O PIOR LADO - coletânea de microcontos (alguns recantistas vão se encontrar por aqui)

 

 

I - SABOR RUBRO

 

Ana Pujol se desviava dos raios de Sol, do brilho lunar, dos lampiões das ruas, até mesmo do lume das velas. Sempre nas madrugada opacas, ao se alimentar de sangue vivo, fresco e rubro, se deliciava nas trevas em regozijo.

 

 

II - ANÉIS DO PODER

 

O segundo badalar do anéis do poder, no pêndulo do relógio do Inferno, marcava a cadência, de mais um reinício de torturas diárias. Lucimar Alves, sentia a pele queimada e recuperada no mesmo dia, novamente se queimar e abrir. A saga de vulcão de peles incandescentes e abertas, já se repetia há vinte três anos, a dor já fazia parte da escrota rotina. O purgatório não tinha acolhido sua alma, o 'não perdão' sequer deixou, que ela se aproximasse do Paraíso. O 'mea culpa' seguia ardente.

 

 

III - ...PELA RAÍZ 

 

A sensualidade sem controle de Antônio Jadel, minava a esperança de um dia se satisfazer com a tranquilidade. Rasgava poros, riscava o quadril em linhas sanguíneas, vivia em banhos gelados, mas, o absurdo desejo de sexo, já fizera com que ele perdesse amores, emprego e a paz. Num Sábado bardo, declamando histórias de seu povo, na biblioteca pública de seu Município. Ao invés de aplausos, Lilian uma mulher cheia de ódio, rasga à facadas, o tesouro inoportuno dele...e leva a 'raíz' nas mãos... Antônio Jadel fenece, mas, o tesouro cresce sob a terra onde foi plantado.

 

 

IV - CIENTE INCONSEQUENTE 

 

Aldrin Félix, adorava velocidade, no volante era um Ás, em nada pensava, só sentia com gosto o vento nos cabelos, com a trilha sonora dos roncos do motor...

- Saiam da frente que estou passando!

Aldrin Félix confiava no poder do carro, da tecnologia e arranque, que lhe proporcionavam tanto prazer... até a parte elétrica se apagar de repente... totalmente e, ele e o carro voando alto antes de cair... não nos sonhos, mas, sobre sete pessoas que estavam fazendo um piquenique, no jardim de casa de Luna Mia...ninguém sobreviveu.

 

 

V - A ROSA USOU OS ESPINHOS

 

A doce cronista e poetisa, das Minas gerais, mista de soteropolitana, Rosa Alves. Escondia de forma blindada os seus arroubos de ódio. A sua caminhada matutina era habitual. Naquele alvorecer de Inverno de Sol ameno e frio, uma criança pequena se desgarra da mãe no calçadão da praia e, abraça o corpo de Rosa Alves, fazendo com que ela se desequilibrasse e tombasse no chão. Só pra ter certeza que aquilo nunca mais aconteceria, quebrou o pescoço da criança, se levanta e aumentando a velocidade dos passos...quase escorrega nas lágrimas de Mariaga, a pobre mãe da menina. Rosa Alves só não ouve os gritos de desespero dela, porque estava escutando mantras, nos fones de ouvido do seu iPod.

 

 

VI - BOCAS ALINHAVADAS 

 

O preço do silêncio, às vezes não requer mudez, apenas agulhas grandes e linhas de nylon. Assim pensavam, os componentes da Confraria dos Adoradores do Pecado. A ligação absurda, que se tornou um grupo fechado, se reunia às sextas-feiras, em torno do  balcão de inox do açougue de Moacir Rodrigues e Juli Lima, os fundadores da confraria. Zédio Alvarez, Belle, Norma Aparecida, Chico Góis, Patrícia Justino, Martha Maria, Luiz Cláudio Santos, Nádia Gonçalves, Lumah, Ferreira Estevão, Olavo, Lélia Angélica e Arnor Milton, compunham o staff pecador.  Buscavam nos bares periféricos noturnos, inocentes almas ébrias ou distraídas, para deitá-las levemente dopadas sobre o balcão inox do açougue, fatiando as pobres criaturas a começar pelos pés. Os sons dos urros de dor eram como grunhidos, pois Belle tinha o mórbido prazer, de costurar com linhas de nylon, a boca das vítimas. O arrepio de gozo, que eriçava os pelos dos poros dos pecadores, só não dava prazer maior do que, as sevícias sexuais impostas às vítimas antes do golpe final. A sexta-feira de Aila Brito, Antônio Albuquerque e Lia de Fátima, foi épica. O chão ficou até escorregadio, por causa da baba que escorria, das bocas dos algozes. Flör dö Mär e Nachtigall, filhas gêmeas de Moacir e Juli, mesmo com doze anos de idade gargalhavam, ante a tudo que lhes era permitido assistir.

 

 

 

 

 

 

 

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 04/08/2024
Reeditado em 04/08/2024
Código do texto: T8121661
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