No Fim do Diário pt. 1

15 de Dezembro de 2005

Eu estava pensando em fazer um diário, mas as únicas coisas que consegui escrever foram como me sinto perante a sociedade. E devo dizer que não é lá um sentimento muito bom. Este diário eu achei a um tempão, mas só agora encontrei alguma coisa pra escrever.

Quando nasci acho que meu pai deve ter me amaldiçoado por matar minha mãe.

Ele a amava e se ele soubesse o quanto eu me sentia culpado por ter arrancado a jóia mais preciosa dele, ele não seria tão mal comigo.

Eu sempre quis saber a cor dos cabelos de minha mãe ou quão macios e cheirosos eram. Queria sentir o coração dela pulsar enquanto minha cabeça repousasse sobre seu peito e o seu cheiro enquanto ela se arrumasse para sair. Mas a única vaga lembrança que tenho dela é a de uma pequena foto Polaroid na qual ela está segurando meu irmão pequeno nos braços e meu pai está ao lado dela. Ele sorri confiante, ela sequer olha para a câmera.

Perdi esta foto por volta dos meus três ou quatro anos, era a única foto que tínhamos dela. Se minha memória não me engana outra vez não foi exatamente perdida, acho que um garoto da escola deve tê-la pego e rasgado-a. Não me recordo muito bem das coisas, depois que peguei câncer é difícil guardar lembranças muito bem.