Contos de Horror 666 - Cidadão de bem
Contos de Horror 666 - Cidadão de Bem
Era uma mesa farta: pedaços de pés e mãos servidos como ensopados, coxas e pernas inteiras assadas. Cabeças abertas repletas de sangue, muco e pus, servidas com canudos e talheres.
Haviam cinco cadeiras ali; as cinco estavam ocupadas com crianças negras e raquíticas, tiradas de suas mães, mortas diante de seus olhos. Crianças africanas e desnutridas, com os olhos esbugalhados devido à fome e os ossos do corpo expostos.
Estavam acorrentados pelos pés, com as mãos livres sobre a mesa. Servindo-os, havia uma linda mulher loira, scarpin rosa nos pés, meia arrastão pretas e um vestido de couro vermelho e preto.
Ao seu lado, um homem careca e esguio com um paletó preto, repleto de pulseiras de ouro em seu pescoço.
Era notável que pelo chão haviam jornais recentes e antigos com notícias que estampavam o rosto do casal.
“Casal Abigail adota crianças africanas em uma demonstração de empatia e amor”.
A mulher delicadamente toca um sino. E sem pestanejar, as crianças devoram a carne humana.
Suas bocas com dentes podres mal conseguiam mastigar os pedaços de carne; engasgavam com o sangue e bebiam o pus das cabeças.
A fome era devastadora; seus olhos arregalados pela desnutrição que mal cabiam em seus pequenos crânios demonstravam gratidão pela refeição que estava finalmente sanando sua fome.
"Comam rápido, crianças. Ainda hoje temos que tirar fotos para o jornal. Não se esqueçam de escovar os dentes e sorrir", disse a senhora Abigail, sorrindo.
Após algumas horas, as crianças estavam fartas, cansadas e sujas de sangue. O senhor Abigail, com nojo, pegou as correntes pelas mãos e arrastou as crianças para uma espécie de porão.
Lá dentro, uma empregada negra presa com correntes em seus pés era responsável por dar banho e vestir as crianças.
Elas ficaram lindas, apresentáveis, ainda que sua aparência raquítica chamasse a atenção.
"Crianças, quando o pessoal dos jornais chegarem, sorriam! Por favor, sejam gratos a Deus e à sua nova família"
Disse Abigail, sorrindo, enquanto o olhar dela ocultava o horror que se desdobrava nas entranhas da sociedade.