A SINGULAR HISTÓRIA DE MARIA ESCANDELARIA
A SINGULAR HISTÓRIA DE MARIA ESCANDELÁRIA
È costume antigo em Goiás e em todo Centro-Oeste, afirmar-se que mulher deitando-se com padre vigário vira mula sem cabeça.Outros afirmam que comadre prevaricando com compadre,da mesma forma vira coisa ruim,o que acontece em noites escuras ou enluaradas,desde que seja fim do mês ou final de semana,nunca antes de quarta-feira.Nesta história não se discutirá a forma pela qual se dá a transformação e muito menos se a tais ditas cujas existem ou não, o que não é da conta de ninguém e nem é direito duvidar de uns e outros quando afirmam ter visto esses trens que, por certo, são criações e obras do encourado.
Pedro Alves de Souza, conhecido por “Pedrinho”, era funcionário muito antigo da Secretaria do Governo e figura sobejamente conhecida no centro administrativo como um rapaz alegre,porém muito sério.Pedrinho é de Araguari, nas Minas Gerais.Ele sabe, pois conheceu de perto todos os personagens,como a coisa acontece e como, de fato, nascem as mulas sem cabeça que, na sua opinião, nem sempre são criaturas malignas,porém são danas pela revolta de terrível maldição que carregam,sem terem culpa alguma.Segundo Pedro,é sabedoria popular, nas bandas de sua terra, especialmente nas barrancas do Rio das Velhas,que toda sétima filha de um casal que tenha tido apenas sete filhas mulheres,terá obrigatoriamente de ser batizada pela irmã primogênita,única forma de livrar-se da maligna condição de mula sem cabeça,também conhecida como coisa danada ou rabuda.Pedrinho é testemunha de uma história a qual se dará o nome de “estranha história de Maria Escandelaria Fagundes”.
EM LUGAR DE MISTÉRIOS
O lugar desses acontecimentos, apesar de Pedrinho não saber disso,tem todas as condições para tais coisas,visto que foi exatamente nesse lugar, antiga passagem do Rio das Pedras, que Antonio Pires de Campo, nos idos de 1 749, fez o seu arraial com os índios Bororos de Cuiabá, para dar combate e exterminar os Caiapós das passagens das Minas Gerais e Goiás, até o Cuiabá. Foi naquele lugar que Fernão Dias Paes leme, o Governador das Esmeraldas, fez enforcar o seu filho bastardo, José Paes.É um lugar de tragédias,violências e mortes.Foi aí que se deu o acontecido que se contará agora:
CAP. II
Maria Escandelaria Fagundes foi a sétima filha de um casal de ribeirinhos do Rio das Velhas,cujo nome não se declinará por motivos óbvios,mas que era apelidado de “Casal das Moças, pelas tantas filhas.
Não gostava nem acreditava lá nessas coisas de água benta, do padre e no batismo dos filhos e, como pastor irmão pelas bandas,para a devida imersão e batismo em águas correntes, Escandelaria foi ficando pagã, sem nenhum batismo, e é certo que qualquer batismo serve para evitar danação.
O fato é que, segundo conta Pedro Alves de Souza , a família sofria muito com as costumeiras ausências da menina, lá pelos seus doze anos, ao mesmo tempo em que muita gente já comentava ter visto uma mulazinha,até bonita, correndo pelas margens do rio, e algumas vezes, fim de semana passando ligeira, em noite escura, pela porta da capela da cidade, especialmente quando estava acontecendo alguma novena com as suas cantorias e ladainhas. Foi aí que começaram a desconfiar da coisa e as rezadeiras falaram logo que aquilo era mula sem cabeça,ou mulher de padre, motivo pelo qual sempre rondava a igreja.
Segundo Pedro,ele se lembra bem do fato, pois já tinha dez anos de idade muita gente viu Maria Escandelaria entrando na capela, numa tarde de quarta –feira, antes de começar as funções da noite e, lá ficara trancada por dentro. Chegando a noite,quando deveria começar a reza, a porta continuava trancada por dentro e o povo, assustado, entoava cantos e orações, ao mesmo tempo em que os mais ousados se atreviam a violentar o templo sagrado arrebentando. Então aconteceu a coisa:arrebentada a tranca, sai lá de dentro a coisa ruim.,galopando, urrando urinando fogo e soltando chispas nos cascos enquanto atravessava a praça. Muitas velhas desmaiaram, muitos homens se borraram e muitas crianças saíram correndo, quando ninguém vira a cabeça que mula bonita que saira da igreja. E quando entraram, dentro da pia de água bentas estava um monte de estrume e o altar chamuscado de fogo.
Por coincidência ou não, ninguém mais viu Maria Escandelaria e, alguns dias depois do acontecido, a família da referida mudou-se para Araguari(MG.) e Dalí ninguém sabe para onde fora ou sumira.
Se foi mula sem cabeça, mulher que dormiu com padre ou comadre prevaricadora, ninguém sabe, nem se pode jurar, mas Pedrinho jura que a coisa aconteceu e que a igreja do arraial esta estranha visita.
Segundo se interpretou na época, pelos mais antigos, a dita cuja vivia procurando a igreja não por causa do padre, mas buscando a ajuda do Senhor para livrá-la da maldita sina, que ela carregava sem ter culpa nenhuma, em tendo se transformado na besta fera
Ainda dentro da capela, fez o que fez não por maldade, mas por não ter cabeça e reconhecer o lugar sagrado. Para alguns mais versados no assunto, Maria Escandelaria já deve estar livre da maldição que dura exatamente sete anos, correspondendo, cada ano, aos sete partos da mãe, sendo o castigo pelo não cumprimento das exigências divinas de se batizar a caçula, dando-a como afilhada para a primogênita.