No Fim do Diário pt. última
25 de Dezembro de 2005
Quero escrever uma coisa aqui antes que seja tarde demais, quero que meu pai leia isso e saiba que eu não tenho nenhum remorso quanto à ele. Mesmo não tendo sido um pai atencioso eu tenho que dizer abertamente que ele nunca me deixou sem comida, nem eu nem meu irmão. Nunca deixou a luz de casa ser cortada ou a mensalidade da escola atrasar.
Pai eu te amo e nada que o senhor tenha feito me fez mal. Eu posso não ter sido o filho que o senhor pediu a Deus, mas eu me esforcei, eu juro. Mas o senhor sempre convidava Carlos para jogar e não eu, se você tivesse me chamado naquela manhã de sexta-feira eu poderia ter salvado Carlinhos de ficar na cadeira de rodas para o resto da vida. Eu sinto muito se o que fiz ao senhor tenha te deixado triste, mas eu tenho que dizer que eu sempre quis que o senhor me aprovasse do jeito que eu sou.
Gostei do que o senhor me fez na noite passada. Eu tenho que contar que eu vou morrer feliz e que meu espírito vai descansar em paz. Agradeço muito por ter dito que o senhor leu todos os meus textos e que gostava muito deles, que leu ao meu irmão que também adorava e que sempre acreditou que eu seria um grande escritor. Eu te amo pai e eu queria que o senhor tivesse mostrado o seu amor antes de eu morrer.
Eu vou parar de escrever agora porque minha cabeça parece que vai explodir e eu já não to mais sentindo os meus dedos. Tchau pai e se eu não acordar amanhã saiba que eu sinto muito ter matado a mulher que o senhor tanto amou.