No Fim do Diário pt. 4
22 de Dezembro de 2005
Melancólico não? Ficar numa cama de hospital à ponto de morrer escrevendo sobre a porcaria de vida que eu tive.
Quando eu ficava em casa eu escrevia também, mas nunca escrevi sobre mim. Eu não sou egocêntrico, odeio falar de mim em público e acho que nem mesmo as coisas que eu escrevo, que diga-se de passagem são textos muito bons, teria coragem de deixar alguém ler.
Uma vez eu escrevi uma história, é bonita até. Acho que devo lembrar algo dela.
“Andríc era um garoto solitário que gostava de desenhar e ver filmes. Uma vez ele viu que a vida dele era um completo desperdício. Desperdício de tempo, desperdício de alimento, desperdício de remédios e desperdício de lugar no espaço. Naquela noite ele estava decidido que sua vida ia acabar e quando chegou oito horas da noite ele foi para o banheiro já com uma gilete nas mãos.
“Ele estava sentado na beirada da banheira e segurava a lâmina encostando-a em seu pulso constantemente pensando na vida, repensando em tudo e vendo que aquilo era uma idiotice. Afinal o tanto de gente que estava pior que ele, que vivia debaixo de ponte e comia do lixo. Ele começa a chorar.
“O garoto se debulha em lágrimas e as mesmas encharcam o chão abaixo dele. Ele começa a tirar de perto do pulso a lâmina e ao tentar se levantar acaba escorregando nas próprias lágrimas e passando a gilete em seu pulso ao cair.
“Dentro da banheira ele olha para o sangue que escorre por seu braço e então começa a chorar mais ainda, desta vez desesperado. A vida de Andríc se esvai junto com o sangue e em instantes ele está contemplando o vazio do Universo.”