A CASA DOS SUSPIROS...doces (terror e mistério) - revisado

 

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'Suspiros vermelhos, deliciosos, viciantes e cheios de dores, mas, ninguém sabia deste detalhe...'

 

 

 

Tia Sandra era uma confeiteira de mão cheia, sua lojinha de doces que ficava num casarão antigo no estilo colonial, era muito apreciada e a concorrência penava para se comparar, mas, era quase impossível, já lhe haviam comprado diversos suspiros para descobrir o segredo, mas, nada que produzissem saía com aquele gosto mágico dos suspiros vermelhos doces, eles desmanchavam na boca e o sabor permanecia por horas, filas se formavam a cada fornada, um sucesso...só não podiam imaginar a sofrimento por detrás daquele tom vermelho vivo...

 

No porão ladrilhado de branco e com duas enfermeiras à ferros, Augusta e Anna, responsáveis pela coleta diária da seiva vermelha, para a confecção dos suspiros desejados. Também tinham que manter alimentados os doadores daquele ingrediente principal.

 

Fábio, Olavo, Fernanda e Belle eram sangrados todos os dias praticamente, eram mantidos alimentados com todo o tipo de vitamina a base de ferro, fígado, beterraba e outros suplementos, o sangue deles dava a coloração necessária para o sucesso dos tais suspiros. Tia Sandra era na verdade uma pessoa sórdida, sem escrúpulos, pois os suspiros eram como quaisquer outros, apenas a coloração acrescida do sangue dos meninos criava a magia, na verdade inexistente, era apenas por maldade que recolhera os meninos das ruas e fazia essa tortura com eles, até quando Augusta e Anna não tinham ideia, mesmo com todos os cuidados eles estavam enfraquecendo e estavam cheios de cicatrizes.

 

Elas encarceradas num rapto planejado por Tia Sandra, já estavam naquele porão ha dois anos, sem noção do mundo lá fora, eram alimentadas e libertas para os 'afazeres diários do porão da confeitaria' por Luiz Cláudio, amante da 'doce' Tia Sandra, um brutamontes, com certeza saído de um cais de porto, mercenário e que por sexo e boa comida fazia todas as vontades dela, também era o segurança do estabelecimento, sempre cordial em sua grosseira aparência, um personagem montado pela cabecinha mórbida e cruel da Tia Sandra.

 

Numa tarde harmoniosa, com brisa fresca e Sol ameno, a fila estava enorme e os suspiros já estavam quase no fim. Tia Sandra vai até o porão e pede que Augusta sangre Olavo mais uma vez, pois ele parecia mais saudável naquele momento. Anna argumentou que o menino não suportaria mais um procedimento, poderia morrer, Tia Sandra, responde de forma ríspida,

- Pois então, o sangre até morrer...

 

Tomadas de uma coragem que não sabiam de onde surgira, Augusta e Anna começaram a gritar bem alto e desesperadamente, isso chamou a atenção de alguns fregueses e um rapaz forte que estava na fila, correu para o porão com um cabo de vassoura que encontrou pelo caminho e foi seguido por um outro moço baixo e atarracado com cara de maus bofes.

 

A cena que encontraram quase os fez vomitar, um menino sangrando e outras três crianças pálidas cobertas de marcas que denunciavam os mesmos maus tratos além das duas mulheres jovens aos berros acorrentadas. Sem muito pensar, começaram a gritar pedindo ajuda e outros homens e mulheres correram para o lugar. De todas as formas tentavam socorrer as crianças enquanto um grupo linchava a Tia Sandra, com um ódio absurdo nos olhos. Luiz Cláudio por sua vez, vendo o furdúncio formado, tratou de meter a mão no caixa e ganhar o mundo, antes que descobrissem que ele era o comparsa, da Tia dos Suspiros vermelhos doces, ninguém nunca mais soube de seu paradeiro...

 

 

*Comentavam alguns anos depois, que o pobre Olavo não sobrevivera, bem como a macabra Tia Sandra, a sua casa do mal foi posta abaixo, tendo se tornado um estacionamento. Fábio ficou sobre a tutoria do padre Antonio. Anna e Augusta entraram para um convento distante da cidade, embora tenham reencontrado suas famílias, não conseguiam mais conviver em sociedade, tinham sonhos pavorosos. Já as meninas Belle e Fernanda foram adotadas por um bondoso casal da cidade Estevão e Esther, que dentro do possível, tentavam apagar as marcas dos maus tratos da alma e da mente das crianças, pois as do corpo suavizaram, mas, ficariam para sempre em sulcos finos em suas peles, como doloridas memórias de sadismo.

 

 

 

 

 

 

*** Imagem - Fonte - br.pinterest.com

 

 

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 02/10/2023
Código do texto: T7899560
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