Conto  16 – A Poetisa

Conto  16 – A Poetisa

Ela era uma figura única e enigmática. Seus cabelos curtos, raspados dos dois lados, revelavam uma atitude ousada e determinada. Tatuagens adornavam seu rosto, traçando linhas que contavam histórias silenciosas, enquanto outras se estendiam por seu corpo, formando um mosaico de arte e traumas

Na penumbra do seu quarto, a Poetisa, com seus pés delicadamente tatuados, criava um ambiente onde sombras dançavam pelas paredes, como narradores silenciosos de seu próprio fim.

Roupas jogadas pelo chão formavam uma tapeçaria caótica, enquanto cada uma das suas tatuagens contava uma História, um trauma.

Na mesa, papéis amassados e canetas perdidas o quarto bagunçado, parecia um altar para a insanidade

No silêncio do quarto, ela mergulhava em escritas íntimas, cada palavra traçando um pedaço de sua própria jornada.

Seus pés, como protagonistas discretos, tocavam o chão com uma graça única.

Naquele quarto envolto em sombras, Sallen enfrentava um cansaço profundo. As paredes sussurravam segredos sombrios enquanto ela mergulhava na noite, abraçando suas angústias, traumas e a própria depressão.

Em um suspiro pesado, ela começou a tecer uma poesia niilista, uma expressão crua de sua desolação;

 

No sepulcro da alma, onde sombras se entrelaçam

Entre ecos de dor e suspiros que se despedaçam.

Caminho pelos corredores da descrença

Onde a esperança se afoga na noite densa.

 

Meus olhos, reflexos de um céu destroçado

Espelham o vazio de uma mente insana

 

Em cada verso, o eco do desespero eterno

Canta a sinfonia de um coração vazio

 

A lâmina das minhas angústias corta profundo

Na carne da existência, onde o tempo é fecundo

 

No abismo do silêncio, minha alma se perde,

E a poesia, como um grito, me enlouquece

E a tristeza dança com a loucura, num eterno dueto,

 

E na melodia sinistra, encontra-se o seu leito.

Ao diabo, que aplaudiria em seu trono de dor,

Entrego a minha alma, em cada verso em clamor.

 

Na penumbra do seu quarto, a poetisa havia traçado um pacto com suas sombras, oferecendo ao Diabo suas palavras carregadas de melancolia.

 

Gerson De Rodrigues in Contos & Goétia

Gerson De Rodrigues
Enviado por Gerson De Rodrigues em 22/02/2024
Código do texto: T8004793
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