No Fim do Diário pt. 2
16 de Dezembro de 2005
Pois é, tenho câncer.
Que jeito engraçado de confessar, nem mesmo te conheço e estou aqui dizendo da minha vida. Pior mesmo é você que provavelmente está lendo isso de um diário que está expressamente dito no começo: PESSOAL. Quando eu encontrei este pequeno caderno sob minha cômoda a coisa que pretendia colocar nele eram meus desenhos, mas não tenho muita vontade de desenhar ultimamente.
Desde que o médico me disse que estou com câncer no cérebro a minha vida acabou.
Lembro perfeitamente o dia que ele se aproximou da minha cama, não tinha uma cara tão feliz, meu pai estava ao lado dele e lembro perfeitamente as palavras: “Sinto muito garoto!” só fui saber que era câncer quando eu insisti para o meu pai que explicou que tem cânceres que podem se curar e uns que matam em longo prazo, o meu não era nenhum dos dois.
Acho sinceramente que meu pai está feliz, ele nunca gostou de mim mesmo. Eu o via no quintal jogando futebol com meu irmão às vezes e sabia que no fundo se tivesse de escolher alguém para morrer que fosse eu, o filhinho que ficava no quarto trancafiado com a cara enfiada nos livros.