DA SINGULAR LEGENDA DOS FEITICEIROS DE PAPUÃ E CRIXÁS
(Pilar de Goiás, cidade onde o famoso linhagista Pedro Taques de Almeida Paes Leme
escreveu a NOBILIARCHIA PAULISTANA HISTÓRICA E GENEALÓGICA, PUBLICADAS PELA Biblioteca Histórica Paulista, nas comemorações do IV Centenário da Cidade de São Paulo)
Para a singular história que se contará agora, que eu busquei nos escritos antigos, dar-se o nome de “ A POMBA DA MORTE” E QUE NINGUÉM DUVIDE DOS FATOS, SEJA IMPENITENTE OU NÃO.(NOTA DO AUTOR)
Nos anos de 1 741 a 1 743, as povoações mineradoras de Papuã e Crixas, que hoje tem o nome de Pilar de Goiás, foram palco da mais estranha batalha de que se tem noticias por aquelas bandas.
Foi o estranho duelo de bruxarias entre dois feiticeiros que disputavam o primeiro lugar nas artes mágicas e malignas.Segundo esses relatos que figuram nas crônicas da época com o nome de “Feitiço de Crixás e, ainda, são conhecidos pelos mais velhos da região, os feiticeiros aterrorizaram Crixas e Papuã por mais de dois anos e muita gente teria sido atingida pelos malefícios que praticavam. Hoje, em Crixás e Pilar as poucas pessoas que ainda conhecem o episódio através das narrativas dos seus ascendentes preferem não determinar os locais onde viviam os feiticeiros com medo de que perdure a influencia mal sã dos bruxos ou que melindre quem possa estar morando nos ditos locais.
Só se sabe que a casa dos feitiços deve estar localizada na parte mais velha da cidade
o feiticeiro de Crixás teria sido um índio da tribo Qirixá ou Crixá, que ali habitava quando da descobertas das minas da região por Manoel Tomaz(alguns atribuem o descobrimento a Domingos Pires no ano de 1 726).
O feiticeiro de Pilar (antiga Papuã ) seria um negro africano que ali chegara com outros escravos foragidos, no ano de 1 74l.
Como se sabe, Pilar de Goiás foi onde se verificou a maior concentração de escravos mineradores, tendo sido extraído das suas lavras mais de cem arrobas de ouro.
Por causa da riqueza das minas, aliás, é que se iniciou a estranha batalha de feitiços.
A ação dos feiticeiros teria sido desencadeada a pedido dos senhores das minas de Crixás, que procurava impedir o progresso dos negros mineradores de Papuã.Por arte desses malefícios, acreditavam os moradores, as águas usadas para a lavagem do cascalho começaram a secar nas minas de papua e os negros já eram atacados coletivamente de sono profundo e outros enlouqueciam.
O feiticeiro de Papuã quebrava o encantamento e provocava problemas iguais ou piores em Crixás. Essa situação teria se prolongado até o dia em que os garimpeiros de Crixás passaram a buscar a proteção da Padroeira do Povoado, N.S. da Conceição.
Em papua, o povo, em contra partida, buscou a proteção de N.S. do Pilar, com inicio da construção de uma capela em louvo da santa. Desde então, sentindo que os seus feitiços se anulavam mutuamente, os bruxos entraram em guerra pessoal, cada um procurando destruir o seu rival, através de feitiçarias.
Não se sabe, exatamente, donde partiu o ataque inicial nem se estabeleceu qual dos feiticeiros morreu primeiro. Conta-se que o feiticeiro de Papuã vazara os olhos de uma pomba, com um alfinete de ouro que deixara cravado num dos olhos do pássaro, despachando-o para Crixás. A pomba sobrevoou a cidade por várias horas, até que às primeiras horas da noite pousara no telhado da casa do feiticeiro.
No mesmo instante, o bruxo Quirixá teria ficado completamente cego, com os dois olhos vazados.
No outro dia, segundo a lenda, o feiticeiro cego pediu que pegassem a pomba e a colocassem em suas mãos. Feito isso, arrancou o alfinete de ouro que estava cravado no olho do pássaro, engastando-o sob uma das asas da pomba, devolvendo-a para Papuã.
Às seis horas da tarde a pomba pousa no telhado da casa do feiticeiro que a cegara e, ao fechar as asas, é sangrada pelo alfinete e morta.
No mesmo instante o feiticeiro expira com o coração atravessado por um estilete invisível e o feiticeiro de Crixás recobra a vista.
Conta-se que depois dessa batalha final, os religiosos conseguiram isolar o bruxo sobrevivente e nunca mais se falou dele.
N.A. Esta história é verbete no
DICIONÁRIO DO BRASIL CENTRAL, de
Bariani Ortencio.)