Realidade Onírica

Mais um dia, o filho chega do trabalho. Ao avistar o portão de entrada, uma figura parada com ar taciturno.

- Mas não pode ser, é meu tio, mas ele já faleceu!

Assombrando diante do espectro de um passado guardado na memória, se vê de volta ao começo do ato, num déjà vu, repete os passos chegando do trabalho e de novo aquela mesma figura, parada e com ar de poucos amigos, mas que no momento seguinte caminhava sem olhar para os lados.

Chegando em casa encontra sua mãe, com a cabeça sobre a mesa de madeira, em prantos.

Emocionado, cai de joelhos ao lado cadeira e pergunta o movito. A mãe mal conseguindo pronunicar as palavras, consegue conter por um momento o choro e diz:

- Os médicos estiveram aqui, disseram que se eu não amputar as pernas, meu destino será fatal.

O filho desconsolado, não tentando transparecer o golpe sofrido, os olhos lacrimejantes, observa aquelas pernas já comprometidas. Abaixa a cabeça num silêncio meditativo, se recordando naquele instante que sua mãe também já havia falecido.

Logo vem à memória, todas aquelas cenas do antes vivido e agora lembrado, as lágrimas caem sem nada mais que possa contê-las. Quando sua mãe olha em seus olhos e diz:

- Comprei os móveis desta casa, cada um deles escolhidos, novos, sem que lhes faltasse um pedaço sequer. Agora sou eu, quem está às vésperas de perder uma considerável parte do corpo. Uma mulher incompleta, com a falta dos teus próprios pedaços.

- Consola-te mãe, pois o importante é não terem usurpado uma parte de seu coração.