Conto 19 - A Mosca
Conto 19 – A Mosca
No escuro úmido de um porão abandonado, onde o cheiro de mofo e podridão impregnava o ar, e as vítimas de estupro eram levadas ao limite de Sodoma.
Habitava uma criatura sombria e repulsiva: A mosca. Seu nome, se é que poderia ser chamada assim, era um sussurro incompreensível em meio aos gemidos das paredes corroídas pela umidade.
Cada manhã, ela se alimentava dos restos mortais das garotas e crianças mortas esquecidos em um canto sujo do porão.
Seus olhos negros brilhavam de satisfação enquanto ela se banqueteava com a carne putrefata, devorando-a vorazmente, sem se importar com o odor nauseante que emanava dela
Enquanto voava pelos corredores apertados, a mosca testemunhava o desespero humano. Ela observava as prisioneiras trancadas em suas celas, gritando por socorro que nunca viria, clamando por um Deus, que tampouco existia.
Ela via seus corpos se contorcendo de dor e prazer, enquanto ela pairava sobre eles, alimentando-se de sua agonia.
Nos momentos de silêncio, quando a escuridão engolia tudo ao seu redor, a mosca mergulhava em seus próprios pensamentos sombrios.
Ela refletia sobre a natureza cruel da existência, sobre a inevitabilidade da morte que pairava sobre todos, inclusive sobre ela mesma
Mas mesmo em seu reino de trevas e desolação, a mosca encontrava prazer nas pequenas misérias da vida.
Ela se deleitava com o cheiro pútrido que impregnava o ar, com o sabor amargo do sangue seco que pingava das paredes. Para ela, cada gota era uma sinfonia de horror, uma celebração da carnificina
Quando a escuridão era mais densa e opressiva, a mosca se entregava aos seus pesadelos mais profundos.
Ela voava pelos corredores tortuosos do porão, perdendo-se em labirintos de escuridão e loucura.
Para ela, não havia escape, não havia redenção, apenas a eterna agonia do existir.
E assim, dia após dia, a mosca vivia sua vida de horror e desespero, observando o mundo com olhos vazios e um coração apodrecido.
Pois mesmo na escuridão mais profunda, ela encontrava uma beleza macabra, uma poesia de terror que ecoava através dos séculos, como um grito perdido na noite infinita.
- Gerson De Rodrigues.
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