Conto 07 - Mulher Preta
Conto 07 – Mulher Preta
Numa manhã inquietante, Jair acordou metamorfoseado em uma mulher preta – Ao levantar um pouco a cabeça, foi incapaz de acreditar no que via, percebendo que suas proporções físicas também haviam mudado.
Olhando para frente, se deparou com um espelho, e a visão de uma Deusa, lábios carnudos, olhos castanhos, cabelos crespos.
Quando abruptamente alguém abriu a porta com um ponta pé.
Um homem branco e gordo, como um mamute raivoso, adentrou o quarto a pegando pelo cabelo
Agora fraco e sem controlar o seu corpo tomado pelo terror, Jair se via indefeso.
- Ruth sua puta, vem aqui mamar o papai
Dizia o homem gordo
Ele tentou se levantar e reagir, e em uma fração de segundos, um soco em seu crânio o levou ao chão, o homem gordo o pegou pelos cabelos e enfiou sua boca em seu pau, que estava duro, sujo, e fedendo a urina.
– Tá na hora de foder a minha putinha
Disse o homem gordo de forma violenta e vulgar
Foi então que Jair teve uma epifania, aquele homem gordo, aquela camiseta que estampava a bandeira do Brasil, aquele era Kogos, seu melhor amigo.
A epifania o fez perceber que aquela mulher que outrora foi metamorfoseado, era apenas uma de suas vítimas.
Chocado com aquela situação, Jair foi tomado por uma sensação terrível de empatia.
Como se Deus ou o Diabo o tivesse punindo pelos seus atos.
Colocando o estuprador no corpo da vítima, o branco no corpo do preto, o fascista no corpo do oprimido.
Após algumas horas sendo estuprado, Jair foi deixado ali como um animal.
Em uma breve oportunidade, ele escapou, e saiu pelas ruas gritando por ajuda
E tudo que recebia eram olhares maliciosos para o seu corpo.
Então ele chegou desesperado em uma delegacia, contou tudo aos policiais. E como porcos fardados grunhiram em gargalhadas.
- Com uma roupa dessas, você esperava o que?
Diziam os policiais gargalhando.
Ninguém acreditava em seu discurso. Sozinha chorando, Jair andava sem rumo, ao passar em frente ao espelho de uma loja, Jair viu o reflexo de si mesmo, ou do que havia se metamorfoseado.
Uma mulher preta, em uma sociedade fascista e doente.
- Gerson de Rodrigues In Contos & Goétia