. Jesus seria sacrificado em nome de uma causa maior. Judas tentou salvá-lo, denunciando a trama. Mas soldados estavam de prontidão, detendo o messias e castigando seu corpo em praça pública. Madalena se atracara com soldados, sendo repelida a pancadas, resistindo de forma valente, até perder completamente as forças. Maria, a mãe, apenas chorava desconsolada, pois não era o destino que desejava para seu filho, o pai já havia falecido, devido a doença de causa desconhecida. Crucificado, morrera dependurado para servir de exemplo e mais do que isso, inspiração ao novo culto que desejavam impor. O sucesso foi imediato, com todos os camponeses aderindo. Judas chorava aos pés de Jesus, como Alcibíades no leito de Sócrates.
Para finalizar, espalhou-se o boato que Jesus ressuscitara. O povo, inflamado pela devoção cega, enxergava até mesmo em musgos de pedras, a imagem do seu herói, passando a chamá-lo Cristo. Madalena fora chamada impura e seria apedrejada, mais Judas, tão castigado pela dor da perda, disse ser ela inocente, que ele era o sodomita, e que ainda traíra Jesus, já que na sua mente, poderia ter evitado a tragédia, se agisse de forma precoce. Fora linchado até a morte, servindo de símbolo do antigo regime, aquele que trai o povo e não merece piedade. A história foi reescrita, em um livro que seria a lei, a única lei. Onde, sua mãe era mesmo virgem, os viajantes chamados de magos, Madalena fora resgatada da vida impura e aquela antiga forma de crença que vigorava antes de Jesus, batizada como Satanás, já que é inimiga dos humildes, que são os que seguem os ensinamentos do Cristo.