Conto 05 - A Sombra da Noite
Conto 5 – A Sombra da Noite
As madrugadas eram um campo de batalha invisível. Uma epidemia de suicídios assolava os corações atormentados, enquanto uma presença sinistra se movia sorrateiramente por quartos vazios e cheios de dor.
Dizia-se que um espírito sombrio, um emissário da melancolia, visitava os depressivos e amaldiçoados durante a noite, sussurrando suas mais sórdidas angústias
Suas palavras eram como facas afiadas, um estupro cristão, como se cada palavra sórdida na mente das almas doentes, fosse um prego no rabo de Cristo, enquanto este gritava pela penumbra da madrugada penetrando nas mentes inquietas e revelando a terrível verdade da existência humana tornando-se insuportável.
As ruas eram uma miríade de almas em agonia, escondendo a tristeza e o desespero atrás de sorrisos falsos, deuses de mentiras, amores temporários e políticas vazias.
A melancolia se alastrava como um incêndio descontrolado, consumindo a esperança e deixando apenas cinzas de desespero. A cada amanhecer, os corações partidos se acumulavam, testemunhas silenciosas da batalha travada em suas entranhas.
Imaginem que um manto negro, fosse colocado sobre as feridas de uma garota estuprada na infância. Ou até mesmo, ao enxugar as lágrimas de um coração partido, que foi traído por sua amada e jogado na sarjeta da solidão.
A dor, como um manto negro, envolveria cada persona, cada indivíduo submerso em seus traumas e dores.
As amarras da sociedade, as expectativas e as ilusões despedaçadas seriam retratadas como uma poesia sombria.
Os demônios internos dançariam em uma coreografia infernal, enquanto os protagonistas desta trágica realidade se debateriam com uma corda em seus pescoços.
E assim nasceu a epidemia suicida, durante madrugadas infernais e noites de insônia. Uma alma era seifada, pelas angústias da sua própria existência.
“Nos abismos sombrios da noite, a epidemia voraz dos corações destroçados desvendava a cruel verdade: A Depressão como um cântico macabro, é o destino inevitável dos que buscam significado em um universo indiferente e brutal.”
– Gerson De Rodrigues in Contos & Goétia